HISTÓRIAS

Ela nos deixou por um homem rico… E depois eu a encontrei no supermercado.


Às vezes, a vida corta o coração como uma lâmina. Dói. Queima. E você não entende — por quê? Por que comigo? O que eu fiz para merecer isso?

Vivi com Olga por dez anos. Nos conhecemos como estudantes em Salamanca e depois nos mudamos juntos para Madri, onde começamos nossa vida adulta. Tivemos duas filhas: Inés e Carmen, com apenas um ano de diferença entre elas. Eu trabalhava em uma construtora, com um salário estável. Não tínhamos luxo, mas tínhamos o suficiente: duas vezes por ano fazíamos viagens em família, alugávamos um apartamento espaçoso, podíamos pagar uma babá para as meninas e até alguns pequenos mimos, como vestidos novos ou brinquedos.

Olga trabalhava de casa, escrevendo textos e administrando alguns negócios online. Eu sempre ajudava: lavava a louça, passeava com as meninas, fazíamos atividades manuais juntos e eu as ajudava com jogos educativos.

Achava que estávamos bem. Mas um dia, ela simplesmente disse:

— Eu vou embora.

Não entendi na hora. Achei que fosse uma viagem, um curso, algo temporário. Mas então ela disse:

— Me reencontrei. Quero algo maior. Algo grandioso.

Ela não deixou só a mim. Deixou também nossas filhas. Abandonou Carmen e Inés — de cinco e quatro anos — comigo. Sem um pingo de arrependimento, sem uma lágrima. Uma semana depois, vi seu perfil no Instagram: um anel de diamante, um passeio de iate pelo Mediterrâneo, champanhe numa suíte luxuosa, vestidos de grife e a frase: “minha nova vida começa aqui”.

Eu não conseguia acreditar. Ela escolheu aquilo? O brilho, o luxo… e nem uma única ligação para as filhas?

O mais difícil era ver as meninas perguntarem todos os dias: — Papai, a mamãe vai voltar?

E eu não sabia o que responder. Como explicar a uma criança que sua mãe não apenas foi embora, mas escolheu o dinheiro em vez das mãozinhas delas?

Dois anos se passaram. Eu me virei. Foi difícil — muito. Às vezes, à noite, eu me sentia sem forças. Às vezes, precisava me afastar do trabalho porque alguma das meninas ficava doente. Mas resistimos. Inés entrou na escola, Carmen foi para a pré-escola. Viramos um time. Eu, o apoio delas. Elas, minha razão de viver.

E então, numa tarde qualquer, fui ao mercado do bairro comprar leite e pão. Estava no caixa — e congelei. Ali, bem na minha frente, estava ela. Olga.

Ela já não era aquela mulher deslumbrante do Instagram. Diante de mim estava uma mulher abatida, com um casaco gasto, olhar apagado, mãos trêmulas. Na carteira, apenas algumas moedas. No cesto, pão, um pacote de macarrão e salsichas baratas.

Nossos olhos se encontraram. Ela empalideceu, como se tivesse visto um fantasma.

— É você… — sussurrou.

Eu fiquei em silêncio. Naquele momento, não sabia o que era mais forte dentro de mim: a raiva, o rancor ou o vazio.

— Como estão as meninas? — sua voz tremia.

Cerrei os punhos.

— Estão bem. Porque me têm a mim.

Ela desviou o olhar. Os lábios tremiam.

— Eu… gostaria de vê-las.

— Depois de dois anos? — senti a raiva fervilhar. — Alguma vez se preocupou com elas? Chegou a mandar um cartão, ao menos?

Ela abaixou a cabeça.

— Cometi um erro…

Soltei uma risada amarga:

— Um erro é esquecer o guarda-chuva num dia de chuva. Você abandonou suas filhas por uma vida de luxo. Achou mesmo que iates e vestidos iam calar a sua consciência?

— Ele me deixou… — sussurrou. — Quando percebeu que eu já não servia mais. Fiquei sem nada. Sem casa, sem dinheiro. Até perdi os direitos sobre as meninas, porque abri mão deles.

Olhei para suas mãos — o anel já não estava ali.

— E as meninas? Eram só um obstáculo temporário pra você?

— Não… — ela começou a chorar. — Sei que não mereço perdão. Mas eu te peço… deixa eu vê-las.

Respirei fundo. Diante de mim não estava mais a mulher que saiu de casa com a cabeça erguida. Era uma pessoa quebrada, uma sombra vazia daquela que um dia jurou amar para sempre.

— Elas não se lembram de você, Olga. Faz tempo que pararam de perguntar quando você voltaria. Aprenderam a viver sem você.

— Eu não quero nada… Só quero vê-las. Ouvir suas vozes…

Virei de costas. O coração apertado. Não sei se algum dia poderei perdoar.

Mas uma coisa eu sei: Inés e Carmen são tudo para mim. E ninguém tem o direito de feri-las de novo.

— Eu vou pensar, — disse, e fui embora.

E ela ficou ali — no meio do supermercado, entre estranhos, com lágrimas nos olhos e um vazio na alma.

Não sei como tudo isso vai acabar. Talvez um dia eu permita que ela fale com as filhas. Mas nunca deixarei que se sintam abandonadas de novo.


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