Fui à minha primeira sessão de terapia, e as primeiras palavras da minha terapeuta me deixaram paralisada de raiva.

Meu nome é Sarah. Nunca fui o tipo de pessoa que compartilha seus problemas com os outros. Sempre guardei tudo dentro de mim — emoções engarrafadas, sentimentos reprimidos — até que começaram a me sufocar.
A ansiedade, os ataques de pânico, a sensação constante de estar presa na própria mente… tudo isso me consumia. Finalmente, decidi procurar ajuda.
Depois de muita pesquisa, marquei minha primeira sessão com a Dra. Amelia Brooks. As recomendações eram ótimas: diziam que ela era empática, acolhedora e sabia ouvir. Eu esperava que fosse o início da minha virada.
O consultório ficava em uma rua tranquila e era fácil de encontrar. O prédio transmitia calma e neutralidade — uma promessa silenciosa de paz. A recepcionista me recebeu com um sorriso, entregou alguns formulários e me indicou a sala de espera. Era um ambiente acolhedor, com cadeiras confortáveis, revistas organizadas e uma música suave ao fundo. Ainda assim, eu estava nervosa.
Após o que pareceu uma eternidade, a Dra. Brooks surgiu, sorridente.
— Sarah? — chamou.
Assenti timidamente, e ela me convidou para entrar em seu escritório.
O espaço era confortável, com paredes bege, plantas discretas nos cantos e iluminação aconchegante. Duas poltronas preenchiam a sala: uma para ela, outra para mim. Sentei-me devagar, tentando relaxar.
Ela começou perguntando sobre minha história, minhas dificuldades, e o que me motivara a buscar terapia. Falei um pouco da minha ansiedade, dos desafios no trabalho, dos relacionamentos e da minha sensação de estar perdida.
Até então, tudo parecia como deveria ser. Um espaço seguro.
Mas então, algo mudou.
Para aquela primeira sessão, escolhi um look ousado. Não sabia exatamente o que esperar da terapia, mas queria me sentir forte, confiante — no controle. Usei uma blusa vermelha justa com um decote em V, combinada com uma saia de couro preta, logo acima dos joelhos. Me senti bem, bonita, empoderada.
Enquanto eu falava, percebi que a Dra. Brooks desviava o olhar do meu rosto para minha roupa… depois, lentamente, para minhas pernas.
Fiquei confusa. Era um olhar fixo, avaliativo.
— Então… essa é uma escolha interessante de roupa — disse ela, com um tom neutro, mas carregado de julgamento.
Aquilo não foi um elogio. Nem um comentário profissional. Foi uma crítica disfarçada.
Fiquei paralisada.
— Com licença? — perguntei, incrédula.
Ela levantou uma sobrancelha.
— Bem, é só um pouco… distrativa, você não acha? Para uma sessão de terapia? Talvez devesse reconsiderar se vestir de forma tão… provocante, especialmente se está aqui para lidar com questões emocionais profundas. Isso não transmite exatamente a mensagem certa.
Senti o rosto queimar.
Aquilo me atingiu com força.
Eu tinha escolhido aquele look para me sentir segura. E ali estava ela, minha terapeuta, me diminuindo por isso.
— O que minha roupa tem a ver com o que estou sentindo? — retruquei, com a voz trêmula, mas firme. — Estou aqui para falar sobre meus problemas, não para ser julgada pelo que visto.
Ela sorriu de leve, como se achasse que estava sendo sensata.
— Estou apenas sendo honesta. Você está aqui para cuidar da sua saúde mental. Se vestir assim… transmite mensagens contraditórias. Não dá para esperar ser levada a sério se você mesma não se leva.
Meu peito apertou. A sala parecia encolher à minha volta.
As palavras dela doíam. Como se, em vez de me acolher, ela quisesse me envergonhar.
As lágrimas ameaçavam surgir, mas eu me recusei a chorar. Não na frente dela. Não por algo tão mesquinho — e ainda assim, tão cruel.
Levantei-me de repente.
— Não preciso disso — disse. — Não vim aqui para ser julgada. Vim para ser ouvida.
Ela pareceu surpresa.
— Sarah, você está exagerando. Estou apenas sendo honesta. Talvez devesse pensar no que está projetando.
Eu balancei a cabeça. Não conseguia conter as lágrimas.
— Já basta. Vim buscar ajuda, e tudo o que recebi foi crítica. Não vou voltar.
Peguei minha bolsa e saí sem olhar para trás. A recepcionista me observou, mas eu não parei.
Do lado de fora, respirei fundo. O ar fresco me trouxe um pouco de alívio, mas o peso das palavras da Dra. Brooks ainda me pressionava o peito.
O que doía mais? O julgamento… ou a sensação de ter sido silenciada por tentar ser eu mesma?
Usei aquela roupa para me sentir confiante. Para encarar meus medos. Mas ela me fez sentir vergonha do meu corpo, da minha escolha, da minha voz.
Fiquei alguns minutos parada na calçada, tentando me recompor.
Não sabia se sentia mais raiva ou tristeza. Mas uma coisa era certa: eu nunca mais voltaria àquele consultório.
A Dra. Brooks não se importava comigo de verdade. Ela não via quem eu era. Só via o que eu estava vestindo.
Prometi a mim mesma que encontraria uma terapeuta diferente. Uma que entendesse que eu sou mais do que a aparência.
Alguém que me ajudasse a enfrentar meus fantasmas — sem me envergonhar por ser quem eu sou.
Porque no fim das contas, não era sobre roupas. Era sobre respeito, empatia e o direito de ser acolhida sem julgamento.
Eu merecia ser ouvida. E não ia deixar que ninguém me fizesse sentir o contrário.