MEU PAI FALECIDO ME DEIXOU APENAS UM APIÁRIO, ENQUANTO MINHA IRMÃ FICOU COM A CASA E ME EXPULSOU — MAS UMA COLMEIA ESCONDIA UM SEGREDO QUE MUDOU TUDO.

Em um único dia, perdi tudo.
Meu emprego. Minha casa. E depois… meu pai.
Minha irmã fez questão de me mostrar o quanto eu “merecia pouco” durante a leitura do testamento.
Tudo o que me restou foi um apiário antigo — e um segredo inesperado.
A rotina era o que me mantinha de pé. Eu organizava prateleiras, sorria para os clientes e lembrava quem comprava qual cereal e quando ficavam sem leite.

Depois de cada expediente, somava meu pagamento e guardava um pouquinho toda semana — só porque parecia o certo a fazer.
Mas tudo desabou em um único dia, como um biscoito seco esmagado por dedos distraídos.
— Estamos fazendo cortes, Adele — disse meu gerente. — Sinto muito.
Fim. Sem discussão. Sem aviso.
Deixei meu crachá no balcão e saí.
Tentei ignorar o choque durante a caminhada até em casa, mas algo parecia estranho ao entrar no apartamento.
A porta estava entreaberta. Havia um cheiro diferente no ar.
E então vi Ethan. Meu namorado. De pé, atrás da minha mala, na sala.
— Ah, você chegou. Precisamos conversar.
Eu já esperava por isso.
— Pode falar.
Ethan estava visivelmente desconfortável.
— Adele, você é incrível. Mas acho que estou mudando. Você está parada no mesmo lugar.
Quase ri da ironia. Em menos de uma hora, eu tinha perdido meu emprego e minha casa. Eu estava mudando, sim — só não do jeito que ele esperava.
— Eu preciso de alguém que me desafie a ser melhor — disse ele.
Olhei pela janela.
Um carro parado, com o motor ligado.
Alguém o esperava.
Não discuti. Não implorei. Peguei minha mala e fui embora.
Meu celular tocou.
— Estamos ligando sobre o Sr. Howard. Lamentamos informar que ele faleceu.
Sr. Howard. Era assim que o chamavam. Para mim, ele era apenas meu pai.
E, de repente, eu sabia para onde ir.
O funeral foi discreto. Fiquei ao fundo, abalada demais para encarar o olhar duro da minha irmã adotiva, Synthia.
Depois, nos encontramos no escritório do advogado.
Não esperava nada. Talvez alguma lembrança antiga, alguma ferramenta de trabalho dele.
O advogado desenrolou o testamento.
— O último desejo do Sr. Howard é deixar sua casa, incluindo todos os bens, para sua filha biológica, Synthia Howard.
Synthia sorriu como se tivesse vencido uma competição silenciosa.
Mas o advogado continuou.
— Adele, a outra filha do Sr. Howard, receberá o apiário e tudo que ele contém.
Pisquei. — Como é?
— A propriedade apícola — repetiu o advogado. — Adele será dona do terreno, das colmeias e de toda a produção de mel, conforme desejo do Sr. Howard. Ela poderá viver na propriedade desde que continue administrando o apiário.
Synthia soltou uma risada seca.
— Você? Cuidar de abelhas? Nem uma suculenta sobrevive com você.
Minha voz tremia, mas eu respondi:
— Foi o que papai quis.
Ela cruzou os braços.
— Ótimo. Quer ficar? Fique com suas abelhas. Mas não pense em pisar na casa.
O medo me congelou.
— O quê?
— Adele, a casa é minha. Quer morar aqui? Aceite o que lhe foi dado.
— E onde você quer que eu durma?
Ela sorriu, devagar, com desprezo.
— O celeiro serve. Considere parte da sua nova vida no campo.
Eu poderia ter discutido. Poderia ter lutado.
Mas eu não tinha pra onde ir.
— Tudo bem.
Synthia deu uma gargalhada vitoriosa e pegou a bolsa.
— Espero que goste do cheiro de feno.
Naquela noite, dormi sobre palha, olhando para as vigas de madeira.
Eu não tinha nada.
Mas eu não iria embora.
Eu não desistiria.
Meu plano era lutar.
Com minhas últimas economias, montei uma barraca ao lado do celeiro.
Synthia me observava da varanda, tomando café, achando graça da situação.
— Isso é hilário — comentou. — Agora você quer bancar a camponesa durona?
Ignorei.
Usei uma velha grelha de ferro no celeiro para improvisar uma área de cozinha e comecei a trabalhar.
Naquela tarde, conheci Greg, o apicultor que trabalhou anos com meu pai.
Ele me olhou de cima a baixo e resmungou:
— Você vai cuidar das abelhas?
— Preciso aprender — respondi. — Pode me ensinar?
Ele sorriu, cético.
— Já esteve perto de uma colmeia?
— Ainda não. Mas quero aprender.
Cruzou os braços.
— E o que te faz pensar que vai aguentar?
Lembrei da risada de Synthia. De como ela sempre me ignorou.
— Porque eu não tenho outra escolha.
Greg me encarou e depois caiu na risada.
— Certo. Vamos ver do que você é feita.
Era mais difícil do que imaginei.
O zumbido de centenas de abelhas fazia meu corpo tremer.
Na primeira vez que vesti o macacão de proteção, minhas mãos tremiam tanto que Greg teve que prender as tiras por mim.
— Relaxa — ele disse. — Elas sentem o medo.
— Ótimo. Exatamente o que eu precisava.
Ele riu.
— Se comporta como presa, vai acabar picada.
Todos os dias, eu aprendia algo novo.
Como manusear os quadros. Inspecionar as colmeias. Identificar a rainha no meio de centenas de abelhas.
Nunca tinha me dedicado tanto a algo.
Até que, numa noite, quase perdi tudo.
Senti o cheiro antes de ver.
Fumaça.
Corri para as colmeias.
As chamas já lamberam os cantos do celeiro, avançando pelo capim seco em direção às abelhas.
Minha barraca já era.
Corri até o poço com um balde, mas—
— ADELE! VOLTA AQUI!
Greg.
Mal reconheci os agricultores, vizinhos e outras pessoas que vinham atrás dele.
Carregavam pás, baldes, sacos de terra.
Agiram sem hesitar.
Me protegeram das chamas.
Quando o fogo passou, as colmeias ainda estavam lá.
Minha barraca, não.
Mas algo havia mudado.
Greg limpou o rosto sujo de fuligem. Olhou para a casa, onde Synthia assistia tudo da sacada.
— Não acho seguro esse lugar pra você, garota. Recomendo que dê uma olhada nas colmeias o quanto antes.
Franzi a testa.
Fiz isso na manhã seguinte.
Foi quando encontrei a carta.
Escondida entre os favos de mel, dentro de um envelope amarelado.
“Para Adele.”
Só eu poderia encontrá-la onde meu pai havia deixado.
E dentro?
O testamento verdadeiro.
A casa sempre foi minha.
Mostrei o documento a Synthia naquela noite.
Ela leu em silêncio.
Pela primeira vez, ficou sem palavras.
— Você pode ficar — eu disse. — Vamos administrar isso juntas. Como uma família. Ou algo parecido.
Ela deu uma risada cansada e baixa.
— Tá bom. Mas eu não encosto nas abelhas.
— Combinado.
E, de repente, eu tinha vencido.