HISTÓRIAS

Eu nunca imaginei que um dia meu marido teria coragem de dizer:“Você não vai com a gente este ano.”


E muito menos que ele viajaria para Fernando de Noronha com a família da amante.
Mas o que aconteceu quando eles voltaram… deixou todos sem cor no rosto.

Meu nome é Elisa, tenho 34 anos, e por três anos vivi um casamento que parecia bonito para quem via de fora — mas que por dentro desmoronava devagar.

Naquela tarde, eu tirava do forno o frango com alecrim que o Marcelo sempre dizia adorar. O cheiro enchia a casa quando o telefone tocou. Era ele.

Falou com aquele tom calmo, distante, típico de quem já tinha decidido tudo sem me consultar:

— Meus pais, meu irmão, a cunhada e a amiga da família estão indo para Fernando de Noronha. A casa não tem espaço pra mais uma pessoa. Você fica aí.

Tentei manter a voz firme. Ele ainda pediu que eu regasse as plantas dele enquanto estivesse fora — como se eu tivesse sido deixada para trás apenas para cuidar da casa, e não porque havia sido excluída da viagem de propósito.

Quando desliguei, continuei a arrumar a mesa, mas minhas mãos tremiam tanto que um prato caiu no chão e se quebrou. Estilhaços brancos espalhados no piso… tão parecidos com o nosso casamento: impecável por fora, frágil por dentro.

Poucos minutos depois, a mãe dele enviou uma mensagem animada no grupo da família:

“Todos prontos pra viagem completa!”

O todos sem o meu nome doeu mais do que qualquer palavra dita.
E naquele instante, algo dentro de mim ficou claro como nunca antes.

Olhei para a porta vazia.
Para a casa que eu sustentava, cuidava e preenchia enquanto eles fingiam que eu não existia.
E decidi que, dessa vez, eu não ficaria esperando. Não aceitaria menos do que merecia. Não seria espectadora da minha própria vida.

Foi ali que eu tomei minha decisão.

Nos dias que seguiram, enquanto Marcelo postava fotos sorrindo, eu arrumei minha parte da casa. Separei documentos, juntei comprovantes, fiz ligações silenciosas mas certeiras.
No silêncio das paredes que ele acreditava controlar, eu reconstruía minha saída — e minha liberdade.

E quando o avião finalmente trouxe Marcelo e a família da amante de volta…
eles entraram pela porta sorrindo, ainda bronzeados da viagem.

Mas congelaram no segundo seguinte.

A sala estava vazia de minhas coisas.
A caixa de ferramentas dele sobre a mesa, junto com um envelope.
E as chaves da casa.

Marcelo abriu o envelope com a mão trêmula.

Lá dentro estavam:

  • meu pedido de divórcio, já protocolado;
  • cópias das transferências que mostravam que metade do que era meu havia sido retirada legalmente;
  • uma carta curta, escrita com a calma que eu só encontrei depois que percebi o meu próprio valor.

A carta dizia:

“Marcelo,
não havia espaço para mim na viagem.
E também não há mais espaço para você na minha vida.
Boa sorte com a família que você escolheu.
A verdadeira.”

A mãe dele arregalou os olhos.
O irmão empalideceu.
A “amiga da família” ficou vermelha.
E Marcelo… não conseguiu dizer nada.

Ele me excluiu da viagem.
Eu o excluí da minha vida.

E, pela primeira vez em muito tempo, fui eu quem voltou para mim mesma.

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