HISTÓRIAS

Meu namorado mandou mensagem: “Vou dormir na casa da Lara hoje, não me espere.”

Eu respondi: “Obrigada por avisar.” Depois empacotei todas as roupas dele e deixei na porta da Lara. Às 3 da manhã, o telefone tocou…

A mensagem chegou às 19h05.

“Vou dormir na casa da Lara. Não me espere.”

Seis palavras. Frias, diretas. Suficientes para encerrar dois anos de relacionamento.

Lara.
O nome que eu já vinha vendo com frequência demais — nas curtidas de madrugada, nas mensagens “inocentes”, nas desculpas mal contadas.

O jantar ainda estava no fogo.
O cheiro de legumes queimados tomou conta do apartamento — e, ironicamente, parecia combinar com o gosto amargo da traição que subia pela garganta.

Respirei fundo.
Não chorei.
Não gritei.

Apenas digitei:

“Obrigada por avisar.”

Sete palavras. Frias também.
Mas, desta vez, com propósito.

Desliguei o fogão. Peguei uma caixa de papelão e comecei a empacotar tudo o que era dele:
as roupas, os perfumes caros, os sapatos, a escova de dentes, o videogame, até aquele quadro horrível que ele dizia ser “do nosso cantinho”.

Fiz tudo em silêncio.
Cada peça dobrada era uma lembrança a menos.
Cada fita adesiva, um ponto final.

Às 23h15, o carro estava parado em frente ao prédio da Lara.
Desci, empilhei as caixas na porta e deixei um bilhete por cima:

“As coisas do Ethan. Agora ele é seu.”

Voltei pra casa sem olhar pra trás.
À meia-noite, já tinha trocado os cadeados.
R$ 900 em segurança emocional — o melhor investimento da minha vida.

As ligações começaram logo depois.
Primeiro, mensagens:

“Vivian? O que é isso?”
“Onde estão minhas coisas?”
“Isso não é engraçado, me atende!”

Depois, batidas na porta.

“Abre, Viv! Você tá maluca?”

Respondi por mensagem:

“Você disse que ia dormir na casa da Lara. Só ajudei com a mudança.”

Silêncio.
Por duas longas horas.

Mas às 3h da manhã, o telefone tocou de novo.
Número desconhecido.

Atendi.
Do outro lado, uma respiração trêmula… e então a voz dele, rouca, sem o tom arrogante de sempre:

“Vivian… sou eu…”

Pude ouvir barulho de chuva, vento… e, ao fundo, sirenes.

“A Lara… o apartamento dela pegou fogo. Eu tentei ajudar, mas…”
A voz dele se quebrou.
“Ela não conseguiu sair.”

Por um instante, fiquei sem palavras.
A raiva, o orgulho e a dor se misturaram em um nó impossível de desatar.

Ele chorava.
E, pela primeira vez, percebi: nem sempre o castigo vem da gente — às vezes, vem da vida.

Respirei fundo e disse apenas:

“Sinto muito, Ethan. De verdade. Mas não posso te ajudar.”

Desliguei o telefone.
Deitei na cama.
E, pela primeira vez em muito tempo, dormi em paz.

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