HISTÓRIAS

Meu Marido Foi em uma Viagem de Negócios Antes do Natal — e na Véspera Descobri que Ele Mentiu e Estava na Nossa Cidade.


Sempre acreditei que meu marido e eu compartilhávamos tudo.
Pelo menos, era o que eu pensava… até o Dia de Natal, quando tudo ao meu redor desmoronou.

— Andrea, preciso te contar uma coisa — disse Shawn, tamborilando os dedos nervosamente no balcão da cozinha. — Meu chefe ligou. Ele precisa que eu resolva um problema urgente com um cliente em Boston.

— Em pleno Natal? — meus olhos se arregalaram.

— Você nunca precisou viajar no Natal antes — murmurei, apertando minha caneca de café para me aquecer. — Ninguém mais pode cuidar disso?

— Eu prometo que vou compensar. A gente vai ter o nosso próprio Natal assim que eu voltar.

Tentei sorrir, mas o peso da decepção apertava meu peito.

— Quando você vai?

— Hoje à noite. Sinto muito, amor.

Naquela noite, enquanto o ajudava a arrumar a mala, lembranças dos nossos momentos juntos invadiram minha mente.

— Me desculpa por essa viagem, querida — disse ele, com um sorriso um pouco apagado.

— Eu sei! — sentei-me na beirada da cama. — É só que… o Natal não vai ser o mesmo sem você.

Encostei a cabeça em seu ombro.

— Promete que vai ligar?

— Toda chance que eu tiver. Eu te amo.

— Também te amo.

Assisti enquanto ele partia de carro, mas algo lá no fundo da minha mente insistia em me incomodar.
Mas empurrei aquela sensação para longe. Era o Shawn. Meu Shawn. O homem em quem eu mais confiava no mundo.

Às 21h, meu celular iluminou com uma ligação. Era ele. Meu coração se encheu de alegria.

— Feliz Natal, linda — disse ele, com um tom estranho, tenso.

— Feliz Natal! Como está Boston? Conseguiu resolver o problema com o cliente?

— Está… uh… tudo bem. Escuta, não posso falar agora. Tenho que ir…

— Tenho que ir! — praticamente gritou. — Reunião de emergência!

Fiquei olhando para o celular, com as mãos tremendo. Uma reunião de emergência? Às nove da noite? Na véspera de Natal? Com sons de restaurante ao fundo? Nada fazia sentido.

Foi então que me lembrei da minha pulseira fitness. Eu a deixei no carro dele no último fim de semana, depois das compras.

Com os dedos trêmulos, abri o aplicativo no meu celular.

O carro de Shawn não estava em Boston. Estava estacionado em um hotel na nossa própria cidade, a apenas 15 minutos de casa.

Um hotel? Na nossa cidade? Na Véspera de Natal?

Ele estava encontrando alguém? Será que todo o nosso casamento era uma mentira?

— Não… — sussurrei para mim mesma. — Não, não, não…

Sem pensar duas vezes, entrei no carro e fui direto para o hotel.

E lá estava. O carro prateado de Shawn, bem no estacionamento.

Com o coração batendo forte, entrei no saguão tremendo da cabeça aos pés.

— Posso te ajudar? — perguntou a recepcionista, com um sorriso educado.

— Este homem é meu marido. Em qual quarto ele está?

Ela hesitou.

— Senhora, não posso…

— Por favor… ele disse que estava em Boston. Mas o carro dele está ali fora. Eu preciso saber o que está acontecendo.

Ela me olhou nos olhos, respirou fundo e disse:

— Quarto 412. Mas, senhorita… às vezes as coisas não são o que parecem.

Quase não ouvi suas últimas palavras. Corri para o elevador.

Quarto 412.
Não bati. Apenas passei o cartão-chave e entrei.

— Shawn, como você pôde—

As palavras morreram na minha garganta.

Shawn estava ali… ao lado de uma cadeira de rodas.

E sentado nela… um homem de cabelos grisalhos e olhos familiares. Olhos que eu não via desde que tinha cinco anos de idade.

PAI? — a palavra saiu como um sussurro, uma prece, uma dúvida que carregava há 26 anos.

ANDREA! — meu pai exclamou, com a voz embargada. — Minha menininha…

— Como? — me virei para Shawn, com as lágrimas já escorrendo. — Como você…?

— Eu estava procurando por ele há um ano — disse Shawn baixinho. — Consegui algumas informações com sua mãe antes dela falecer. Encontrei ele no Arizona semana passada, com ajuda de contatos nas redes sociais. Ele teve um AVC anos atrás e perdeu os movimentos das pernas. Dirigi até lá ontem… Queria te fazer uma surpresa de Natal.

Caí de joelhos ao lado da cadeira de rodas, chorando, enquanto ele me envolvia com os braços.

— Eu pensei… — tentei falar em meio aos soluços. — Quando vi o hotel… achei que…

— Oh, meu amor — Shawn se ajoelhou ao nosso lado. — Eu queria tanto te contar… Mas precisava ter certeza de que conseguiria encontrá-lo primeiro. Não queria te decepcionar se não desse certo.

Ele me puxou para o sofá do quarto.

— Eu só queria que fosse perfeito. Amanhã, no café da manhã… seu pai entrando… ou melhor, rodando… e ver seu rosto…

— Tenho 26 anos de histórias guardadas — disse meu pai, com um sorriso emocionado. — Se você quiser ouvir.

— Quero ouvir tudo — segurei sua mão com força. — Cada uma delas.

E naquele quarto de hotel, entre lágrimas e abraços, o som das nossas risadas ecoou como o maior presente de Natal que eu poderia ter recebido.


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