Hoje convidei minha ex-nora e meus netos para o jantar de Natal — mas proibi a entrada do meu filho.

A noite de Natal sempre foi um momento especial para mim. É quando a família se reúne, quando os risos das crianças enchem a casa e o cheirinho de comida caseira toma conta do ar. Mas este ano, como nos últimos cinco, as coisas são diferentes. Hoje, estou preparando o jantar com todo carinho para receber minha ex-nora Ana e meus netos, mas deixei claro que meu filho não está convidado.
Enquanto tempero o peru e ajeito os talheres sobre a mesa, penso nos rostos alegres dos meus netos ao chegarem. Preparei um bolo de chocolate que eles adoram e comprei presentes escolhidos com todo o amor do mundo. Quero que entrem cantando, sorrindo, e que o Natal deles seja feliz, mesmo que a família tenha sido rompida por decisões que não foram deles.

Não foi fácil tomar essa decisão. Mas foi necessária. Desde o dia em que meu filho abandonou Ana e os filhos pequenos, eu não consegui olhar para ele da mesma forma. Liguei para Ana, como faço todos os anos, e a convidei com os meninos. Mas fiz questão de deixar claro que ele não deveria aparecer. Já havia dito a ele, quando se separou, que para mim, nora só havia uma — e o nome dela é Ana.
Meu filho se divorciou há cinco anos. Foi uma atitude covarde e egoísta. Ele se envolveu com outra mulher enquanto ainda era casado, escondendo a traição por meses. Quando o filho mais novo mal tinha aprendido a engatinhar, ele arrumou as malas e foi embora, pressionado por um ultimato da amante. Deixou Ana sozinha, sem emprego fixo, com dois filhos pequenos nos braços e uma rotina inteira desmoronando.
Desde o início, me coloquei ao lado de Ana. Ela sempre foi uma excelente esposa e uma mãe dedicada. Enfrentou a dor da traição e do abandono com uma força que poucos teriam. E mesmo assim, meu filho nunca se arrependeu. Cumpre o mínimo: paga a pensão. Mas dinheiro não é tudo. Criança precisa de presença, de afeto, de exemplo. E ele nunca mais ofereceu isso aos filhos.
Um ano atrás, ele se casou novamente. Todos pensavam que, com o tempo, eu aceitaria a nova esposa, que faria vista grossa. Mas eu não consigo. Recentemente, ele teve outro filho, e me perguntam se não quero conhecer meu “novo neto”. Com todo respeito, eu não preciso de novos netos. Meus netos são os filhos de Ana. São eles que cresceram comigo, que passam os fins de semana em minha casa, que correm para meus braços quando chegam da escola.
Disse isso claramente a ele. Um dia, acredito que ele voltará, arrependido, quando perceber o que perdeu. Mas por enquanto, ele está afastado. E eu sigo vivendo o que resta da minha vida ao lado daqueles que realmente me importam: Ana e meus netos.
Com Ana, minha relação é maravilhosa. Nos falamos sempre, nos visitamos, passamos datas importantes juntas. Ela é uma mulher forte, íntegra, que dedica todos os seus esforços aos filhos. Como avó, faço tudo que posso: ajudo com as tarefas, levo e busco da escola, dou carinho, apoio financeiro, conselhos… E com o tempo, Ana se tornou mais que uma ex-nora. Ela se tornou como uma filha para mim. Os pais dela moram a mais de 600 quilômetros de distância, então sou eu quem está mais próxima, quem ampara nos dias difíceis, quem vibra nas pequenas conquistas.
Agora, a ceia está quase pronta. A mesa está posta, o cheiro do bolo começa a se espalhar pela casa, e eu só espero por eles. Meus netos e minha querida Ana — minha família, do jeito que eu escolhi mantê-la. Eles virão com sorrisos, talvez com músicas natalinas, talvez apenas com aquele abraço apertado que aquece mais que qualquer presente.
E sei, no fundo do meu coração, que enquanto eu estiver viva, eles nunca estarão sozinhos. Porque meu amor por eles é incondicional. Porque o Natal é deles. Porque, mesmo com todas as dores do passado, o que permanece é o afeto verdadeiro. E ele mora aqui, nesta casa.