Fui Adotada Há 25 Anos — No Mês Passado, Meu Pai Biológico Bateu à Minha Porta Exigindo 50% de Tudo o Que Eu Tenho

O homem à minha porta tinha um sorriso torto e olhos frios. Seu olhar era cortante, e sua presença, incômoda. Mas ele não tentou vender nada nem pediu instruções. O que disse em seguida gelou meu sangue. E então, fez uma exigência que mudou completamente o rumo da minha vida.
Eu tinha acabado de colocar nosso filho de quatro anos para dormir e fui atender à porta, enxugando as mãos num pano de prato. Mas a pessoa que vi quando abri foi mais perturbadora do que eu esperava.
Era um homem que parecia ter enfrentado a vida com os punhos e, pela aparência, ter perdido a maioria das lutas. Seu rosto era marcado, endurecido pelo tempo.
Ele me encarou e então abriu um sorriso cínico.
— Emily — disse, com uma voz áspera e presunçosa. — Sou eu. Seu pai.
Pisquei, achando por um instante que tinha entendido errado.
— Desculpa… o quê?
Ele se apoiou casualmente na soleira da porta, saboreando minha confusão.
— Seu pai — repetiu, mais alto. — Não me reconhece?
— Não — respondi seca, segurando firme a maçaneta. — Não reconheço.
Meu pai biológico era uma sombra, uma parte dolorosa do meu passado que eu me esforcei muito para deixar para trás. E agora ele estava ali: arrogante, indesejado, em pé na minha varanda.
— Tudo bem — disse ele, dando de ombros. — Não vim aqui para conversas amigáveis. Vim buscar o que é meu.
Meu estômago afundou.
— Do que você está falando?
— Da metade — respondeu ele. — Da sua vida. Quero 50%.
— Ouvi dizer que você está muito bem. Casa bonita, carro, marido, filho… — seus olhos desceram para a aliança brilhando em minha mão. — Achei que estava na hora de dividir essa riqueza… com o homem que tornou tudo isso possível.
Fiquei atônita.
— Perdão?
— Ah, não se faça de boba — disse ele, se encostando com arrogância no batente. — Se não fosse por mim, você não estaria aqui. Foi graças a mim que você foi adotada por aquela família rica. Eu te dei essa chance ao abrir mão de você. E agora chegou a hora de retribuir. Quero 50% de tudo que você tem. Aliás, gostei dessa mansão.
As palavras dele me atingiram como um tapa.
Cruzei os braços, tentando manter a calma.
— Você me abandonou. Sabe o que foi isso pra mim? Tem ideia do que eu vivi?
Ele me interrompeu com um gesto de desdém.
— Poupe-me do drama. O que importa é que agora você está bem. E de nada.
— Você é louco — retruquei, a voz trêmula. — Não pode simplesmente aparecer depois de 25 anos e exigir alguma coisa.
Nesse momento, meu marido, Daniel, entrou no hall com a postura calma de quem não tolera abusos.
A presença dele fez o “valentão” vacilar. O sorriso desapareceu, dando lugar a um lampejo de insegurança.
— Quem é esse? — perguntou Daniel, com tom firme e protetor.
— Meu pai biológico — respondi, com as palavras amargas na boca. — Pelo visto, ele acha que tem direito à metade de tudo que eu tenho porque “me deixou ir”.
— Você tem muita coragem de aparecer aqui com esse tipo de exigência — disse Daniel, a voz baixa, cortante.
Meu “pai” estufou o peito, tentando recuperar a pose.
— Não é absurdo. Sem mim, ela não teria tido a chance…
— Chance? — cortou Daniel, dando um passo à frente.
— Sem você, ela não teria passado por tudo que passou. Ela não foi adotada por nenhuma família rica. Foi jogada no sistema de adoção e passou de uma casa ruim para outra pior. Uma das famílias a fazia limpar o chão quando ela mal alcançava o cabo do esfregão. Ela fugiu aos dezesseis anos com apenas a roupa do corpo. Essa é a chance que você deu a ela.
O homem piscou, sem palavras.
— E ela não reconstruiu a vida sozinha — continuou Daniel, com firmeza. — Nós nos conhecemos naquele mesmo orfanato, depois que meus pais também me abandonaram. Éramos apenas crianças, mas fizemos uma promessa: sobreviver, construir a vida que merecíamos, e um dia nos reencontrar. E conseguimos. Cada centavo que temos, cada tijolo desta casa, cada pedaço da nossa felicidade — nós conquistamos. Você não deu a ela nada além de cicatrizes.
Daniel se aproximou mais, a voz baixa e ameaçadora.
— Nem apoio, nem amor, muito menos algum direito. Você não vai reescrever a história. Ela é melhor sem você. Agora saia da minha casa antes que eu chame a polícia.
Daniel esperou o homem se afastar até sumir rua abaixo, antes de fechar a porta.
O silêncio que se seguiu foi esmagador. Quando ele se virou para mim, as lágrimas já escorriam. Ele me envolveu nos braços, me conduzindo para dentro.
— Você é a pessoa mais forte que eu conheço — murmurou, agora com a voz suave. — Ele não merece um segundo da sua energia. Você construiu essa vida. Nós construímos essa vida.
Assenti contra o peito dele, sentindo o peso daquele reencontro se dissolver aos poucos.
— Você tem razão — sussurrei. — Eu não devo nada a ele.
Daniel se afastou só o suficiente para olhar nos meus olhos, com um leve e determinado sorriso.
— Isso porque tudo o que você é, foi você quem conquistou. E ninguém — especialmente ele — tem o direito de tirar isso de você.