HISTÓRIAS

Ela voltou quando ninguém mais ficou

Assinamos o divórcio há um ano e três meses.
Cada um seguiu seu caminho: ela com seus projetos e sonhos; eu, com meus tropeços e arrependimentos. Houve discussões que deixaram cicatrizes, palavras que jamais deveriam ter sido ditas e silêncios que construíram muros entre nós. Acreditei que tudo havia ficado no passado… até que o destino decidiu provar o contrário.

O que parecia ser apenas uma fratura boba revelou-se algo muito mais sério. Fui internado às pressas e, no meio de exames, dores e incertezas, ela reapareceu. Sem alarde. Sem discursos. Apenas apareceu.

Há cinco noites, ela não sai do meu lado. Dorme numa cadeira dura, usando o casaco dobrado como travesseiro. Não reclama. Não exige nada. Apenas fica — presença silenciosa e constante. Abandonou as aulas de dança, os compromissos sociais e até o orgulho… tudo para estar comigo neste quarto que cheira a desinfetante e esperança.

Às vezes, peço que vá descansar em casa. Ela finge impaciência, diz que vai… mas quando abro os olhos, lá está de novo, com o olhar cansado e a mão pousada perto da minha.

Foi então que compreendi.
Enquanto eu me cercava de “amigos” que desapareceram ao primeiro problema e de amores que falavam de futuro sem saber o que é permanecer, foi a minha ex-mulher quem cumpriu a promessa que um dia fizemos: na saúde e na doença, na alegria e na dor.

A vida, às vezes, te sacode com brutalidade para mostrar o que realmente importa.
E eu aprendi o que nunca havia aprendido antes: o amor verdadeiro não termina com uma assinatura — ele apenas espera o momento certo para mostrar que nunca foi embora.

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