HISTÓRIAS

Trinta Anos Juntos Sem Amor: Como Superar a Traição ao Descobrir a Mentira.

O que eu preciso é desabafar. Não para me queixar, mas para que alguém me ouça e me compreenda. Meus entes queridos não sabem de nada. Meus filhos e netos acreditam que tenho um casamento sólido, uma união perfeita com meu marido. Nunca tive amigas em quem confiasse a ponto de revelar algo assim — por medo das fofocas e por não ter forças para explicar… ou justificar.

Estou com Álvaro há mais de trinta anos. Nos conhecemos em 1989. Eu tinha 22 anos e ele, 25. Éramos jovens, sonhadores, cheios de esperança. Ele me parecia sério, confiável — alguém em quem eu poderia me apoiar e com quem construir uma vida. Nos casamos rapidamente, apesar da resistência dos meus pais. Mas eu insisti. Eu o amava.

O início foi difícil. Os anos 90 foram duros: dois filhos pequenos, pouco dinheiro. Ainda assim, resistimos. No começo dos anos 2000, a vida parecia tomar rumo: trabalho, estabilidade, nosso próprio apartamento. Não vivíamos com luxo, mas tínhamos o necessário, e nossos filhos estavam sempre bem cuidados.

Hoje temos três filhos adultos. Nossas duas filhas já têm suas famílias e nos deram netos. Nosso filho mais novo ainda não se casou, mas vive sozinho. Álvaro e eu estamos sozinhos em casa. Poderíamos estar aproveitando a paz, o silêncio, uma nova juventude. Mas, há alguns meses, tudo desabou.

Notei que Álvaro tinha mudado. Estava mais irritadiço, distante. Jantava em silêncio, passava horas no trabalho, não demonstrava interesse por mim nem pelos netos. Cheguei a suspeitar de outra mulher. Ou talvez problemas financeiros, dívidas, algo que ele não quisesse admitir. Mas o que descobri foi pior que qualquer traição.

Álvaro me pediu o divórcio.

Quando perguntei o motivo, ele me olhou e disse com frieza: “Nunca te amei. Casei por despeito. A mulher que eu amava se casou com um homem rico, e por raiva, pedi você em casamento. Depois ela se mudou para o exterior e eu me resignei. Mas recentemente ela faleceu, e percebi que nunca vivi minha própria vida.”

Eu não consegui acreditar. Ele falava com calma, como se comentasse sobre o tempo. Sem arrependimento. Sem compaixão. E eu apenas ouvia, com um pensamento martelando na mente: “Então tudo foi uma mentira? Todos esses anos, uma farsa?”

Ele confessou que continuou vendo essa mulher mesmo depois do casamento. Mais tarde, eles se afastaram — ela foi para a Europa com o marido. Tivemos filhos, e ele achava que isso era “o certo”, porque eu era “uma boa mãe e esposa confiável”. Agora que ela morreu, ele quer “viver para si” e exige vender o apartamento para comprarmos imóveis separados.

Como responder a isso?

A vida toda acreditei que éramos apenas diferentes. Que ele não era carinhoso — tudo bem. Que não dizia “eu te amo” — nem todos os homens são emotivos. Eu justificava. Tentava entender. Agora percebo que não era o jeito dele. Era indiferença. Estive ao lado dele como um móvel, uma rotina. Compartilhávamos o dia a dia, mas não a alma.

Tenho 56 anos. E me sinto traída no momento mais vulnerável da vida. Quando você já se entregou por completo — juventude, saúde, anos. E, em troca, recebe uma declaração indiferente: “Nunca te amei.”

O que mais me dói não é por mim. É pela mulher que eu poderia ter sido, se soubesse a verdade antes. Se não tivesse estado ao lado de alguém para quem tudo isso era irrelevante. Se não tivesse tido seus filhos, se não o tivesse esperado à noite, se não tivesse cozinhado seus pratos preferidos. E ele apenas suportou. Viveu ao meu lado porque era mais fácil. Tinha suas razões: “vingança”, “resignação”, “comodidade”. Mas será que isso justifica?

Eu não sei como viver agora. Descobri que vivi dentro de uma ilusão. Que nada foi real. Que o amor não é garantia de nada. Que você pode ser uma boa esposa, fiel, confiável, amorosa — e ainda assim se tornar descartável.

Mulheres, meninas, aquelas que já passaram por algo assim — me digam: como vocês superaram? Como se solta? Como se volta a respirar? Já não sou jovem. Só quero um pouco de paz. Um pouco de respeito. Um pouco de calor — não dele, não. Do mundo. De mim mesma.

Estou cansada de ser forte. Mas parece que não tenho outra escolha.

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