O Jantar da Surpresa

Minha enteada, Hyacinth, nunca gostou de mim. Já fazia meses — talvez até um ano — que não trocávamos uma palavra. Então, do nada, ela me ligou, animada, convidando para um jantar em um restaurante sofisticado. Pensei que talvez ela estivesse pronta para tentar reconstruir nossa relação. Era tudo o que eu sempre quis, então aceitei na hora.
Quando nos encontramos, ela parecia feliz, mas também um pouco nervosa. Logo que sentamos, começou a pedir os pratos mais caros do cardápio — lagosta, filé, tudo o que se possa imaginar. O que me incomodou, porém, foi que ela quase não conversava. Eu fazia perguntas, e ela respondia de forma curta, mal me olhando nos olhos. De vez em quando, lançava olhares para o celular ou por cima do meu ombro, como se estivesse esperando alguém.
Quando a conta chegou, antes que eu pudesse entregar meu cartão ao garçom, ela sussurrou algo para ele e murmurou que precisava ir ao banheiro. Simplesmente sumiu, deixando-me sozinho com uma conta enorme.
Paguei, sentindo-me usado e decepcionado. Saí do restaurante, mas então ouvi um SOM atrás de mim.
Virei-me devagar, sem saber o que esperar, e vi Hyacinth parada ali, com um enorme sorriso no rosto, segurando um bolo enorme e um maço de balões coloridos. Pisquei, tentando entender o que estava acontecendo.
Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, ela exclamou:
— Você vai ser vovô!
Por um momento, fiquei imóvel, tentando processar aquelas palavras.
— Vovô? — repeti, sem acreditar.
Quando finalmente a ficha caiu, meu peito se apertou de emoção. Ela riu, aliviada e empolgada.
— Sim! Eu queria te surpreender — disse, mostrando o bolo coberto com glacê branco, detalhes em azul e rosa e a frase “Parabéns, Vovô!” escrita no topo.
— Espera… você planejou tudo isso? — perguntei, ainda atônito.
— Planejei — confirmou, sorrindo. — Combinei com o garçom desde o início. Eu queria que fosse especial. Não estava te evitando, eu juro. Só queria preparar a maior surpresa da sua vida.
Olhei para ela, depois para o bolo, e senti um calor que não esperava.
— Você fez tudo isso para mim?
— Claro, Rufus — respondeu num tom mais suave. — Sei que tivemos nossas diferenças, mas quero que você faça parte disso. Você vai ser avô.
Ela respirou fundo, visivelmente emocionada.
— Sei que nosso relacionamento foi difícil. Eu não fui a filha mais fácil. Mas cresci, e quero que você esteja na minha vida… e na vida do bebê.
As palavras dela me atingiram fundo. A distância que parecia eterna começou a se dissipar.
— Hyacinth… eu não sei o que dizer.
— Não precisa dizer nada. Só quero que saiba que quero você conosco.
Não resisti e a abracei. Ela ficou rígida no início, mas logo retribuiu. Ficamos assim por longos segundos, com os balões flutuando acima de nós e o bolo espremido entre nossos corpos — e nada disso importava. Pela primeira vez em muito tempo, senti que tinha minha filha de volta.
— Estou tão feliz por você — sussurrei. — Você não imagina o quanto isso significa para mim.
Ela limpou as lágrimas, mas manteve o sorriso.
— Também significa muito para mim. Sinto muito por ter me afastado. Não sabia como voltar… mas agora estou aqui.
Segurando minha mão, ela brincou:
— É melhor sairmos daqui antes que nos expulsem. Aposto que nunca tiveram um anúncio de “vou ser vovô” tão estranho assim.
Rimos juntos e saímos com o bolo e os balões.
Enquanto caminhávamos para fora, senti como se um peso de anos tivesse saído dos meus ombros. Eu não era mais apenas Rufus. Estava prestes a me tornar avô, e a empolgação começava a crescer dentro de mim.
— Então… quando é o grande dia? — perguntei.
— Em seis meses — respondeu ela, sorrindo. — Você tem bastante tempo para se preparar, vovô.
E assim, todas as barreiras que nos separavam começaram a ruir. Não éramos perfeitos, mas éramos algo muito melhor: éramos família.