HISTÓRIAS

MEU VIZINHO DERRUBAVA MINHAS LIXEIRAS — DEPOIS DE TRÊS MULTAS DA ASSOCIAÇÃO, ENSINEI A ELE UMA LIÇÃO DE EDUCAÇÃO

Quando meu marido, James, faleceu há dois anos, pensei que já tivesse enfrentado a pior tempestade da minha vida. Criar três filhos sozinha — Jason (14), Luke (12) e o pequeno Noah (9) — não foi fácil, mas com o tempo encontramos nosso ritmo.

A vida, enfim, parecia estável. Gerenciável.

Até que meu vizinho decidiu declarar guerra às minhas lixeiras.

Em todo dia de coleta, eu acordava e encontrava os latões virados, com o lixo espalhado pela rua como confete.

Não restava alternativa: luvas nas mãos, vassoura e sacos novos para limpar tudo antes que a associação de moradores viesse me aplicar outra multa.

Foram três multas em dois meses. A associação já não aceitava minhas justificativas. Estavam decididos a penalizar, mesmo sem provas.

Mas numa manhã de terça-feira, observei da janela da sala. Vi Edwin, meu vizinho de 65 anos, que morava sozinho, atravessar a rua. Com um único movimento, derrubou as lixeiras e voltou para casa como se nada tivesse acontecido.

Meu sangue ferveu.

Estava prestes a calçar os sapatos para tirar satisfação, quando Noah desceu correndo as escadas, pedindo ajuda com a lição de matemática.

Dever de casa primeiro. Guerra do lixo depois.

Na semana seguinte, me preparei. Fiquei de vigia.

Às 7h04, lá estava ele novamente, derrubando os latões com um ar de satisfação.

Aquilo foi a gota d’água.

Atravessei a rua com o coração acelerado. Ia bater na porta, mas… parei. Minha mão ficou suspensa no ar. O que eu queria realmente dizer?

Naquela noite, Jason me encarou com os braços cruzados:
— “Você vai deixar ele sair impune?”
— “Ele tá passando por cima da gente, mãe.”
— “Estou mostrando que existe um caminho melhor”, respondi.

Ele sorriu. E concordou com a cabeça.

Foi então, preparando uma lasanha para o jantar, que tive uma ideia:
E se, ao invés de revidar com raiva, eu respondesse com gentileza?

Na semana seguinte, não fiquei de guarda. Eu assei um pão de banana.
Enrolei no papel alumínio, amarrei com barbante e deixei na varanda de Edwin.

Durante alguns dias, o pão ficou intocado. As lixeiras ficaram de pé.
E então, numa manhã, o pão tinha desaparecido.

Ganhei coragem e insisti. Na semana seguinte, preparei uma torta. Depois, uma sopa de frango com macarrão.

Os dias passaram. As semanas também.
Edwin nunca aparecia. Mas as lixeiras continuavam intactas.

Foi só quando levei um prato de cookies no sábado que a porta rangeu.

— “O que você quer?”, ele perguntou com um suspiro.

Após um momento de silêncio desconfortável, ele me convidou a entrar.

Sentamos no sofá antigo. Ele começou a falar.

— “Minha esposa morreu há quatro anos. Câncer. Depois disso, meus filhos… seguiram suas vidas. Mal os vejo.”
— “Eu via você com seus meninos… rindo, se ajudando. Doía. Me fazia sentir raiva, mesmo não sendo culpa sua. Derrubar suas lixeiras foi uma estupidez. Eu só… não sabia lidar.”

Ele abaixou a cabeça.

— “Sinto muito.”

— “Eu te perdoo”, respondi. E disse isso de coração.

Convidei Edwin para participar do grupo de leitura que temos aos sábados na biblioteca.

No início ele resistiu. Mas no sábado seguinte, apareceu.
Na terceira reunião, já recomendava livros e fazia piadas com os outros.

A virada aconteceu quando Victoria, uma viúva animada dos seus 70 anos, o chamou para jogar baralho na casa dela. Ele aceitou.

As lixeiras nunca mais foram derrubadas. As multas cessaram.

E Edwin? Nunca mais esteve sozinho.

Naquele momento, percebi: não estávamos apenas ajudando Edwin a se curar.

Ele também estava nos ajudando.

Artigos relacionados