Casal Exigente no Avião Me Pede para Cobrir o Rosto por Causa das Minhas Cicatrizes — Comissária e Piloto Colocam Eles no Lugar

A viagem que mudou tudo
Talvez o jeito como as pessoas me olhavam tenha feito o aeroporto parecer mais frio do que o normal. Eu segurava meu cartão de embarque com força, como se fosse a única coisa que me mantivesse de pé.
Mesmo com a cicatriz no rosto ainda em processo de cicatrização, ela já parecia parte de mim. As pessoas começaram a reparar na cicatriz antes de me enxergarem de verdade.
Já fazia um mês desde o acidente — um choque de carro. O airbag disparou, e um pedaço de vidro cortou meu rosto. Os médicos fizeram os pontos rapidamente e com habilidade, mas não conseguiram evitar a marca irregular.
Segundo meu dermatologista, é tecido cicatricial recente. “Talvez nunca desapareça totalmente, mas vai clarear com o tempo.”
A cicatriz ia desde a raiz do cabelo, atravessava a bochecha, passava pela sobrancelha e terminava bem perto do queixo. Nunca mais cresceria parte da minha sobrancelha. Onde o ferimento foi mais profundo, havia uma pequena marca na bochecha.
Escondi meu rosto atrás de bandagens por semanas, pois tinha medo de encarar meu próprio reflexo. Quando finalmente as tiraram, tive que enfrentar a mim mesma.
Meus amigos tentavam me animar, dizendo coisas como: “Você ficou com um visual durona.” “Parece uma guerreira.”
Senti aqueles mesmos olhares de novo enquanto descia o corredor apertado do avião. Com o coração disparado, sentei na poltrona da janela e coloquei meus fones, torcendo por um voo tranquilo.
O casal que só via minhas cicatrizes
Acordei com vozes ásperas e agitadas do meu lado, então devia estar dormindo.
“Você só pode estar brincando comigo”, disse um homem.
Com um suspiro pesado, uma mulher falou: “Tom, esses são nossos lugares. Senta logo.”
Fechei os olhos torcendo para que eles fossem embora.
Então, em tom mais baixo, mas ainda audível, o homem cochichou:
“Isso é o que recebemos? Finalmente lugares livres ao lado de…” Ele parou.
“O que vem depois?”, a mulher perguntou, com voz cortante. Pausa. Depois: “Ah.”
Pude sentir o olhar dela sobre mim, e minha pele arrepia.
“Você só pode estar de brincadeira”, sussurrou.
Forcei meu corpo a ficar imóvel e engoli em seco.
Então as palavras caíram como um tapa.
“Oi, senhora!” O homem falou ríspido. Lentamente, abri os olhos. Ele fez uma careta e franziu o cenho. “Não tem jeito de você esconder isso?”
A mulher puxou o suéter até o nariz e gritou: “Tom, que absurdo! Como deixaram ela embarcar assim?”
Paralisada, encarei-os.
“Exatamente!”, Tom apontou para mim com o dedo. “Aqui é uma área aberta! Ninguém precisa ver isso.”
Meu rosto queimava. Queria explicar — mostrar que não tinha escolha, que não fiz aquilo por vontade própria. Mas não disse nada.
“Você vai ficar aí sentada, é? Inacreditável”, ela debochou.
Então Tom chamou uma comissária, inclinando-se para o corredor.
“Ei! Você pode fazer algo? Minha namorada está enlouquecendo.”
A postura da comissária era firme, a expressão séria.
“Qual é o problema, senhor?”, perguntou calma.
“Tem um problema, sim”, gritou Tom. “Olhe para ela!” Acenou para mim como se eu fosse um animal no zoológico. “Está deixando minha namorada nervosa. Dá para mudar ela para o fundo da aeronave?”
Ela me olhou por um momento.
“Cada passageiro tem direito ao seu assento, senhor. Precisa de mais alguma coisa?”
“Eu já disse! É nojento ela sentar ali assim. Ela devia se esconder ou ser deslocada.”
A mulher acrescentou: “Nem consigo olhar para ela. Vou vomitar.”
A comissária endireitou-se com firmeza. “Por favor, baixem a voz, senhor e senhora. É inaceitável esse tipo de comportamento.”
Tom riu. “E ela? Assustando as pessoas sentada aí…”
Ignorando-o, a comissária virou-se para mim. “Está tudo bem, senhorita?”
Segurei os braços da poltrona tão forte que doeram os nós dos dedos, e acenei com a cabeça, rígida.
Antes de ir para a cabine, ela me tranquilizou: “Já volto.”
Com os braços cruzados, o casal murmurava irritado. Os demais passageiros estavam silenciosos, mas dava para sentir que prestavam atenção.
“Recebemos relatos de comportamento incompatível com o ambiente educado que buscamos manter nesta aeronave. Para ser claro, qualquer forma de discriminação ou assédio não será tolerada. Por favor, respeitem os demais viajantes.”
O ar ficou menos tenso. Alguns olharam para a fila cinco com reprovação, outros cochichavam.
Ela falou com autoridade: “Senhor e senhora, vocês devem se deslocar para os assentos 22B e 22C, na parte de trás do avião.”
Tom ergueu a cabeça, surpreso. “O quê?”
“Não há negociação”, declarou. “Seu comportamento está atrapalhando o voo, e precisamos garantir o conforto de todos.”
“Isso é ridículo”, resmungou a mulher. “Por que somos nós os punidos?”
A comissária permaneceu calma. “Seus novos lugares os esperam.”
Mordi o lábio para segurar as lágrimas. Não de vergonha desta vez — mas por outro motivo.
Alívio.
Um assento na classe executiva
A comissária voltou para mim, com um sorriso gentil.
“Senhorita, quero pedir desculpas pelo ocorrido. Ninguém merece passar por isso.”
Assenti, com a garganta apertada demais para falar.
“Temos um assento livre na classe executiva”, continuou. “Gostaríamos de lhe oferecer uma mudança de lugar, como gesto de boa vontade. Tudo bem para você?”
Hesitei. “Não quero causar problemas.”
Ela sorriu com ternura. “Você não está causando problema algum. Por favor, deixe-nos cuidar de você.”
Engoli em seco e concordei.
Minutos depois, estava acomodada na nova poltrona. A comissária me trouxe uma xícara de café quente e um pacotinho de biscoitos.
“Se precisar de algo, aperte o botão de chamada”, disse suavemente antes de me deixar descansar.
Olhei pela janela, vendo as nuvens se estenderem como um mar infinito abaixo de nós. Respirei fundo. O nó no meu peito se afrouxou.
Pela primeira vez em semanas, deixei as lágrimas correrem.
Lembrei do que meus amigos diziam — que eu ainda era eu, com cicatrizes e tudo.
“Você continua linda”, uma delas disse. “Agora, também, você parece forte.”
Olhei para o horizonte sem fim e enxuguei as lágrimas. O avião seguia cortando o céu como uma promessa.
E, pela primeira vez em muito tempo, senti algo novo.
Esperança.