HISTÓRIAS

Fizemos um pacto neste banco em 1984 — e nos reencontramos aqui 30 anos depois.


Naquela época, não tínhamos quase nada — apenas roupas punk, cerveja barata e muita atitude.

Todo fim de semana a gente se reunia naquele banco como se fosse o nosso próprio reino particular. Discutíamos sobre bandas, compartilhávamos cigarros pela metade, desafiávamos uns aos outros a fazer as coisas mais estúpidas. Ninguém de nós tinha um trabalho do qual pudesse se orgulhar, mas isso não importava. Tínhamos uns aos outros. E tínhamos uma única regra:

“Aconteça o que acontecer — mesmo banco, mesma galera, daqui a 30 anos.”

Fechamos o acordo. Um pacto de sangue completo, como idiotas num filme.

Então a vida seguiu seu rumo.

Dale foi o primeiro a se casar — e também o primeiro a se divorciar.
Eu me mudei de cidade por causa de um emprego mal remunerado.
Kev desapareceu por alguns anos — descobrimos depois que ele estava tentando se livrar das drogas e não queria que a gente o visse daquele jeito.
Richie? Abriu um estúdio de tatuagem antes mesmo disso virar moda.

Fomos perdendo o contato. Quase sempre.
Algumas mensagens de aniversário aqui, uma visita inesperada ao hospital ali.

Mas no mês passado, recebi uma mensagem no nosso antigo grupo. Só uma frase:

“Vocês ainda sabem onde fica o banco?”

Sem carinhas. Sem explicações. Só isso.

E claro, a gente apareceu.
Nada de moicanos ou jeans rasgados — apenas joelhos cansados, tatuagens desbotadas e mais histórias do que tempo. Richie trouxe garrafas verdes, como nos velhos tempos. Dale ainda dobra as mangas como se tivesse 20 anos.

Então Kev tirou algo do bolso — algo que, segundo ele, estava guardado desde aquele verão de 84.
Um pouco amarelada nas bordas, era uma velha foto Polaroid dos quatro sentados exatamente onde estávamos agora, parecendo impossivelmente jovens e invencíveis. O banco atrás de nós, com a tinta ainda viva, parecia mais novo.

— Lembram disso? — perguntou Kev, com a voz carregada de emoção. — Foi tirada logo depois de fazermos o pacto.

Não consegui evitar de rir ao ver o quão sérios parecíamos, tão certos de que 30 anos não mudariam nada entre a gente. Dale balançou a cabeça, apertando os olhos para a foto.

— Esses cortes de cabelo são horríveis — disse. — O que a gente tinha na cabeça?

Richie abriu uma garrafa e a passou.
— Brindamos? — disse ele. — Foi isso que nos meteu em encrenca naquela época.

Rimos todos, um pouco menos alto e com mais cuidado, mas o som se espalhou pelo parque tranquilo como antigamente.

Kev estava especialmente quieto enquanto trocávamos memórias.
Quando perguntei o motivo, ele soltou um suspiro longo.
— Tem mais uma coisa — disse, pegando um pequeno caderno de couro. — Encontrei isso entre umas coisas antigas… É, digamos, um diário daquela época.

Movidos pela curiosidade, pedimos que lesse algumas partes.
À medida que ele virava as páginas, uma nova imagem do nosso passado se revelava.
Objetivos que havíamos esquecido: Dale queria ser músico, Richie sonhava em conhecer o mundo, e até eu tinha planos de escrever livros. Mas os trechos mais marcantes eram os de Kev. Ele escrevia sobre seu desejo de ajudar pessoas que lutavam contra os vícios — como ele viria a fazer.

— Isso aqui não é só nostalgia — comentou Kev, suavemente. — É um lembrete de quem a gente queria ser.

Richie quebrou o silêncio, que havia se instalado denso no ar.

— Talvez ainda dê tempo. Tudo bem, cada um seguiu seu rumo, mas quem sabe a gente ainda possa correr atrás daqueles sonhos?

Dale fez que sim com a cabeça, de forma séria.

— Tenho voltado a tocar guitarra ultimamente. Vai ver, música nem era um plano tão absurdo assim.

Inspirado pela honestidade deles, confessei que vinha escrevendo contos nas pausas do trabalho.
— Talvez seja hora de levá-los a sério.

Kev sorriu, com uma leveza no rosto que não mostrava a noite toda.
— Tenho trabalhado em centros de reabilitação. Se nada mais, talvez contar nossa história ajude alguém a continuar lutando.

À medida que a noite avançava, criamos novos planos — nada exagerado, nada impossível. Promessas sinceras de respeitar as versões mais jovens de nós mesmos. Decidimos nos reunir com frequência, não só para lembrar, mas para apoiar os caminhos que voltamos a sonhar.

Antes de irmos embora, ainda na penumbra do amanhecer, nos levantamos juntos uma última vez. O parque começava a despertar com os primeiros corredores e o canto tímido dos pássaros. As sombras se estendiam sobre o banco que nos acolhera tantos anos antes.

— Sabe… — disse Dale, olhando para o banco — esse lugar não mudou quase nada. Parece que estava esperando por nós.

— Estava — respondeu Kev, guardando o diário com cuidado. — Assim como a gente esperou uns pelos outros.

Enquanto me afastava, percebi que a força real daquele pacto não estava apenas no compromisso de voltar a um lugar específico.
Estava no lembrete de que crescer não é esquecer de onde viemos.
Olhar para trás de vez em quando nos ajuda a seguir em frente com propósito.

Lição de vida: Nosso passado nos molda, mas não define nosso futuro. Honrar quem já fomos pode nos dar forças para nos tornarmos quem deveríamos ser.

Se essa história tocou você, compartilhe. Que mais pessoas saibam que nunca é tarde para se reconectar com seus antigos sonhos. 🌱


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