ELA EXIBIU UMA LOUSA COM SEU CONSELHO — MAS O QUE VEIO DEPOIS TOCOU FUNDO.

Na casa de repouso, o clima era de expectativa — chamavam aquilo de “Semana da Sabedoria”.
Cada residente recebeu uma lousa branca, um marcador e uma pergunta:
“Que conselho você daria à geração mais jovem?”
A maioria dos recados era encantadora. Direta e simples. Coisas como “Coma seus vegetais” ou “Case com seu melhor amigo.”
E então veio a Alice.

Com 94 anos, seguia lúcida e elegante como sempre — arrumava o próprio cabelo todas as manhãs e usava exatamente o mesmo tom de batom rosado. Com um sorriso orgulhoso, levantou sua plaquinha:
“Use um sorriso, e o mundo sorrirá de volta.”
A equipe se emocionou. Alguém tirou uma foto. Todos aplaudiram.
Mas assim que a foto foi tirada e a lousa abaixada, Alice se inclinou para mim e sussurrou:
— Essa não é toda a verdade, claro.
Olhei para ela.
Ela sorriu de novo — mas era outro tipo de sorriso. Menor. Mais triste.
— Às vezes o mundo sorri de volta — murmurou — e às vezes ele só observa… até você parar.
Fiquei sem palavras. Apenas assenti com a cabeça.
Então ela enfiou a mão no bolso do cardigã, tirou uma carta dobrada — com as bordas gastas, como se tivesse sido aberta centenas de vezes — e me entregou.
— Leia quando estiver sozinha — disse ela. — É da única pessoa que viu meu sorriso de verdade.
Mais tarde, já em meu pequeno apartamento iluminado por uma lâmpada fraca, desdobrei a carta com cuidado. O papel tinha um leve perfume de lavanda, lembrando Alice. A caligrafia, firme, em tinta azul, começava de forma direta:
Querida Alice,
Comecei a criar abelhas — você acreditaria nisso?
Parei por um instante, me perguntando se tinha entendido direito. Abelhas? Continuei lendo.
Sei o que você deve estar pensando: o que levaria alguém como eu a adotar um passatempo tão incomum? Talvez seja porque me faz lembrar de você. Sempre se movendo, espalhando doçura na vida de todos ao seu redor, mesmo que nem sempre percebam. Para ser honesto — você tem uma força que poucos reconhecem. Assim como essas criaturinhas.
O tom era leve e gentil, mas havia uma profundidade escondida sob as palavras. Continuei com o coração acelerado.
Alice, preciso te dizer algo importante. Desde o dia em que te conheci, te achei maravilhosa — não apenas pelo sorriso, que me cativou na hora, mas por tudo que você é. Sua risada, sua bondade, sua força teimosa. Tudo. Com o tempo, percebi que não era apenas o encanto… Eu me apaixonei por cada pedaço de você.
Meu coração disparou. Aquilo não era só um bilhete. Era uma confissão. Um amor declarado. Quem teria escrito algo tão verdadeiro para Alice?
A carta prosseguia:
Mas a verdade é que eu tive medo. Não de você. De mim mesmo. Tinha receio de não estar à sua altura. De te machucar sem querer. Em vez de me abrir, me calei. Te observei de longe, fingindo que só queria ser amigo. Fingindo que não precisava de mais.
Mas não posso mais fingir. Se ainda houver espaço, gostaria de tentar. Ver onde isso nos leva. Construir algo juntos. Algo verdadeiro.
Sem assinatura. Nenhum nome. Apenas uma observação rabiscada no canto inferior:
P.S.: Você se lembra daquele piquenique no lago, naquele verão? Quando você escorregou e caiu direto na água? Eu ri tanto que chorei. E você? Você se levantou, ensopada, e sorriu pra mim como se nada pudesse te abalar. Naquele instante, eu soube. Alice, você é indomável. Nunca se esqueça disso.
Fiquei olhando a carta por muito tempo depois de terminá-la. Quem era esse admirador? Alice sabia quem era? Ela o amava também? Essas perguntas dançavam na minha cabeça como folhas sopradas pelo vento.
Na manhã seguinte, voltei para ver Alice. Ela estava em seu lugar habitual, junto à janela, tricotando um cachecol que já parecia não ter fim. Ao me ver entrar, levantou os olhos e me lançou um olhar cheio de significado.
— E então? — perguntou, pousando as agulhas. — Leu a carta?
— Li, sim — respondi, puxando uma cadeira. — Mas… quem escreveu?
Alice fez uma pausa antes de responder. Levantou a xícara de chá, tomou um gole lento e a colocou de volta no pires. Suspirou.
— O nome dele era Walter — disse suavemente. — Trabalhava na biblioteca do centro. Nos conhecemos quando eu era voluntária lá, durante a guerra — organizando prateleiras, catalogando livros. Ele era recém-formado, perdido no sistema de arquivamento. Eu tive pena e o ajudei.
Ela sorriu, nostálgica.
— Viramos grandes amigos. Ele me trazia café nos intervalos e eu o provocava pelas lentes que viviam escorregando do nariz. Com o tempo… — sua voz sumiu, o olhar perdido pela janela — com o tempo, comecei a criar esperanças. Mas ele nunca disse nada.
— A carta foi enviada depois da guerra? — perguntei com delicadeza.
— Depois — confirmou. — Quando eu já tinha desistido. Achei que ele não sentia o mesmo. Mas um dia, de repente, ela chegou.
— E o que você fez? — insisti com gentileza.
Alice soltou uma risadinha melancólica.
— Entrei em pânico — confessou. — Fiquei sem saber o que dizer. Quando finalmente encontrei coragem para responder, já era tarde demais. Walter se alistou. Foi enviado para o exterior.
Ela parou, a voz tremendo levemente, antes de continuar.
— Ele morreu três meses depois. Nunca voltou para casa.
O silêncio tomou conta da sala, quebrado apenas pelo leve zumbido do aquecedor. Um nó se formou na minha garganta, e demorei a conseguir dizer qualquer coisa.
Por fim, perguntei:
— Por que você guardou a carta?
Alice inclinou a cabeça, pensativa.
— Porque ela me lembra duas coisas — respondeu. — Primeiro: que o amor — o verdadeiro — vale o risco. Mesmo que dê medo. E segundo… — fez uma pausa, respirou fundo — que mesmo quando o mundo não sorri de volta, ele ainda oferece momentos que merecem ser guardados. Como Walter.
Ao sair da casa de repouso naquela noite, levei comigo as palavras de Alice. Amor, coragem, resiliência — não eram apenas ideias. Eram parte de quem ela era. Sua luz não era apenas aparência: era uma armadura moldada por perdas e esperança. Mas dentro dela, havia um coração que nunca endureceu. Que escolheu permanecer aberto. Vivo.
Antes de ir pra casa, parei num pequeno parque. Sentei num banco e escrevi uma mensagem para um velho amigo — alguém que eu deixei escapar com o tempo. Alguém por quem eu ainda sentia algo, mas nunca tive coragem de dizer.
Enviei.
Pensei na lousa de Alice.
Talvez sorrir realmente ilumine o mundo — mesmo que ele não sorria de volta. Com cada esforço, cada risco, criamos ondas que tocam vidas além da nossa.
E talvez… isso seja o que realmente importa.
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