ELA ESTAVA DOENTE DEMAIS PARA DORMIR SOZINHA, ENTÃO ME DEITEI NO CHÃO DO BANHEIRO COM ELA.

Sempre acreditei que era um pai decente. Não perfeito, mas presente e confiável. Desde que Liana nasceu numa noite tempestuosa de agosto, sinto como se estivesse correndo por tempestades – não aquelas perigosas, mas as que te lembram que a vida raramente é calma. A mãe, Dana, foi embora quando Liana tinha seis anos. Disse que precisava “se encontrar”. Não fui atrás. Talvez devesse, mas estava ocupado demais fazendo tranças e comprando material escolar sem deixar que ela dissesse: “foi meu pai que escolheu isso”.

Liana tem 12 anos. Ainda é jovem, mas nem tanto. Fala com mais firmeza, sem aquele tom infantil. Escuta podcasts de crimes reais e sabe quais colegas estão mentindo. Lê as pessoas com facilidade. Herdou isso da mãe.
Naquela noite, nada parava no estômago dela. Pulou o jantar — algo que nunca acontece. Estava encolhida no piso frio do banheiro, tremendo apesar do cobertor, abraçada ao travesseiro azul da época do jardim de infância. Ela o chama de “Oceano” por causa da cor, que agora está mais para cinza do que azul.
No começo, fiquei parado no corredor. Levei água e bolachas, deixei a lixeira ao lado. Talvez ela quisesse espaço — anda pedindo mais, trancando a porta do quarto, guardando segredos que finjo não perceber. Mas algo me puxou para dentro quando vi seu corpo tremendo, olhos semicerrados, pele pálida como cera de vela.
Em vez de trocar o pijama, peguei a almofada do sofá e me deitei ao lado dela. Sem pensar duas vezes. Cobri nós dois com metade do cobertor e apoiei meu braço em seu ombro.
Ela disse pouco. Virou-se e sussurrou: “Obrigada por ficar.”
E eu quis dizer “Sempre”, com cada célula do meu corpo.
O tempo desacelerou. O chão duro pressionava meu quadril e ombro, mas eu não ligava. O tique-taque do relógio ecoava no corredor. O tempo passava depressa mesmo quando o momento parecia congelado. Pensei o quanto ela está crescendo rápido. Não haveria muitas noites assim. Logo, ela me afastaria de vez. Ficaria com os amigos ou no quarto com música, mensagens e segredos. E eu voltaria ao lado de fora.
Quase às três da manhã, quando achei que ela estava dormindo, murmurou algo fraco:
“Pai… preciso te contar. A mamãe ligou.”
Pisquei, surpreso.
A última vez que Liana mencionou Dana fazia meses. O último cartão que recebemos era genérico, sem remetente, com uma assinatura quase ilegível no Natal.
Antes que eu perguntasse algo, Liana disse: “Ela quer conversar. Só comigo.”
Senti algo gelado e rígido no peito. Não era ciúme. Nem raiva. Era aquela dor antiga que eu quase já tinha esquecido.
O que ela disse? Perguntei com calma, tentando manter a voz firme.
“Ela perguntou como eu estava. Disse que tem pensado em mim. Quer ligar de novo. Mas pediu pra eu não contar. Disse que complicaria as coisas.”
Engoli em seco. Dana complicava tudo, mesmo sem querer. Mas aquilo não era sobre ela. Era sobre Liana. Não queria que minha filha carregasse segredos para manter a paz.
“Você pode falar com ela,” respondi. “Não vou te impedir.”
Os olhos de Liana brilharam no escuro ao virar o rosto. “Você não tá bravo?”
“Claro que não, meu amor. Ela ainda é sua mãe.”
“Mas ela foi embora.”
“Sim,” suspirei. “Ela foi. Mas você ainda pode gostar dela, conversar com ela. Tá tudo bem. De verdade.”
Ela ficou em silêncio por um tempo, então achei que tinha dormido. Estava prestes a fechar os olhos quando ela falou de novo.
“Ela disse que talvez venha me visitar.”
Meu corpo se enrijeceu sem querer. A gente nunca tinha cruzado esse limite. Desde que se mudou para o Arizona com um vendedor de motos usadas, Dana não via Liana há mais de dois anos.
Ela disse quando?
“Talvez no mês que vem,” respondeu. “Ela pediu.”
“E você quer?”
Liana hesitou. “Não sei. Sinto falta dela. Mas esqueci como ela é agora. Não a conheço mais, só lembro dela cantando no carro. E se eu a vir e me sentir estranha?”
Soltei o ar devagar. “É normal se sentir estranha. Depois me conta como foi. Sem julgamentos.”
Ela virou e se aproximou de mim. “Você iria comigo? Se eu pedisse pra ver ela?”
Um nó se formou na minha garganta. “Sim. Eu iria.”
Ela não respondeu, mas encostou a testa no meu ombro — o suficiente.
Duas semanas depois, Dana veio de avião. Liana e eu a encontramos no parque. Fiquei sentado num banco, respeitosamente afastado, enquanto elas caminhavam devagar entre as árvores. Dana assentia, ria e tocava o braço de Liana enquanto ela falava com gestos largos. Liana olhou pra mim da mesa de piquenique. Um único olhar. Dizia tudo. Ela estava segura. Tinha companhia. Estava crescendo. E eu ainda era o porto dela.
Depois que Dana partiu, Liana e eu tomamos sorvete, apesar do frio.
“Ela tem o mesmo cheiro,” disse entre uma colherada e outra. “Jasmim e café.”
“Você lembrava disso?”
“Sim. Mas ela também mudou. Está mais velha. Mais quieta. Gosto dela, mas não sei se confio.”
“Tudo bem,” respondi. “Você não precisa saber tudo de uma vez.”
Ela sorriu. “Obrigada por ter ido.”
“Sempre.”
Agora ela liga pra mãe do quarto, mas sempre me dá um breve resumo depois. Sem segredos. Sem confusão. Uma menina tentando conciliar duas histórias de amor.
Naquela noite no chão do banheiro, aprendi algo importante: às vezes, a melhor coisa que você pode fazer por alguém é deitar ao lado. Ficar ali. Sem discursos. Sem barreiras. Apenas presença.
Talvez a resposta para continuar perto de um filho que começa a se afastar seja simples:
Parar. Não se mover. Não quando ele ainda precisa de você por perto.
Você se deitaria no chão do banheiro?