Fiquei órfã aos seis anos.

Minha mãe já tinha duas filhas e estava prestes a dar à luz a terceira. Lembro-me vividamente daquele dia: os gritos dela, as vizinhas se reunindo na casa, chorando, desesperadas… e então, o silêncio. A voz da minha mãe foi se apagando até desaparecer completamente.
Até hoje não entendo por que ninguém chamou um médico. Por que ela não foi levada ao hospital? O vilarejo era isolado? As estradas estavam bloqueadas? Nunca soube a resposta. Minha mãe morreu durante o parto, deixando para trás eu, minha irmã mais nova, e a pequena Olguita, recém-nascida.
Meu pai ficou completamente perdido. Estávamos sozinhos no norte da Espanha, longe de todos os nossos parentes que viviam no sul. Não havia ninguém para ajudá-lo a cuidar de nós. As vizinhas, com pena, aconselharam que ele se casasse o quanto antes. Nem mesmo uma semana havia se passado desde o funeral da minha mãe e ele já procurava uma nova esposa.

Sugeriram que ele pedisse a mão de uma professora local, considerada uma mulher boa. Meu pai foi vê-la, propôs casamento e ela aceitou. Imagino que tenha se encantado com ele — jovem, alto, magro, bonito, com olhos negros como carvão. Era difícil não se impressionar.
Naquela mesma tarde, ele chegou em casa com sua nova noiva. — Trouxe uma nova mamãe para vocês! — anunciou com um sorriso.
Uma raiva amarga cresceu dentro de mim. Eu era só uma criança, mas sabia que havia algo errado. A casa ainda tinha o cheiro da minha mãe. Usávamos os vestidos que ela havia costurado e lavado com tanto carinho… e agora meu pai trazia outra mulher para o lugar dela. Hoje eu entendo o desespero dele, mas naquela época, odiei os dois.
A mulher entrou de braços dados com meu pai, e ambos haviam bebido um pouco. Ela nos olhou e disse: — Se me chamarem de mamãe, eu fico.
Virei-me para minha irmãzinha e sussurrei: — Ela não é nossa mãe. A nossa mãe morreu. Não a chame assim.
Minha irmã começou a chorar. E eu, como a mais velha, tomei a frente: — Não vamos chamá-la de mãe! Você é uma estranha!
— Que meninas malcriadas… Pois então, não vou ficar — respondeu ela, ofendida.
Saiu pela porta. Meu pai fez menção de segui-la, mas parou no batente. Ficou ali, imóvel, com a cabeça baixa, e depois voltou, nos abraçou e começou a chorar. Choramos com ele. Até Olguita, no berço, gemeu como se sentisse a tristeza. Chorávamos por nossa mãe, e ele por sua esposa. Mas nossas lágrimas carregavam um peso diferente. As lágrimas dos órfãos são iguais em qualquer lugar do mundo. A saudade de uma mãe perdida fala em todos os idiomas.
Foi a primeira e única vez que vi meu pai chorar.
Ele ficou conosco por mais duas semanas. Trabalhava numa madeireira e logo teria que partir com a equipe para a floresta. Não havia outro trabalho no vilarejo. Antes de ir, deixou dinheiro com uma vizinha para nossa alimentação, levou Olguita para a casa de outra mulher e se despediu.
Ficamos sozinhas. A vizinha vinha, cozinhava algo, acendia o fogão e ia embora. Ela tinha sua própria vida. Nós passávamos os dias com frio, fome e medo.
O povoado começou a se mobilizar. Era preciso encontrar uma mulher que pudesse cuidar de nós. Mas não uma qualquer — alguém com um coração generoso, capaz de amar crianças que não eram suas. Onde encontrar uma mulher assim?
Foi quando alguém mencionou uma parente distante de uma vizinha: uma jovem que havia sido abandonada pelo marido por não poder ter filhos. Ou talvez ela tivesse perdido um bebê e nunca mais engravidado. Ninguém sabia ao certo. Conseguiram seu endereço, enviaram uma carta e, por meio da tia Maruja, entraram em contato com Lola.
Meu pai ainda estava no bosque quando Lola chegou, numa manhã bem cedo. Ela entrou tão silenciosamente que nem percebemos. Acordei com o som de passos leves, como os da minha mãe. Ouvi pratos sendo lavados na cozinha… e senti o cheiro de panquecas!
Minha irmã e eu espiávamos por uma fresta da porta. Lola trabalhava em silêncio — lavava os pratos, esfregava o chão. Quando notou que estávamos acordadas, disse: — Vamos, loirinhas, venham comer!
Ficamos surpresas com o apelido. Minha irmã e eu tínhamos cabelos loiros e olhos azuis, como nossa mãe. Criamos coragem e saímos do quarto. — Sentem-se à mesa! — disse ela com firmeza.
Nem precisou repetir. Comemos as panquecas e começamos a confiar nela. — Podem me chamar de tia Lola.
Ela nos deu banho, lavou nossa roupa e foi embora. No dia seguinte, estávamos ansiosas — e ela voltou. A casa começou a ganhar vida novamente. Tudo ficou limpo, arrumado, com aquele toque de cuidado que lembrava nossa mãe. Passaram-se três semanas, e meu pai ainda não tinha voltado. Tia Lola cuidava de nós com zelo, mas mantinha certa distância emocional, como se tivesse medo de criar laços. Verita se apegou a ela de imediato. Eu era mais cautelosa. Lola era séria, rígida. Nossa mãe era alegre, adorava cantar, dançar, e chamava meu pai de “Juanito”.
— Quando seu pai voltar do bosque, talvez não queira que eu fique. Como ele é? — perguntou.
Tentei descrevê-lo, mas acabei atrapalhando: — Ele é muito bom! Muito calmo! Quando bebe, dorme rapidinho…
— Ele bebe muito? — perguntou, assustada.
— Sim! — respondeu Verita sem pensar.
Eu empurrei minha irmã debaixo da mesa e corrigi: — Não, só em festas.
Naquela noite, Lola foi embora mais tranquila. No fim da tarde, meu pai voltou. Quando entrou em casa, ficou surpreso: — Achei que estariam sofrendo, mas estão vivendo como princesas!
Contamos tudo. Ele ouviu em silêncio e disse: — Vou conhecer essa nova dona da casa. Como ela é?
— Ela é linda! — respondeu Verita — Faz panquecas e conta histórias!
Hoje, dou risada ao lembrar. Lola não era linda. Era pequena, magra, de aparência simples. Mas o que uma criança sabe sobre beleza? Ou talvez… só as crianças enxerguem a verdadeira beleza.
Meu pai riu, se arrumou e foi até a casa da tia Maruja.
No dia seguinte, ele foi buscá-la pessoalmente. Ela entrou tímida, quase com medo. Eu disse à Verita: — Vamos chamá-la de mamãe. Essa é boa.
E gritamos juntas: — Mamãe! A mamãe chegou!
Depois disso, meu pai e Lola foram juntos buscar Olguita. Para ela, Lola foi uma verdadeira mãe. Cuidava dela como se fosse feita de ouro. Olguita não tinha lembranças da nossa mãe. Verita, com o tempo, também esqueceu. Mas eu nunca esqueci. E meu pai também não.
Certa vez, ouvi meu pai olhando uma foto da minha mãe, murmurando: — Por que você foi embora tão cedo? Você se foi… e levou toda a minha alegria com você.
Não vivi muito tempo com meu pai e com Lola. A partir da quarta série, fui para um internato, pois no nosso vilarejo não havia escolas maiores. Após o sétimo ano, entrei numa escola técnica. Sempre quis sair de casa cedo. Por quê? Lola nunca me fez mal. Cuidou de mim como uma filha. Mas, mesmo assim, eu mantinha uma certa distância. Seria ingratidão?
Talvez não tenha sido por acaso que escolhi ser parteira. Não posso voltar no tempo para salvar minha mãe…
Mas posso salvar outras.