O homem dos meus sonhos deixou a esposa por mim, mas eu não imaginava no que isso se tornaria.

Eu o admirava desde os tempos da universidade, quando morava em um pequeno vilarejo perto de Segóvia. Era um amor cego e apaixonado — daquele tipo que te faz perder a cabeça e esquecer todo o resto. Quando ele finalmente notou minha presença, perdi o pouco de juízo que ainda me restava. Anos depois, nos reencontramos, e o destino nos colocou no mesmo escritório de advocacia. Mesma profissão, interesses em comum… Achei que não era coincidência, mas um sinal do destino — meu conto de fadas prestes a virar realidade.

Para mim, ele era o homem ideal, um sonho realizado. O fato de ele ter esposa não me incomodava naquela época; eu não entendia o que significava um casamento fracassado, nem o sofrimento que isso envolvia. Não senti vergonha quando Iván deixou a esposa para ficar comigo. Quem teria imaginado que essa escolha traria tanta dor? O ditado é verdadeiro: não se constrói a felicidade sobre a desgraça alheia.
Quando ele me escolheu, fiquei nas nuvens, disposta a perdoar tudo. Mas no cotidiano, ele não era nenhum príncipe encantado. Suas coisas ficavam espalhadas pelo apartamento, ele se recusava a lavar os pratos, e toda a responsabilidade da casa caiu sobre mim como um peso sufocante. Na época, escolhi ignorar, cega de amor e submissão.
Ele esqueceu o casamento anterior com facilidade, como se tivesse apagado da memória. Não tinham filhos e, segundo ele, a união tinha sido decisão dos pais dela. “Com você é diferente, você é o meu destino”, ele sussurrava, e eu derretia. Minha felicidade foi intensa, mas passageira — como um relâmpago. Tudo mudou quando descobri que estava grávida.
No início, Iván se encheu de alegria: um filho, seu filho! Fizemos uma grande festa, com amigos e familiares. Brindes, desejos de saúde e felicidade para o bebê — aquela noite ficou gravada na minha memória como um abrigo caloroso diante de uma escuridão iminente. Não me arrependo, mas a partir daquele dia, meu amor cego começou a se apagar, como uma vela ao vento.
Conforme a gravidez avançava, Iván passava cada vez menos tempo em casa. Entrei de licença maternidade e nossos encontros se limitaram a breves conversas noturnas. Ele dizia estar sempre no trabalho, em eventos corporativos. No começo, suportei. Depois, tornou-se insustentável. As tarefas domésticas viraram tortura: grávida, mal conseguia me mover, enquanto as roupas dele se espalhavam como lembretes silenciosos da minha ingenuidade. Perguntava-me se tínhamos apressado tudo com a chegada do bebê. Sabia que o amor esfria com o tempo, mas não esperava que ele evaporasse tão rápido.
Ele ainda trazia flores e bombons, mas não era isso que eu precisava. Queria sua presença, seu apoio, seu calor. Foi então que a verdade veio à tona. Durante um café com colegas, soube de uma nova funcionária no escritório — jovem e cheia de energia. A equipe já estava sobrecarregada, e minha ausência só piorava a situação. Coincidência? Não sabia se era ela, mas Iván, claramente, havia encontrado outra pessoa. Sua rotina virou uma sucessão de “trabalhos urgentes”, “reuniões” e “eventos”. Um dia, encontrei um bilhete com iniciais estranhas no bolso do paletó dele. Meu coração apertou, mas decidi me fazer de cega. O medo de ficar sozinha no sétimo mês de gravidez me paralisava.
Ele passou a dizer que eu estava “sempre nervosa”, e cada discussão terminava com um suspiro exausto, como se eu fosse um fardo. Evitava o assunto principal por medo do fim. E o fim chegou. As palavras mais cruéis que já ouvi: “Não estou pronto para ter filhos. Tenho outra pessoa.” Não lembro exatamente como ele disse, minha mente ficou em choque, o mundo desmoronou. Achei que enlouqueceria de tanta dor e humilhação.
Mas encontrei forças dentro de mim. Pedi o divórcio, mesmo que cada palavra do processo doesse como uma facada. Ele não esperava. Muito menos que eu o colocasse para fora no dia seguinte. Por sorte, o apartamento era alugado, então não precisávamos dividir nada.
— E o bebê? Pense no bebê! Como vai criá-lo? — foram suas últimas palavras.
— Eu vou me virar. Vou trabalhar de casa. E meus pais vão me ajudar. Minha mãe sempre disse que você era um mulherengo. Eu devia ter escutado — respondi, fechando a porta.
A responsabilidade pelo meu filho me deu uma força que eu nem sabia que tinha. Por ele, eu consegui. A traição de Iván foi tão baixa que o apaguei da minha vida como se nunca tivesse existido. Meus olhos se abriram. Enxerguei quem ele realmente era.
Os primeiros meses após o divórcio, incluindo o parto, foram um verdadeiro inferno. Voltei para a casa dos meus pais, num vilarejo próximo. Eles me acolheram de braços abertos, felizes com o neto. Sentia falta de Iván, mas afastava esses pensamentos. No fundo, sabia que tinha feito a escolha certa e que daria o melhor de mim ao meu filho.
Quando recuperei minhas forças, voltei ao trabalho — traduzia textos jurídicos de casa. Houve meses difíceis, sem renda, mas meus pais me sustentaram até que consegui montar uma clientela. Meu filho cresceu. Os anos passaram depressa. Percebi isso quando vi que ele precisava de seu próprio espaço. Meus pais não queriam que saíssemos, mas eu sonhava com independência: meu próprio escritório, um quarto para ele estudar. Naquela altura, eu já podia bancar um aluguel.
A vida se estabilizou. A creche veio, depois a escola, e entre o primeiro e o quinto ano, experimentei pela primeira vez em muito tempo a liberdade e a paz. Mas então… ele voltou.
Nosso vilarejo é pequeno, e no meio jurídico todos se conhecem. Iván encontrou meu escritório sem dificuldade. Como me arrependi de não ter ido mais longe! Disse que “já havia vivido o que tinha que viver”, que se arrependia, que era “jovem e imaturo”. Implorou para conhecer o filho — a quem nunca tinha sequer visto.
Por lei, ele tem direito às visitas. E se quiser, conseguirá. Mas só a ideia já me congela por dentro. Já se passaram semanas desde aquela conversa. Disse que pensaria a respeito, mas minha mente é um caos: não acredito nele, e não quero que ele se aproxime do meu filho. Será esse o meu castigo? O preço por ter tirado ele da primeira esposa? Estou seriamente considerando mudar de cidade para nos salvar desse passado que insiste em bater à porta.