ENCONTREI MEU AVÔ JOGANDO XADREZ NO PARQUE — E ISSO ME PARTIU… DA MELHOR FORMA.

Eu estava apenas atravessando o parque para buscar um café quando o vi — meu avô, sentado num banco, com os olhos fixos num pequeno tabuleiro de xadrez de madeira.
No começo, ele nem me notou. Estava concentrado demais. Inclinava-se para frente, apertando os olhos, tocando uma peça como se estivesse negociando a paz mundial — e não uma simples troca de torre por peão.
Ao redor dele, quatro outros senhores, todos com casacos e bonés que pareciam saídos direto dos anos 90. Eles não estavam apenas jogando — estavam vivendo. Riam, brincavam, resmungavam como velhos companheiros de longa data.

Nunca tinha visto meu avô assim.
Em casa, ele é mais calado. Mais devagar. Às vezes cochila assistindo Jeopardy e precisa de ajuda para lembrar que dia é. Eu pensava que partes dele estavam se perdendo aos poucos. Mas ali, cercado pelos amigos, ele estava afiado. Sorridente. Debochado.
Um deles gritou:
— Você ainda me deve um sanduíche de 1982!
E todos explodiram numa gargalhada tão alta que até dois corredores pararam para olhar.
Meu avô levantou o olhar e, ao me ver perto do banco, se iluminou. Era um daqueles raros momentos em que reconhecemos alguém querido de verdade. Ele sorriu e me chamou com os olhos cheios de malícia:
— Vem cá, garoto! Você precisa ver isso — disse, orgulhoso do jogo.
Me aproximei, sem saber ao certo o que estava acontecendo, mas curioso com esse lado novo dele.
Sentei no banco ao lado e os outros homens assentiram com a cabeça, como se eu fosse um membro silencioso daquele grupo.
— Chegou na hora certa — disse ele. — Estou prestes a dar um xeque-mate, mas não espalha. Esses caras nunca me deixariam esquecer.
Fazia anos que eu não o via rir assim, como se os anos tivessem simplesmente derretido. Ele não era o senhor frágil que eu ajudava a entrar no carro para ir ao médico. O homem calado e pensativo de casa parecia ter desaparecido ali. Ele fazia parte de algo maior — algo que o mantinha vivo.
O jogo continuou.
— Dessa vez você deu sorte, velho trapaceiro — murmurou um dos jogadores, enquanto meu avô movia o cavalo.
— Sorte nada, Harold. Isso aqui é habilidade pura — respondeu ele, rindo.
Eu observava impressionado. Havia uma energia nele que eu não via há muito tempo. Ele estava presente. Vivo. O som suave das peças deslizando, os movimentos calculados, a troca de provocações entre eles… tudo revelava um outro lado dele. Um lado que eu não conhecia. Um lado que eu não via.
Em casa, ele era uma sombra. Os dias se repetiam. Ele assistia aos mesmos programas, dormia na poltrona, vivia perdendo os óculos. E doía vê-lo assim.
Mas ali, no parque, cercado de velhos amigos, ele era brilhante. Rápido. Cheio de uma energia que se recusava a desaparecer com o tempo.
Quando o jogo terminou, ele recostou-se no banco e enxugou a testa como se tivesse corrido uma maratona.
— Xeque-mate — anunciou com orgulho. Os outros resmungaram, fingindo estar arrasados.
Harold sorriu e disse:
— É que hoje não usamos um tabuleiro de verdade. Senão você nem teria chegado perto.
— Ah, eu ganharia do mesmo jeito — respondeu meu avô, rindo alto.
Os outros começaram a guardar as peças e foram embora aos poucos. Mas meu avô ficou sentado, olhando para o tabuleiro com um sorriso leve.
Eu não queria ir embora. Aquilo me prendeu. Foi nesse momento que percebi o quanto eu sabia pouco sobre a vida dele fora da nossa convivência. Fiquei ali com ele até que o parque começou a esvaziar e o ar da noite ficou mais frio.
— Vovô — disse após um longo silêncio — por que você nunca me contou sobre isso?
Ele riu.
— Contar o quê? É só xadrez. Só velhos amigos e um jogo mais velho que a gente.
Mas era mais do que isso. Seus olhos brilhavam enquanto falava, e suas mãos pareciam ganhar vida a cada movimento das peças. Era assim que ele se conectava com o passado. Com uma versão mais jovem de si mesmo.
— Você joga aqui há muito tempo? — perguntei, agora realmente curioso.
— Desde antes de você nascer — respondeu sorrindo. — Todo sábado. Nunca falhei. Acha que fico em casa só esperando o tempo passar? Nada disso. Harold, Rick e Sam são meus parceiros há décadas. Temos história.
Seu orgulho me fez sorrir.
— Por que nunca me falou sobre eles?
Ele deu de ombros.
— Achei que você não se importaria. Você tem sua vida. E… você nunca perguntou.
E era isso. Eu nunca tinha perguntado. Nunca tinha enxergado o vovô fora do papel de avô. Achei que a vida dele fosse feita de dias iguais, televisão e silêncio. Mas ali, vendo-o jogar e rir com os amigos, entendi: ele era muito mais.
Quando saímos do parque, ele passou o braço pelas minhas costas.
— Fico feliz que você tenha passado por aqui. Raramente tenho chance de te mostrar isso.
Caminhando ao lado dele naquele fim de tarde, senti que nos conectávamos de novo. Continuávamos sendo família, mas percebi que ele tinha uma vida rica, que não girava ao meu redor. Eu tinha esquecido disso.
Voltei ao parque alguns dias depois. Dessa vez, não só para observar. Pedi para jogar.
Eles me colocaram à mesa, e pela primeira vez, fiz parte daquele espaço e daquele time do vovô. Deixei de ser o neto que aparece com café — comecei a jogar, competir, e aprender. E, enquanto o jogo avançava, entendi algo importante.
O xadrez é estratégico, cheio de surpresas, e às vezes é preciso sacrificar uma peça para seguir adiante. Assim como a vida. A conexão é o mais importante. Estar presente. Participar de algo maior.
Com o tempo, comecei a ir mais. Um encontro casual virou rotina. E algo milagroso aconteceu — passei a enxergar o vovô com outros olhos. Ele me contou sobre sua infância, suas histórias antes de eu nascer. Descobri que ele era um homem com sonhos, objetivos, uma vida inteira além do que eu imaginava.
Então veio a surpresa.
Após uma partida disputada, um dos homens me entregou um envelope. Não era uma carta. Era um documento.
— Tenho pensado muito — disse o vovô, depois que os outros foram embora. — Esse lugar, esse banco, esses jogos… foram meu mundo por muito tempo. Acho que é hora de dividir isso com você.
Durante anos, ele havia mantido um pequeno lote de terra ao lado do parque.
— Quero que seja seu agora — disse ele, emocionado. — Faça o que quiser com ele.
E foi aí que entendi: o maior presente que ele me deu não foram as partidas, nem as risadas, nem a terra. Foi a lição de que viver é mais do que existir. É sobre se conectar, fazer parte de algo, deixar um legado. Ele me deixou um pedaço dele.
Hoje, sempre que volto ao parque, me sento no banco onde ele jogava e penso no que ele deixou para mim. Ele me ensinou a viver de verdade, a valorizar cada momento e a criar espaço para quem realmente importa — não só no terreno, mas na vida.
A vida é isso: aparecer, se entregar, criar memórias… e deixar algo que fique.
Talvez você precise parar de achar que conhece seus velhos… e olhar de verdade. Talvez descubra algo incrível.
Se essa história te tocou, compartilhe com alguém. Vamos lembrar uns aos outros da importância de estar presente, de se conectar e de honrar quem realmente faz a vida valer a pena. ❤️