HISTÓRIAS

Toda Semana, um Idoso Enviava Cartas do Asilo — Até que Descobri que o Destinatário Era Parte da Minha Própria História

Trabalhava em um asilo há cinco anos.
Nunca foi glamouroso, mas sempre amei o que fazia. Havia algo de profundo em conviver com pessoas cujas vidas atravessaram décadas.

Jogávamos xadrez, cantarolávamos músicas dos anos 50 e às vezes fazíamos piqueniques no jardim, com cobertores antigos e copos de limonada.

Mas um morador sempre se destacava: Eliot.
Apenas Eliot. Nada de “senhor”. Ele deixava isso bem claro.

— Me chamar de “senhor” de novo e vou começar a cobrar aluguel por cada sílaba — disse uma vez.

Nos demos bem desde o começo.
Ele tinha uma língua afiada e um humor seco.

— Meias azuis hoje, Jane? — comentou certa manhã. — É assim que começam as maldições.

Mas por trás das piadas, havia solidão.
Eliot nunca recebia visitas. Nunca.

Ao longo dos anos, perguntei com delicadeza, sem forçar.

— Sem família?

— Nunca tive — respondeu sem rodeios.

— E velhos amigos?

Ele deu uma risada vazia.

— Os amigos somem um a um. Depois todos de uma vez, quando você deixa de ser conveniente.

Mas o que mais me marcava não era a solidão dele — eram as cartas.

Todos os sábados, pontualmente às nove, Eliot se sentava à mesa e escrevia.
Silenciosamente, com cuidado, letra a letra.
Depois selava o envelope, escrevia algo na frente e deixava na janela.

— Me lembra de levar ao correio depois — dizia. — Preciso fazer isso eu mesmo.

— Eu posso levar para você — ofereci mais de uma vez.

— Não. Por favor, não insista.

E eu respeitava.
Mas a curiosidade é do tipo que cresce em silêncio, e Eliot nunca recebia resposta.
Num sábado, depois que ele saiu do quarto, não resisti.

Com as mãos trêmulas, troquei o envelope por um em branco.

O original dizia:
“Para E.H. Para sempre seu amigo, Eliot.”

Havia um endereço — uma cidade a uns 90 minutos dali.
As iniciais E.H. me pareceram estranhamente familiares.
Não consegui parar de pensar naquilo.
A carta pesava no meu bolso o dia todo.

No fim de semana, decidi:
Peguei o envelope, coloquei na bolsa e saí mais cedo, com o coração disparado.

Dirigi com as janelas abertas, o vento bagunçando o cabelo, relendo o endereço a cada farol.

Quando finalmente parei em frente à casa, os nervos estavam à flor da pele.
Um homem atendeu à porta.

— Oi — disse, sem saber como começar. — Pode parecer estranho, mas trabalho em um asilo, e um dos nossos moradores envia cartas para este endereço há anos.

O homem ergueu a sobrancelha e chamou por alguém:

— Marlene, vem ouvir isso.

Uma mulher surgiu com uma tigela de massa de biscoito nas mãos.
Entreguei o envelope. Eles olharam, depois se entreolharam.

— Essa mulher se mudou há décadas — disse o homem. — Ela vendeu a casa para nossos pais.

— Sempre ficamos curiosos com essas cartas — disse a mulher. — Nunca joguei fora. Pareciam… importantes.

Ela voltou com uma caixa de sapatos cheia de envelopes — todos escritos à mão.

Fiquei ali, com a garganta apertada.
Agradeci e saí ao sol, o coração ainda inquieto.
Logo adiante, passei por uma placa enferrujada:

“Luna Park – Fechado.”

Parei. Aquele nome… eu já tinha visto antes.
Numa foto de infância.

Corri para a casa da minha mãe. Entrei quase sem bater.
Ela me olhou da cozinha.

— Você chegou cedo. Quebrou o carro ou o coração?

— Nenhum dos dois. Preciso dos álbuns de fotos.

Ela me lançou um olhar curioso.

— Os que você sempre tenta levar escondido?

— Sim. Por favor.

Ela pegou uma caixa empoeirada do armário:
“Emily – 1990–1995.”

Sentei no chão e virei as páginas até achar:
Eu, em um carrossel no Luna Park. E, ao fundo, a mesma placa.

— Onde foi tirada essa foto? — perguntei.

Ela olhou de relance e depois congelou.

— Antes de nos mudarmos.

— Mudamos de onde?

— Outra cidade. Não ficamos muito tempo.

Mostrei o envelope.

— É o mesmo endereço. A mulher para quem ele escrevia — E.H. — é você, não é? Emily H****r.

Sua mandíbula se fechou.

— Muita gente tem essas iniciais.

— Não mente. Você conheceu o Eliot.

— Já chega.

— Quem ele era?

Ela virou de costas.

— Ele me abandonou. Eu estava grávida e sozinha.

— O Eliot é meu pai?

Ela hesitou.

— Sim.

— Você disse que ele estava morto.

— Eu menti. Não sabia como explicar.

— Ele ainda espera por você.

Ela ficou em silêncio.
Saí dali em silêncio também — com a carta na mão e a verdade no peito.

De volta ao asilo, Eliot estava sentado, brincando com um biscoito.

— Você tem visita — avisei.

— O que foi? Meu oficial de condicional?

— Não. Alguém de verdade.

Voltei mais arrumada. Ele levantou os olhos, confuso.

— Qual o motivo da roupa elegante?

— Eu sou a visita.

Ele me olhou, sem entender.

— Do que está falando?

— Eu li uma de suas cartas. Eu a encontrei.

Ele prendeu a respiração.

— Você… o quê?

— Ela nunca recebeu as cartas. A casa foi vendida. E… ela é minha mãe.

Ele me encarou, surpreso.

— Então você…

— Eu sou sua filha.

Sua voz falhou.

— Você é igualzinha a ela.

Então a porta se abriu. Minha mãe entrou.

— Eu não ia vir — disse baixinho. — Mas li suas cartas.

Eliot se levantou, devagar.

— Nunca parei de escrever.

— Eu sei — ela respondeu.

As lágrimas me escorriam. Me aproximei.

— Podemos só… nos abraçar?

E pela primeira vez em três décadas, nos abraçamos.

Juntos. Como uma família.

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