Mudança de Jogo: Como Ensinei uma Lição de Paternidade ao Meu Marido.

Depois de uma semana fora a trabalho, tudo o que eu queria era voltar para casa, abraçar meus filhos e desabar na minha cama. Mas nada poderia me preparar para a cena que encontrei assim que entrei pela porta.
Era meia-noite quando cheguei. A casa estava silenciosa e escura, como deveria estar. Abri a porta com cuidado, puxando minha mala atrás de mim. Mas assim que entrei, algo macio tocou meu pé. Acendi a luz do corredor e meu coração quase parou: Tommy e Alex estavam dormindo no chão gelado e sujo do corredor, enrolados em cobertores como dois filhotes.
— O que diabos…? — sussurrei, o coração acelerado. Será que houve um incêndio? Um vazamento de gás? Onde estava o Mark?
Passei por eles em silêncio, temendo acordá-los sem entender o que estava acontecendo. A sala estava um caos: caixas de pizza, latas de refrigerante e uma poça suspeita de sorvete derretido em cima da mesa. E Mark? Nada.
Subi para o nosso quarto. A cama estava intacta, como se ninguém tivesse dormido nela. O carro de Mark estava na garagem, então… onde ele estava?
Foi então que ouvi um barulho abafado vindo do quarto dos meninos. Abri a porta com cautela e… meu Deus.
Mark estava ali, de fones no ouvido, controle na mão, cercado de latas de energético e pacotes de salgadinhos. Acredite: a antiga “quarto dos meninos” tinha sido transformada em uma verdadeira caverna gamer — TV gigante, luzes de LED por toda parte e, sim, um frigobar no canto.
Minha raiva subiu como lava prestes a explodir.
Arranquei os fones dele e gritei:
— Mark! O que está acontecendo aqui?!
Ele piscou, confuso.
— Ah, oi, amor. Já chegou?
— Já cheguei?! É MEIA-NOITE! Nossos filhos estão DORMINDO NO CHÃO!

Ele deu de ombros.
— Eles estavam se divertindo. Fizeram disso uma aventura…
— Aventura?! Eles não estão acampando, Mark! Eles estão no chão sujo do corredor!
— Ah, para com isso. Eu cuidei deles, alimentei direitinho…
— Você quer dizer pizza e sorvete? E os banhos? E AS CAMAS DELES?!
Ele revirou os olhos.
— Eles estão bem, Sarah. Relaxa um pouco.
E foi aí que perdi completamente a paciência.
— RELAXAR? Eles estão dormindo como animais enquanto você joga videogame na sala deles! Você enlouqueceu?!
— Eu só queria um tempo pra mim! É tão errado assim?
Respirei fundo e disse:
— Não vamos discutir isso agora. Coloque os meninos na cama. Agora.
— Mas eu tô no meio de uma partida…
— AGORA, MARK!
Ele bufou, mas obedeceu. Pegou Tommy nos braços enquanto eu pegava Alex. E sabe o que pensei vendo aquela cena? Parece que eu tenho dois filhos… e um deles tem trinta e poucos anos.
Plano em Ação
Na manhã seguinte, entrei no “quarto gamer” enquanto Mark tomava banho, e desliguei tudo. Fios, console, TV, tudo.
Desci e preparei o café da manhã.
Quando ele apareceu, com o cabelo ainda molhado, o recebi com um sorrisão:
— Bom dia, querido! Fiz café da manhã pra você!
— Hm… obrigado?
Coloquei na frente dele um prato com uma panqueca em formato de Mickey Mouse e uma carinha feliz feita com frutas. O café? Num copo infantil com tampa.
— O que é isso?
— Seu café da manhã, bobinho! Temos um grande dia pela frente!
Depois, mostrei minha obra-prima: um quadro de tarefas colado na geladeira, com adesivos dourados de estrelinha.
— Fiz isso pra você! Vai ganhar uma estrelinha sempre que guardar seus brinquedinhos ou arrumar sua caminha!
— Sarah, o que você está fazendo?
— E atenção! Nova regra da casa: todas as telas desligadas às 21h. Isso inclui seu celular, mocinho!
Ele ficou vermelho.
— Você só pode estar brincando. Eu sou um adulto!
— Hm… se você diz. Mas crianças grandes não reclamam. Vão pro cantinho da disciplina.
Uma Semana de Reeducação
Durante toda a semana, fui firme.
Às 21h, Wi-Fi desligado, videogame fora da tomada.
Servia as refeições em pratos infantis. Cortava sanduíches em formato de dinossauro. Quando ele reclamava, respondia:
— Use suas palavrinhas, querido. Chorar não resolve.
O quadro de tarefas se tornou uma batalha à parte.
— Olha que orgulho! Guardou as meias SOZINHO! Toma uma estrelinha!
O ponto final chegou quando ele, furioso por ter perdido o “tempo de tela”, foi mandado para o “cantinho da vergonha”.
— Isso é ridículo! Eu sou um homem adulto!
Levantei uma sobrancelha.
— Tem certeza? Porque homens adultos não deixam os filhos dormirem no chão pra jogar videogame a noite inteira.
Ele suspirou.
— Ok, ok! Já entendi! Me desculpa!
Eu o encarei por alguns segundos. Ele parecia sincero… mas eu ainda tinha uma última carta na manga.
— Ah, eu aceito suas desculpas — sorri. — Mas já liguei pra sua mãe.
Nesse momento, bateram na porta.
Era a Linda, mãe do Mark, com cara de mãe decepcionada.
— MARK! Fez meus netos dormirem no chão pra jogar joguinho?
— Mãe, não é bem assim, eu…
Ela virou-se pra mim, doce:
— Sarah, querida, sinto muito. Achei que tinha criado um homem melhor.
— Não se culpe, Linda. Tem meninos que demoram mais pra amadurecer.
Mark parecia querer desaparecer.
— Mãe, por favor! Eu tenho 35 anos!
— E eu tirei a semana livre. Vamos dar um jeito nisso rapidinho.
Lição Aprendida
Enquanto Linda entrava resmungando sobre os pratos sujos, Mark me olhou com sinceridade.
— Sarah… de verdade, me desculpa. Fui egoísta. Não vai mais acontecer.
Suspirei, mais suave.
— Eu sei. Mas quando eu não estou, você precisa ser pai. Eles precisam de um adulto, não de mais um amigo.
— Eu sei. Prometo que vou melhorar.
Sorri e dei um beijo rápido.
— Então vai ajudar sua mãe com a louça. Se fizer bem, talvez tenha sorvete de sobremesa.
Enquanto ele se arrastava pra cozinha, não pude deixar de me sentir… vitoriosa.
Lição dada. Lição aprendida.
E se não tiver sido?
Bem… o cantinho da vergonha ainda está pronto.