HISTÓRIAS

Nem no funeral o cão K9 quis sair do lado dele.

Eu não esperava chorar tanto. Não na frente de tantas pessoas. Mas quando Rex — o ex-parceiro K9 do meu tio — pulou sobre o caixão, algo dentro de mim se partiu.

O tio Mateo era um veterano de guerra, tão duro quanto possível. Depois de duas missões, ele voltou para casa com Rex, um pastor-alemão preto como carvão, que provavelmente salvou sua vida mais de uma vez. Desde então, eles se tornaram inseparáveis. Mesmo fora do exército, Rex continuou atuando por mais cinco anos em busca e resgate. Todos sabíamos que a morte do tio Mateo, por problemas cardíacos, abalaria profundamente Rex. Mas ninguém estava preparado para o que realmente aconteceu.

A cerimônia foi respeitosa e solene. Homenagens militares, entrega da bandeira — tudo conforme o protocolo. Eu estava ao lado da minha mãe, segurando sua mão tão forte que acho que deixei marcas. Quando o caixão foi colocado no lugar, alguém soltou Rex da caixa de transporte. Ele se aproximou devagar, cheirando o ar, como se não soubesse onde Mateo estava.

Então ele saltou. Direto sobre o caixão. Deitou-se em cima, com a cabeça encostada na bandeira dobrada, soltando um lamento profundo, doído. Sem latir. Sem rosnar. Um silêncio absoluto tomou conta do local. Em seguida, os sons começaram. Homens adultos chorando. Minha prima caiu de joelhos. Até o padre teve que parar.

E então — até hoje não sei por quê — Rex começou a arranhar o caixão, como se quisesse entrar.

O agente funerário correu para tirá-lo dali.

Mas eu me coloquei entre eles.

“Nem pense nisso,” falei.

Porque o que Rex fez em seguida mudou aquele dia — e, de muitas formas, mudou minha vida.

Ele me olhou com um pesar tão puro nos olhos que parecia implorar ajuda para encontrar meu tio. Rex não conseguia compreender a ausência de Mateo, mesmo com o caixão lacrado. Ele roçava o focinho na madeira, gemendo, como se esperasse uma resposta.

As pessoas começaram a se mexer, desconfortáveis. O agente funerário se aproximou e sussurrou:
“Precisamos continuar. Há um cronograma.”
Mas eu não podia deixá-los simplesmente afastar Rex. Não depois de tudo que ele significava para o meu tio. Era como tirar dele um último pedaço de Mateo.

Estendi a mão e disse:
“Deixem ele ter esse momento. Ele merece isso.”

E assim foi. O silêncio que se seguiu pareceu eterno. A guarda de honra, recém-saída da entrega da bandeira, baixou a cabeça. Um deles chorava. Só restavam Rex, o caixão, e o eco de todos os sacrifícios do meu tio.

Após quase um minuto, Rex desceu lentamente, com o rabo baixo. Mancando levemente — uma lembrança da bala que um dia levou pelo meu tio — veio até mim e encostou o focinho nos meus joelhos. Ajoelhei e acariciei sua cabeça. Seus ouvidos se ergueram como se se lembrasse de mim, das noites que passei na casa do meu tio.

O diretor suspirou aliviado. Mal ouvi o toque do trompete e a saudação final. Meu foco estava todo no coração de Rex pulsando sob minha mão.

A recepção após o enterro foi estranha. Todos contavam histórias do tio Mateo — como ele ensinou meu primo a andar de bicicleta, como fazia piadas, como nunca fugia de uma missão. Mas, enquanto eu circulava entre as conversas, meus olhos sempre voltavam para onde Rex estava sentado, quieto. Dona Castillo, uma vizinha, tentou lhe oferecer presunto, mas ele ignorou. Era como se vivesse em outro plano, ainda procurando pelo homem que jurou proteger.

Minha mãe se aproximou e colocou a mão no meu ombro.
“Você sabe que ele precisa de alguém,” sussurrou.

Eu entendi. Legalmente, Rex era do meu tio. E agora precisava de um novo lar. Pensei em sugerir a tia Cecília, mas quando a olhei, vi um rosto vazio de tanta dor. Ela não suportaria cuidar de um cão com tantas memórias. Os outros familiares não tinham tempo nem espaço. E meu primo tinha apenas dezesseis anos.

Foi aí que percebi: eu queria ser essa pessoa. O tio Mateo sempre me apoiou nos jogos de beisebol, sempre me lembrava que errar era aceitável, desde que eu me levantasse depois. E Rex? Ele era parte disso. Um símbolo do amor e do serviço do meu tio.

Assenti para minha mãe. Ela já sabia o que eu faria.

Dois dias depois, levei Rex para casa. Não foi só abrir a porta. Ele tinha uma rotina rígida: treinos de obediência, corridas diárias, acordar cedo com meu tio. Agora, parecia deprimido. Cheirava meu pequeno apartamento procurando pelas botas ou pelo casaco de Mateo. Passava as noites deitado ao lado da velha mochila do exército que eu mantinha no armário.

Após uma semana, fiquei preocupado. Rex quase não comia. O rabo não balançava. Me acompanhava até a cozinha, mas andava cabisbaixo, esperando por uma ordem que nunca viria.

Então decidi levá-lo de volta à propriedade do meu tio, um antigo sítio nos arredores da cidade. Com autorização da tia Cecília e alguns papéis assinados, tive acesso ao local. Para ela, era doloroso demais voltar.

Chegamos no fim da tarde. O sol dourava o quintal empoeirado. Quando paramos o carro, Rex ergueu as orelhas. No velho campo de treinamento, meu tio havia montado um circuito de obstáculos. Rex saiu do carro e foi até lá, farejando o chão. Ainda havia cones, rampas e um muro improvisado.

Fiquei parado, observando Rex se aproximar. Ele cheirou o rodapé do muro e me olhou como se dissesse:
“Vamos treinar ou não?”

Lembrei de todas as vezes que vi meu tio treinando com ele. Em vez de “ataque”, usavam uma palavra especial:
“Avanza.”
Avançar. Continuar. Não parar nunca.

Respirei fundo.
“Rex, avanza,” disse baixinho.

E ele foi. Surpreendentemente ágil, correu até o muro, pulou, contornou os cones. Quando voltou correndo para mim, o rabo finalmente balançava. Por quase uma hora, voltamos no tempo. Rex obedecia meus comandos simples com foco — o mesmo que tinha antes do funeral.

Correndo com ele, o suor escorrendo, desabamos juntos na parede do celeiro ao anoitecer. Pela primeira vez desde o enterro, Rex suspirou satisfeito ao encostar o focinho no meu ombro. Parecia ter feito as pazes com a ausência de Mateo. E, pela primeira vez, não estava sozinho.

Ali, percebi o quanto eu também precisava daquilo. Perder meu tio foi como perder uma parte de mim. Mas cuidar de Rex, honrar aquele vínculo, me trouxe propósito. O legado do meu tio não estava apenas na bandeira dobrada, nas histórias e medalhas. Estava no amor, na lealdade e na força de seguir mesmo com cicatrizes.

A vida encontrou um novo ritmo. Rex se adaptou ao apartamento. Não era o tipo de cão que pula no sofá abanando o rabo, mas se deitava ao meu lado quando eu tinha um dia difícil. E me incentivava a correr nos momentos certos. Algumas noites, eu o encontrava na janela, vigiando a rua, como se ainda estivesse em missão.

Meses depois, um velho amigo do meu tio, o tenente O’Dell, me ligou. Informou que um novo centro de treinamento K9 seria nomeado em homenagem ao tio Mateo. Pediram que eu e Rex comparecêssemos à cerimônia de inauguração. Achei que seria algo simples — uma placa. Mas virou um evento comunitário. Veteranos, colegas do meu tio, todos contando histórias sobre sua coragem, coração e dedicação.

Na minha vez de falar, minha voz falhou. Contei como meu tio encontrou Rex ferido, faminto, e o transformou em um legítimo K9. Enquanto falava, com a mão sobre o dorso de Rex, percebi que ainda estávamos nos curando — juntos.

A cerimônia terminou com aplausos e lágrimas. Um repórter local tirou fotos de Rex diante do centro recém-nomeado. Ele ficou tranquilo, gentil com as crianças que vinham acariciá-lo.

No caminho para casa, deixei os pensamentos vagarem.
“Avanza.”
Siga em frente. Não pare. Continue andando.

Era como se o espírito do meu tio sussurrasse isso no vento, nos lembrando que tudo ia ficar bem.

Naquela noite, dormi sem acordar no meio da madrugada. De manhã, tomei café com Rex. O sol entrava pela janela. Pela primeira vez em muito tempo, me senti esperançoso.

A perda nunca desaparece. Mas o amor — o amor que meu tio sentia por Rex, e o que Rex ainda sente por ele — permanece. E nos dá forças para seguir, mesmo nos dias de vazio.

Quero deixar isso com você: às vezes, os laços mais profundos são aqueles que nos ajudam a levantar depois da dor. Honramos quem veio antes de nós mantendo viva sua essência, sendo leais àqueles que caminham ao nosso lado — humanos ou cães — e nunca esquecendo de avançar.

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