O esquecimento que mudou tudo

Anna soltou um suspiro contido. Nos últimos tempos, seu marido, Boris, estava cada vez mais irritadiço, mas ela preferia não dar importância. Não queria provocar discussões — nunca fora de seu estilo enfrentar conflitos. Sempre prezara pela paz, cedendo em quase tudo para manter a harmonia do lar.

Naquele dia, decidiu ignorar mais uma vez o mau humor dele e seguiu para o mercado.

O esquecimento

Enquanto passava as compras no caixa, Anna percebeu que havia esquecido a carteira em casa. Frustrada, passou a mão pelos cabelos e tentou ligar para Boris, mas ele não atendeu. Pediu à atendente que guardasse sua sacola e voltou apressada para o apartamento.

Ao chegar à porta, pronta para entrar, ouviu a voz do marido.

— “Sim, já está tudo acertado. O apartamento está quase transferido, só falta movimentar o dinheiro.”

Anna sentiu o coração despencar. Que apartamento? Que dinheiro? O que ele estava tramando?

— “Claro que há algum risco,” continuou Boris. “Mas o que ela pode fazer? Não desconfia de nada. É calada, aguenta tudo.”

As palavras foram como facadas. Depois de tantos anos de dedicação, era assim que ele a via? Uma mulher frágil, incapaz de reagir?

Anna ficou imóvel, devastada. Ouviu-o ainda falar sobre viagens a Paris — não com ela, mas com outra. Quando a ligação terminou, recuou instintivamente, escondendo-se no corredor. Pouco depois, Boris saiu. Não percebeu a presença dela. Assim que ele se afastou, Anna deixou o prédio em silêncio. Precisava de tempo. E de respostas.

A descoberta

Sem rumo, ligou para sua amiga Irina, que logo percebeu o tom de sua voz. Entre lágrimas, Anna contou tudo. A amiga a acolheu, ajudando-a a raciocinar.

No caminho de volta, ainda trêmula, Anna abriu o aplicativo do banco: havia menos dinheiro na conta conjunta. Ele realmente estava retirando valores.

— “Muito bem,” sussurrou. “Se ele quer um jogo, vai ter.”

De volta para casa, Boris a recebeu com impaciência:
— “Onde você estava? Estou aqui morrendo de fome!”

Anna conteve a raiva. Precisava manter a calma até ter todas as provas.

No dia seguinte, disse estar doente e ficou em casa. Então começou sua própria investigação: revirou documentos, acessou o computador. Encontrou trocas de mensagens entre Boris e um advogado — tratavam de divórcio e divisão de bens.

O golpe era real. Ele já a preparava para ser descartada.

Anna fotografou tudo. Abriu uma conta separada, transferiu parte das economias e entrou em contato com um advogado de confiança. Também falou com seus pais, que prometeram apoiá-la.

O confronto

À noite, preparou a mesa como sempre. Quando Boris se sentou, ela colocou uma pasta diante dele.

— “Estou pedindo o divórcio,” disse com firmeza. “Não adianta negar. Eu ouvi sua ligação. Vi suas mensagens. Achou que me enganaria? Pense outra vez.”

Boris ficou pálido, atônito. Tentou se defender com acusações e insultos, mas Anna já não o escutava. Estava decidida.

Dias depois, ele fez as malas e saiu de casa. A Justiça bloqueou a transferência ilegal do imóvel e garantiu uma partilha justa dos bens. Boris tentou recorrer, mas todas as tentativas fracassaram.

Um novo começo

O tempo passou, e Anna começou a se recompor. Aceitou o convite para o aniversário de uma amiga — sua primeira saída social em meses. Lá, conheceu alguém novo: um homem gentil, sincero, completamente diferente de Boris.

Não esperava reencontrar o amor, mas decidiu se permitir. E essa escolha transformou sua vida.

Anna recomeçou. Desta vez, construiu um lar baseado em confiança, respeito e verdadeira felicidade.