HISTÓRIAS

Meu pai faleceu sozinho na beira da Rodovia 49 na semana passada

sentado encostado em sua Harley quebrada, sob um calor de 39 °C, esperando pela filha que estava “ocupada demais” para atender suas ligações. Disseram que foi por causa de um ataque cardíaco, depois de passar horas ali. Seu celular mostrava dezessete chamadas perdidas nesse período — todas ignoradas, porque eu já estava cansada de ouvir sobre suas “loucuras de motociclista” e presumi que ele queria apenas mais dinheiro para peças da moto.

Por trinta anos, contei a todos que meu pai era um inútil que preferia o clube de motociclistas à família — um homem que perdeu minha formatura na faculdade para ir a um encontro bobo, que apareceu na recepção do meu casamento cheirando a óleo de motor e acompanhado de seus amigos “cafonas” de moto.

O que nunca contei a ninguém é que ele me ligou na manhã em que morreu, deixando uma mensagem de voz que deletei sem ouvir, ainda irritada por uma discussão que tivemos meses antes, quando ele se recusou a vender sua “preciosa” Harley para me ajudar a pagar a reforma da cozinha.

Agora, estou parada em sua garagem, cercada por álbuns de fotos que eu nunca soube que existiam — imagens dele me ensinando a andar de bicicleta, torcendo nos meus jogos de softball, fazendo turnos noturnos na fábrica para pagar minha mensalidade na escola católica. Página após página revelava um homem que, de alguma forma, eu havia esquecido… ou talvez nunca tivesse me permitido ver, consumida pela raiva por ele não ser o pai que eu acreditava merecer.

Os outros motociclistas do clube me disseram que ele falava de mim o tempo todo, que carregava minha foto de bebê na carteira até ela se desfazer e que guardava recortes de jornal de todas as minhas conquistas, cuidadosamente preservados em plásticos. Disseram também que ele tentava me contatar naquela última semana porque o médico lhe dera apenas seis meses de vida — câncer de pâncreas já espalhado para o fígado — e que tudo o que ele queria era fazer uma última viagem até o lago onde me ensinou a pescar quando eu tinha sete anos, para se sentar com a filha mais uma vez antes que o câncer o levasse.

Mas, em vez disso, ele morreu sozinho, caído contra a moto que eu odiei por tantos anos, segurando uma carta que havia escrito para mim e que começava com:

“Minha querida filha…”

Essa história já está completa, com início, meio e fim — mostrando a perda, a descoberta e o arrependimento tardio da narradora.

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