Na velhice, os filhos se lembraram de que tinham mãe – mas eu nunca vou esquecer como me trataram.

Durante muitos anos, vivi como se estivesse esquecida pelo mundo. Meu nome é Helena e, aos 72 anos, carrego mais do que rugas no rosto — carrego a memória de tudo o que suportei calada.
Tudo começou quando meu marido decidiu me trocar por outra mulher, bem mais jovem. Nossos filhos, já adultos, ficaram do lado dele. Afinal, ele era um homem influente, diretor de uma grande empresa, sempre elogiado em público. Eu? Fui deixada de lado, como um fardo inconveniente.
Eles sequer me procuraram. Durante anos, vivi sozinha em meu pequeno apartamento, ouvindo por conhecidos que meu ex-marido e os filhos viajavam juntos, frequentavam bons restaurantes e pareciam ser uma família feliz — só que sem mim. Cada notícia dessas era como uma ferida nova, reabrindo antigas dores.
Foi então que tomei uma decisão: se ninguém olharia por mim, eu olharia. Fui trabalhar no exterior, mesmo já tendo mais de 50 anos. Pela primeira vez em muito tempo, senti liberdade. Trabalhei duro, juntei dinheiro, reformei meu lar e construí uma velhice digna.
Enquanto isso, os filhos seguiram a vida. Casaram-se, tiveram filhos, festas, conquistas. Eu continuava esquecida. Mas a vida muda — e mudou.
Anos depois, recebi a notícia da morte do meu ex-marido. Infarto. O que mais me surpreendeu foi descobrir que ele havia deixado toda a herança para a jovem esposa. Meus filhos, que esperavam fortuna, ficaram sem nada.
E então… lembraram que eu existia.
Começaram a me visitar. Trazem frutas, doces, sorrisos e palavras suaves. Mas eu conheço bem aqueles olhares. Recentemente, minha filha começou a falar com meias palavras sobre futuro, sobre testamento.
Dias depois, minha neta veio com uma proposta:
— Vovó, o apartamento é tão grande, você não se sente sozinha? Talvez eu e meu marido pudéssemos nos mudar pra cá, pra te fazer companhia… e a gente economiza o aluguel, né?
Sorri.
— Quem disse que não vão pagar? Posso oferecer um bom desconto no aluguel — respondi calmamente.
Ela ficou sem reação. Esperava que eu abrisse as portas e dissesse: “fiquem com tudo”. Mas o que eles não sabem é que o meu testamento já está feito há anos.
Deixei claro que meu apartamento será vendido após minha morte, e o dinheiro destinado a um fundo para ajudar crianças doentes. Quando minha filha soube, me chamou de injusta. Disse que eu estava tirando o futuro dos netos. Meu filho apareceu tentando “oferecer ajuda”, mas sei bem: não é amor, é interesse.
Hoje, estou saudável, lúcida e tranquila. Não carrego mágoas, mas também não esqueci. Depois de tudo o que vivi, fiz minha escolha.
E você? No meu lugar, deixaria sua neta morar de graça no seu apartamento?