HISTÓRIAS

A virada do jogo: Como ensinei uma lição de paternidade ao meu marido.

Cheguei em casa e encontrei meus filhos dormindo no corredor.

Após uma semana fora, voltei para casa e me deparei com a estranha e perturbadora imagem dos meus filhos dormindo no chão frio do corredor. Com o coração acelerado, procurei respostas — e descobri que meu marido não estava em lugar nenhum, mas havia ruídos vindos do quarto das crianças. O que vi a seguir me deixou furiosa… e pronta para brigar!

Eu havia viajado a trabalho por uma semana, e posso dizer que estava morrendo de saudade de casa. Meus meninos, Tommy e Alex, provavelmente não paravam de perguntar por mim.

Uma semana parece uma eternidade quando se tem 6 e 8 anos. E o Mark? Bem, imaginei que ele estivesse ansioso para me devolver as rédeas. Ele é um ótimo pai, não me leve a mal, mas sempre foi mais o “pai divertido” do que o responsável.

Quando cheguei na entrada da casa à meia-noite, não consegui evitar sorrir. Estava tudo escuro e silencioso, como deveria estar naquela hora.

Peguei minha mala e fui caminhando na ponta dos pés até a porta da frente, com as chaves tilintando na mão.

O trinco fez um clique ao abrir e entrei, pronta para cair na cama. Mas algo estava… errado.

Meu pé encostou em algo macio e eu congelei. O coração batia forte enquanto eu procurava o interruptor. Quando o corredor se iluminou, quase gritei.

Tommy e Alex estavam deitados no chão, enrolados em cobertores como dois filhotes. Dormiam profundamente, mas seus rostos estavam sujos e os cabelos todos bagunçados.

“O que diabos está acontecendo?”, sussurrei, com a mente a mil. Teve um incêndio? Um vazamento de gás? Por que eles não estavam em suas camas?

Passei por eles na ponta dos pés, com medo de acordá-los antes de entender o que estava acontecendo. A sala estava um caos: caixas de pizza, latas de refrigerante e algo que parecia sorvete derretido sobre a mesa. Mas nenhuma pista do Mark.

Meu coração batia enlouquecido enquanto eu seguia até o nosso quarto. Vazio.

A cama estava arrumada, como se ninguém tivesse dormido ali. O carro do Mark estava na garagem, então… onde ele estava?

Foi então que ouvi — um som abafado vindo do quarto das crianças. Me aproximei na ponta dos pés, com a imaginação a mil. Mark estaria ferido? Algum lunático invadiu e o amarrou?

Abri a porta devagar e…

“O que é isso?”, murmurei, mordendo a língua para não gritar — os meninos ainda estavam no corredor.

Lá estava Mark, com fones de ouvido, controle na mão, cercado por latas de energético e embalagens de salgadinhos. Mas o mais absurdo ainda estava por vir.

O quarto das crianças havia sido transformado num paraíso gamer. Uma TV enorme ocupava uma parede, luzes de LED por todo canto, e tenho certeza de que aquele trambolho no canto era uma mini geladeira.

Fiquei ali, de boca aberta, sentindo a raiva subir como um vulcão prestes a entrar em erupção. Mark nem havia notado minha presença, tão concentrado estava no jogo.

Me aproximei, arranquei os fones e gritei: “Mark! Que diabos está acontecendo?!”

Ele piscou, surpreso. “Ah, oi, amor. Já chegou?”

“Já cheguei?! É meia-noite! Por que nossos filhos estão dormindo no chão?!”

Ele deu de ombros e tentou voltar para o controle. “Ah, eles estavam se divertindo. Disseram que parecia uma aventura.”

Arranquei o controle da mão dele. “Aventura?! Eles não estão acampando, Mark! Estão dormindo no chão sujo do corredor!”

“Ah, não seja chata,” disse, tentando pegar o controle de volta. “Tá tudo bem. Eles comeram e tudo.”

“Comeram?! Você quer dizer pizza e sorvete? E o banho? E, sei lá, dormir nas próprias camas?”

Mark revirou os olhos. “Eles estão bem, Sarah. Relaxa.”

Foi aí que eu perdi a paciência.

“Relaxar? RELAXAR? Nossos filhos estão dormindo no chão como animais enquanto você joga videogame no quarto deles! O que tem de errado com você?!”

“Não tem nada de errado,” ele resmungou. “Só queria um pouco de tempo pra mim. Isso é tão horrível assim?”

Respirei fundo, tentando não gritar. “Sabe de uma coisa? Não vamos discutir agora. Vá colocar os meninos nas camas. Agora.”

“Mas eu tô no meio de—”

“AGORA, Mark!”

Ele bufou, mas se levantou e passou por mim.

Vi quando pegou Tommy no colo — ele se mexeu um pouco, mas não acordou. Enquanto Mark o levava, não pude deixar de notar como eles pareciam: um era uma criança de verdade e o outro agia como uma.

Peguei Alex nos braços, e meu coração se partiu um pouco ao ver seu rostinho sujo. Enquanto o acomodava na cama, tomei uma decisão. Se Mark queria agir como criança… eu trataria ele como uma.

Na manhã seguinte, coloquei meu plano em prática.

Enquanto ele tomava banho, entrei sorrateira no “esconderijo gamer” e desliguei tudo. Depois, fui preparar o ambiente.

Quando desceu com o cabelo molhado, eu o esperava com um sorriso enorme. “Bom dia, querido! Preparei seu café da manhã!”

Ele me olhou desconfiado. “Hã, obrigado?”

Coloquei o prato à frente dele. Um panqueca em formato de Mickey Mouse, com carinha feliz de frutas. O café, num copinho infantil com tampa.

“O que é isso?” ele perguntou, cutucando a panqueca.

“É o seu café, bobinho! Come logo que temos um dia cheio!”

Depois do café, mostrei minha obra-prima: um grande quadro colorido de tarefas colado na geladeira. “Olha só o que preparei pra você!”

Os olhos dele se arregalaram. “O que é isso, meu Deus?”

“Linguagem!”, corrigi. “É seu quadro de tarefas! Olha só: você pode ganhar estrelinhas por arrumar o quarto, lavar a louça, guardar seus brinquedinhos…”

“Meus brinquedos? Sarah, o que você tá…?”

Interrompi. “Ah, e temos uma nova regra na casa: todas as telas desligadas às 21h. Isso inclui seu celular, mocinho!”

A cara de Mark mudou de confusa pra irritada. “Você só pode estar brincando. Eu sou um homem adulto, não preciso—”

“Ah, ah, ah!”, balancei o dedo. “Sem discussão ou vai pro cantinho da vergonha!”

Durante a semana seguinte, mantive firme o plano. Toda noite às 21h, o Wi-Fi era cortado e o console, desligado.

Inclusive, o cobria com um copo de leite e lia “Boa Noite, Lua” com minha voz mais doce.

Suas refeições vinham em pratinhos infantis com divisórias. Cortava os sanduíches em formato de dinossauro e servia biscoitos de bichinho no lanche. Quando reclamava, eu dizia: “Use as palavras, querido. Crianças grandes não reclamam.”

O quadro de tarefas virou o maior ponto de tensão. Toda vez que ele fazia algo, eu fazia questão de colar uma estrelinha.

“Olha só, guardou sua roupinha sozinho! Mamãe tá tão orgulhosa!”

O ponto de ruptura chegou cerca de uma semana depois. Mark tinha acabado de ir pro cantinho da vergonha por berrar sobre o limite de duas horas de tela. Estava lá, emburrado, enquanto eu ajustava o temporizador da cozinha.

“Isso é ridículo!” explodiu. “Sou um homem adulto, pelo amor de Deus!”

Levantei a sobrancelha. “Ah, é? Tem certeza? Porque homens adultos não fazem os filhos dormirem no chão pra jogar videogame a noite toda.”

Ele murchou. “Tá bom, tá bom! Já entendi! Me desculpa!”

Observei por um momento. Ele parecia mesmo arrependido — mas eu ainda tinha uma última carta na manga.

“Oh, eu aceito seu pedido de desculpas,” disse docemente. “Mas… já liguei pra sua mãe.”

Bem na hora, bateram na porta. Abri, e ali estava Linda, com a cara clássica de mãe desapontada.

“Mark!”, ela gritou entrando. “Você fez meus netinhos dormirem no chão pra jogar joguinho?”

Mark queria sumir. “Mãe, não é bem assim… quer dizer, não…”

Ela se virou pra mim, o rosto suavizando. “Sarah, querida, sinto muito que tenha passado por isso. Achei que tinha criado ele melhor.”

Dei um tapinha no braço dela. “Não é culpa sua, Linda. Tem menino que demora mais pra amadurecer.”

A cara do Mark estava vermelha como um tomate. “Mãe, por favor! Eu tenho 35 anos!”

Linda o ignorou e disse: “Não se preocupe. Desmarquei tudo pra semana. Vou botar esse menino na linha rapidinho!”

Enquanto ela murmurava sobre a bagunça na cozinha, cruzei o olhar com Mark. Ele parecia completamente derrotado.

“Sarah,” disse baixinho. “Me desculpa mesmo. Fui egoísta e irresponsável. Não vai acontecer de novo.”

Acalmei um pouco. “Eu sei, amor. Mas quando eu não estiver aqui, preciso confiar que você vai segurar as pontas. Os meninos precisam de um pai, não de outro colega de brincadeira.”

Ele assentiu, envergonhado. “Você tem razão. Vou melhorar, prometo.”

Sorri e dei um beijo rápido. “Eu sei que vai. Agora vai ajudar sua mãe com a louça. Se fizer direitinho, talvez tenha sorvete de sobremesa.”

Enquanto Mark ia para a cozinha cabisbaixo, não pude evitar me sentir um pouco satisfeita. Lição aprendida… assim espero. E se não, o cantinho da vergonha ainda está lá, prontinho.

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