HISTÓRIAS

Acolhi minha mãe idosa em casa.

Agora me arrependo, mas não posso devolvê-la — e a vergonha diante dos outros me sufoca.

Hoje preciso desabafar. Há uma dor aqui dentro, pesada como concreto, que preciso colocar em palavras. Talvez, ao escrever, eu encontre algum alívio. Ou, quem sabe, uma resposta.

Há três meses, tomei a difícil decisão de trazer minha mãe para viver comigo. Ela completou 80 anos, morava sozinha em um vilarejo isolado de Soria, numa casa com o telhado prestes a desabar. Suas forças se esgotavam: pernas trêmulas, mãos fracas, memória falhando. Não suportei vê-la definhar sozinha e achei que trazê-la para meu apartamento em Valladolid seria o certo — o ato de amor que uma filha deveria fazer.

No início, foi tudo pacífico. Preparei com carinho um quarto para ela: cama confortável, cobertor quente, televisão pequena. Cuidei da alimentação com zelo: nada de gorduras, pouco sal, legumes no vapor. Comprava os medicamentos com meu próprio salário, já que sua aposentadoria mal cobria o básico. Sentia que estava fazendo minha parte.

Mas o que parecia um gesto de amor virou um fardo imensurável.

Com o passar das semanas, mamãe começou a reclamar de tudo. A cidade era “cinza e sem alma”. A comida era “sem sabor”. A vida, aqui, era uma “prisão”. Pequenas coisas — como um chá esquecido ou a poeira sobre um móvel — viravam motivos para críticas e brigas. Pior: ela passou a me manipular com suspiros profundos, silêncios ofensivos e comentários amargos sobre como era mais feliz sozinha no vilarejo.

Minha saúde emocional entrou em colapso. Passei a tomar ansiolíticos para aguentar o dia. Saía do trabalho e ficava parada em frente ao prédio, sem coragem de subir. Ali dentro não estava mais meu lar — estava um campo de batalha. Um espaço onde o amor virou culpa e o cuidado virou tortura.

Pensei em levá-la de volta. Mas como? A casa está em ruínas. Não tem aquecimento. Não tem segurança. E como encarar os outros? As pessoas olhariam para mim com reprovação: “A filha que abandonou a própria mãe”. O peso do julgamento me paralisa.

Sinto que estou perdendo a mim mesma.

Hoje escrevo em busca de ajuda. Já não sei mais o que fazer. Como lidar com a convivência com um idoso de temperamento difícil, que desgasta, que fere com palavras, que parece se alimentar da culpa? Como amar sem se anular? Como cuidar sem se destruir?

Peço, com humildade, que quem já passou por isso compartilhe sua experiência. Eu preciso de uma luz. Preciso saber que não estou sozinha. E, mais do que tudo, preciso voltar a respirar em paz dentro da minha própria casa.

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