HISTÓRIAS

Eu usei uma camisola de hospital porque minha avó sentia vergonha de usar a dela.

Mesmo tentando parecer forte, eu via nos olhos da minha avó, Rosa, o constrangimento quando ela foi internada no hospital. Ela detestava a camisola fina que mal cobria sua dignidade e odiava sentir-se vulnerável.

“Misericórdia, estou ridícula”, murmurou, puxando o tecido. “Pareço uma velha bruxa enrugada.”

“Vó, você está linda”, eu disse, mas ela apenas cruzou os braços e virou o rosto.

Naquela noite, perto do fim do horário de visitas, tive uma ideia. Saí escondido, procurei uma enfermeira e pedi uma camisola extra. Ela levantou a sobrancelha, mas me entregou.

Cinco minutos depois, voltei para o quarto da vovó vestindo a mesma camisola horrível que ela. Abri os braços e dei uma voltinha. “Agora estamos combinando.”

Ela franziu a testa confusa e, de repente, caiu na gargalhada. Daquelas que balançam o corpo inteiro. Eu não ouvia aquele som havia semanas.

“Você é doido, menino”, ela disse ainda rindo.

“É de família”, respondi.

Naquela noite, pela primeira vez desde que foi internada, minha avó parou de se incomodar com a camisola. Não tentou se esconder com o lençol. Apenas ficou deitada ali, sorrindo pra mim como se a gente compartilhasse um segredo.

Mas eu só fui entender o quanto aquele gesto significou pra ela no dia seguinte, quando uma enfermeira me chamou de canto, com os olhos marejados.

“Está tudo bem?”, perguntei, preocupado.

Enxugando os cantos dos olhos, ela assentiu. “Eu só queria te dizer o que você fez ontem. Aquilo foi muito bonito.”

Sem jeito, dei de ombros. “Foi só uma bobeira pra fazer ela rir.”

A enfermeira balançou a cabeça. “Não foi bobeira. Desde que chegou aqui, sua avó estava diferente. Quase não falava, rejeitava ajuda, não comia direito. Mas hoje… ela estava outra.”

Olhei em direção ao quarto da vovó, curioso.

“Ela deixou uma auxiliar ajudar a pentear o cabelo hoje cedo”, continuou a enfermeira. “No café da manhã, ela até contou uma piada para outro paciente. Era como se ela tivesse deixado um peso de lado. E acho que foi por sua causa.”

Aquilo me tocou de um jeito inesperado. Talvez eu não tivesse percebido o quanto a vergonha estava afetando minha avó — eu só queria levantar o ânimo dela.

Quando voltei para o quarto, ela estava sentada na cama, folheando uma revista velha com um sorrisinho satisfeito no rosto.

Sentei ao lado dela. “Ora, ora… soube que agora a senhora está fazendo amizades.”

Ela bufou. “Não exagera. Só disse pro seu Romano, do outro quarto, que a melhor coisa que vi essa semana foi a careca dele.”

Eu ri. “Faz sentido.”

Ela estendeu a mão e tocou na minha. “Obrigada por ontem, meu filho. Você não imagina o quanto aquilo significou pra mim.”

Antes que eu pudesse responder, alguém bateu suavemente na porta. Era uma senhora de uns setenta anos.

“Olá, Rosa”, disse, um pouco tímida. “Queria saber se você gostaria de participar do chá da tarde na sala de convivência.”

Em vez de dispensá-la como de costume, vovó olhou de lado pra mim, surpresa.

Levantei a sobrancelha. “Vai lá, vó. Mostra pra eles como se faz.”

Ela suspirou fundo e largou a revista. “Tá bom, mas se servirem aqueles biscoitos sem açúcar horríveis de novo, eu protesto.”

A mulher riu. “Veremos.”

Levantei-me para acompanhá-la, mas ela me parou com um olhar firme.

“Não precisa me escoltar.”

Sorri. “Tem certeza? Posso pegar outra camisola e completar o look.”

Ela revirou os olhos, rindo. “Só não apronta enquanto eu estiver fora.”

Vi minha avó andar pelo corredor com a cabeça um pouco mais erguida, os ombros um pouco mais retos.

E quando voltou mais tarde, havia algo diferente nela. Mais leve. Mais viva.

Sentou-se na cama e anunciou: “Tinha biscoito de verdade. Nada daquela porcaria diet. E o chá tava bom.”

Sorri. “Parece uma avaliação cinco estrelas.”

Ela assentiu e, após um momento de silêncio, passou os dedos na borda do cobertor. “Sabe… acho que eu tinha esquecido. Esquecido que a vida continua acontecendo ao meu redor, enquanto eu ficava aqui me sentindo mal comigo mesma.”

Engoli seco. “Sempre dá tempo de voltar pra vida.”

Ela apertou minha mão mais uma vez. “Você é um bom menino, sabia?”

Meu peito se encheu por dentro, mas só dei de ombros.

Minha avó ficou mais uma semana no hospital. Fez amigos, participou das atividades, e até discutiu animadamente sobre se Frank Sinatra era ou não superestimado. Tudo pra provocar o senhor Romano.

E no dia em que teve alta, olhou-se no espelho com a camisola hospitalar e sorriu.

“Nada mal pra uma velha enrugada, hein?”

Ri. “Nada mal mesmo.”

E talvez — só talvez — eu também tenha aprendido que, às vezes, os menores gestos e as demonstrações mais bobas de afeto são os que mais fazem diferença.

Então, pra você que está lendo isso: nunca subestime o poder de fazer alguém sorrir quando ela mais precisa. Pode ser mais importante do que você imagina.

Se essa história tocou seu coração, compartilhe com alguém que precise lembrar que não está sozinho. 💙

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