HISTÓRIAS

Minha Mãe Escondeu o Casamento de Mim — Mas Fiquei Chocada ao Descobrir Quem Era o Noivo

Eu estava soterrada por planilhas e relatórios inacabados, com os olhos ardendo pela luz do monitor e os dedos doloridos de tanto digitar o mesmo documento pela terceira vez. O escritório estava mergulhado naquele silêncio incômodo que só aparece depois que todo mundo já foi embora.

Do lado de fora, o céu ganhava tons de azul escuro. Por dentro, as luzes frias zumbiam sobre minha cabeça, pesando ainda mais sobre os meus ombros cansados.

Quando finalmente peguei o casaco para encerrar o dia, a porta se abriu. Era o Michael — meu chefe. Sempre impecável, como se tivesse saído direto de um catálogo, e com um olhar que parecia atravessar você por dentro.

Sem dizer muito, ele largou uma pilha grossa de papéis na minha mesa.

— Preciso disso pronto ainda hoje. Quero o relatório final pela manhã — disse, calmo.

Olhei o relógio. Eram 19h53.

— Michael, estou aqui desde antes das nove da manhã — respondi, tentando manter a calma.

Ele nem piscou.

— Tem que ser feito.

Quando se virou para sair, hesitou. Abriu a boca, mas depois balançou a cabeça.

— Deixa pra lá. Fica pra outra hora.

E foi embora.

Suspirei fundo. “Só mais seis meses”, repeti para mim mesma. “Seis meses e estarei fora daqui.”

Mais tarde, dentro do carro, com o aquecedor falhando e o cinto travando, meu celular tocou.

— Alice! — disse tia Jenny do outro lado, animada. — Não esquece que você vai me levar pro casamento!

— Que casamento? — perguntei.

Ela riu.

— Ah, não se faz de boba! O grande dia da sua mãe!

Fiquei em choque.

— Minha mãe… vai se casar?

— Ela não te contou? — perguntou, surpresa.

Desliguei na hora. E fui direto para a casa da minha mãe.

Ela abriu a porta com as mesmas pantufas cor-de-rosa e o velho cardigã que sempre cheirava a lavanda e chá. Tão familiar, mas ao mesmo tempo… distante.

— Por que você não me contou que ia se casar? — perguntei, com a voz tremendo.

Ela abaixou os olhos.

— Eu ia contar… só não sabia como.

— Eu tô convidada?

Ela hesitou… e balançou a cabeça.

— É mais fácil assim.

— Mais fácil pra quem? — minha voz falhou.

Ela segurava a porta aberta, mas sem realmente me convidar para entrar.

— Você anda tão estressada… Eu não queria te sobrecarregar ainda mais.

— Eu não sou uma criança. Sou sua filha — rebati.

Ela me olhou com um misto de arrependimento, tristeza e talvez culpa. Virei as costas e fui embora antes que ela me visse chorar. Mas uma coisa era certa: eu estaria naquele casamento, gostasse ela ou não.

Eu precisava ver quem era esse homem por quem ela havia me excluído.

Na semana seguinte, fui buscar tia Jenny, que me esperava na calçada com um vestido florido e um chapéu exagerado, falando sem parar sobre seu novo gato e o carro velho.

Eu mal conseguia prestar atenção. O estômago embrulhado de ansiedade.

Então vi minha mãe, no altar, com um vestido creme. Estava linda. Mas ao lado dela… estava Michael.

Meu chefe.

— VOCÊ VAI SE CASAR COM MEU CHEFE?! — exclamei.

O silêncio tomou conta da igreja. Mamãe não se mexeu.

— Esse não é o seu lugar — disse, quase num sussurro.

— Não é o meu lugar? — rebati, indignada. — Você sabia o quanto eu não suportava ele!

Michael deu um passo à frente, pálido.

— Talvez seja melhor eu ir embora…

— Não — murmurou ela. Mas ele já saía pela porta.

Fui atrás. O encontrei no estacionamento, parado, com o vento batendo no paletó.

— Michael! — chamei. Ele se virou devagar.

— Você tinha razão — disse. — Eu não devia me meter entre você e sua mãe.

— Não. Eu estava errada — respondi.

Ele se surpreendeu.

— Você me sobrecarregava de trabalho. Achei que era algo pessoal.

— Eu via o seu potencial. Mas fiz isso da pior forma. Me desculpa.

— Eu te odiei por isso — admiti.

Ele assentiu.

— Justo.

— Mas eu não posso escolher quem faz a minha mãe feliz. Isso não é decisão minha.

— Ela não te convidou porque achou que isso te machucaria — ele disse.

— Ela estava tentando me proteger…

Ficamos em silêncio por um momento.

— Ela precisa de você — finalizei.

Ele fez um leve aceno. E voltamos juntos para a igreja.

A cerimônia começou atrasada, mas ninguém se importou. Sentei ao lado de tia Jenny, que apertou minha mão.

Quando as portas se abriram e Michael entrou, o rosto da minha mãe se iluminou. Seu sorriso era mais forte do que qualquer vitral colorido.

Na hora dos votos, ela disse seu nome como se fosse uma oração.

E quando foi a vez dele, ele me olhou direto nos olhos:

— À Alice, que me torna um homem melhor.

Guardei aquelas palavras como um presente frágil.

Na recepção, entre lanternas e o cheiro de comida caseira, minha mãe me abraçou.

— Está tudo bem pra você?

Assenti.

— Você merece ser feliz.

Ela beijou minha testa.

— E você também.

Michael se aproximou e tocou levemente meu ombro. E eu… não recuei.

Naquela noite, minha mãe se casou.
E, em vez de me sentir deixada para trás, senti que finalmente a tinha reencontrado.

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