O Homem Que Voltou do Passado

Meu nome é Luana, tenho 20 anos e estou no último ano da faculdade de Design.
Sempre ouvi que pareço mais madura do que a minha idade. Talvez porque cresci apenas com a minha mãe, Dona Helena, uma mulher forte, batalhadora e que nunca se deixou abater.
Meu pai morreu quando eu ainda era criança.
Desde então, minha mãe nunca mais se casou.
Trabalhou duro para me criar sozinha, e eu sempre a vi como um exemplo de força e dignidade.
Tudo parecia normal até o dia em que participei de um projeto voluntário da faculdade.
Foi lá que conheci Ricardo, o coordenador técnico da equipe.
Ele tinha pouco mais de 40 anos.
Era calmo, educado, e havia algo na sua maneira de falar… uma tristeza silenciosa, como quem carrega uma história que preferia esquecer.
No começo, eu apenas o admirava.
Mas com o tempo, comecei a sentir algo diferente.
Meu coração acelerava sempre que ele estava por perto.
Ricardo era divorciado, morava sozinho e não tinha filhos.
Raramente falava sobre o passado — apenas comentou uma vez:
“Já perdi algo muito importante… agora só quero viver em paz.”
Nos aproximamos aos poucos. Sem promessas, sem pressa — apenas afeto e respeito.
As pessoas comentavam:
“Ela é tão jovem… o que vê num homem da idade dele?”
Mas eu não ligava.
Ao lado de Ricardo, eu sentia paz, e isso era o que mais importava.
Um dia, ele me olhou nos olhos e disse:
“Luana, eu quero conhecer sua mãe. Não quero mais esconder nosso relacionamento.”
Fiquei nervosa.
Minha mãe sempre foi muito protetora, e eu sabia que aquele encontro não seria fácil.
Mas se o nosso amor era verdadeiro, não havia o que temer.
No domingo seguinte, Ricardo apareceu em casa com um buquê de margaridas — as flores favoritas da minha mãe, que eu havia mencionado por acaso em uma conversa.
Chegamos de mãos dadas, e ele parecia tranquilo… até que o portão se abriu.
Mamãe estava regando as plantas no jardim.
Quando se virou e nos viu, ficou paralisada.
O regador caiu de suas mãos.
Por um instante, pensei que ela fosse desmaiar.
De repente, ela correu na direção dele — o abraçou com força, chorando como se tivesse encontrado alguém que amava e perdera há muito tempo.
— “Meu Deus… Ricardo?! É você mesmo?!”
Eu congelei.
Ricardo ficou imóvel, o rosto sem cor.
— “Helena?… Não pode ser…”
Olhei de um para o outro, sem entender nada.
As mãos de minha mãe tremiam, as lágrimas corriam pelo rosto.
— “Vinte anos, Ricardo… vinte anos acreditando que você tinha morrido…”
Meu coração quase saiu pela boca.
— “Mãe… o que está acontecendo?!”
Ela respirou fundo, a voz embargada:
— “Filha… esse homem… o Ricardo… ele foi o amor da minha vida. Antes de conhecer o seu pai.”
Ricardo baixou a cabeça, os olhos marejados.
— “Eu nunca soube… que você havia se casado. Quando voltei, era tarde demais. Fui embora, tentando esquecer. Mas o destino me trouxe até aqui.”
O silêncio tomou conta da casa.
Mamãe chorava, Ricardo tentava se recompor, e eu — eu não sabia o que sentir.
Amor, confusão, medo, surpresa… tudo se misturava.
Naquela noite, ficamos conversando por horas.
Mamãe contou que eles haviam se conhecido quando eram jovens e que ele desaparecera em um acidente de barco. Todos acreditaram que ele tinha morrido.
Ricardo explicou que sobreviveu, mas perdeu a memória por meses após o resgate — e só muitos anos depois recuperou parte das lembranças.
O reencontro foi uma mistura de dor e alívio.
Minha mãe revivia um amor perdido.
Eu tentava compreender como o homem que amava estava, de alguma forma, ligado ao passado que moldou a minha vida.
Nos dias seguintes, o tempo foi colocando tudo em seu lugar.
Ricardo se afastou, respeitando a situação e pedindo tempo.
E eu, mesmo com o coração partido, entendi que alguns amores aparecem não para ficarem, mas para revelar verdades que estavam escondidas.
Hoje, olho para trás e vejo que o destino às vezes une pessoas não pelo que precisam viver juntas — mas pelo que precisam curar.
E, naquele abraço entre minha mãe e o homem que um dia amei, percebi que a vida sempre encontra um jeito de fechar os círculos que ficaram abertos.



