HISTÓRIAS

Meus Netos Já Tinham Reservado Meu Túmulo e Minha Lápide — Mas Esqueceram Que Posso Ser Muito Mais do Que Apenas Gentil

Eles achavam que eu era apenas uma velhinha generosa com um pé na cova. Mas quando ouvi meus próprios filhos discutindo a lápide que já haviam escolhido para mim, percebi que era hora de mostrar que bondade não é sinônimo de fraqueza.

Meu nome é Martha, tenho 74 anos e alguns meses. Passei a maior parte da minha vida sendo mãe de três filhos: Betty, a mais velha, Thomas, o do meio, e Sarah, a caçula. Dei tudo o que pude a eles — amor, cuidado, tempo e dedicação.

Com o passar dos anos, eles cresceram, casaram-se e construíram suas próprias famílias. E, pouco a pouco, fui me tornando uma visita esquecida. Os almoços de domingo, antes sagrados, foram substituídos por desculpas:

— “Mãe, temos treino de futebol,” dizia Betty.
— “Thomas Jr. tem apresentação,” explicava Thomas.
— “O trabalho está uma loucura,” suspirava Sarah.

Eu entendia. A vida segue. Os jovens têm seus caminhos.

Mas quando meu marido Harold faleceu, seis anos atrás, tudo mudou. A solidão ficou mais pesada. Depois de uma segunda queda — em que passei horas caída no chão da cozinha até que um vizinho me encontrasse — meus filhos decidiram que era hora de eu ir para um asilo.

— “É o melhor para você, mãe,” disseram.
— “Lá você terá pessoas cuidando de você.”

Estou no asilo há quatro anos. No começo, chorei quase todas as noites. Meu quarto era minúsculo comparado à minha antiga casa. Sentia-me sozinha, descartada.

Com o tempo, fui me adaptando. Meus filhos e netos? Vinham muito raramente. Mas tudo mudou quando minha saúde começou a piorar. De repente, visitas constantes, flores, abraços, preocupação. Até os netos apareceram — embora mais interessados nos celulares do que em mim.

O motivo? Minha herança. E o seguro de vida.

Numa terça-feira, Betty me ligou. Conversamos sobre bingo e sobre a neta dela. Após desligar, percebi que ela não havia encerrado a chamada do lado dela. E ouvi tudo.

Estavam ela, Thomas, Sarah e alguns netos:

— “A mãe parece melhor hoje,” disse Betty.
— “Que bom,” respondeu Thomas.
— “Mesmo assim, melhor estarmos preparados. Já reservei o túmulo ao lado do papai pra ela,” completou Betty.
— “Conseguiu o desconto familiar?”, perguntou Sarah.
— “Melhor que isso. A gravação da lápide saiu de graça. Só falta a data.”
— “Alguém já pagou o monumento?”, perguntou uma das netas.
— “Ainda não. Ninguém quer adiantar o valor.”
— “Alguém paga agora e eu reembolso com a herança!”, brincou Betty.

Naquela noite, deitada na cama do hospital, senti tristeza. Mas, logo, a tristeza virou determinação. Pedi um travesseiro extra, tomei os remédios sem reclamar, e bebi toda a água. Em menos de um mês, o médico estava surpreso com minha recuperação:

— “Você é uma lutadora, Martha.”
— “Você não faz ideia,” respondi.

De volta ao asilo, fiz algumas ligações: pro advogado, pro banco… e pros meus filhos.

— “Quero falar sobre meu testamento. Depois desse susto, quero deixar tudo em ordem. Venham todos neste sábado — tragam filhos e netos também. É importante.”

No sábado, pedi aos enfermeiros que preparassem a sala comunitária. Quando chegaram:

— “Mamãe, você está ótima,” disse Betty.
— “Obrigada por virem, sei que a vida é corrida.”

O Sr. Jenkins, meu advogado, abriu a pasta.

— “Este é meu testamento atual. Divide tudo igualmente entre meus três filhos, com partes para netos e bisnetos.”

Todos sorriram, inclinando-se pra frente. Mas então continuei:

— “Mas percebi que isso não era justo.”
— “Sr. Jenkins, por favor, leia o novo testamento.”

— “Eu, Martha, em pleno juízo, deixo um dólar para cada um dos meus filhos — Betty, Thomas e Sarah. E também um dólar para cada neto.”

A sala virou um caos. Gritos, rostos vermelhos, lágrimas. Sarah chorava. Betty, indignada:

— “O que é isso, mamãe? Uma piada?”

— “Nenhuma piada. Tirei quase todo o dinheiro do banco, vendi a casa e doei uma grande parte para o Fundo de Apoio aos Residentes aqui do asilo e para a Pesquisa contra o Câncer — em memória do seu pai. Achei que faria mais bem lá do que nos bolsos gananciosos de vocês.”

— “Mas… essa era a nossa herança!” gritou um dos netos.

— “Engraçado. Eu pensei que era o meu dinheiro. Eu e seu avô trabalhamos duro por ele. Economizamos cada centavo enquanto vocês viviam suas vidas, sem sequer me visitar mais de cinco vezes em quatro anos.”

Silêncio.

— “Ouvi vocês, sabiam? Falando sobre meu túmulo, sobre minha lápide, rindo ao dizer que iam pagar com a minha herança. Nenhum de vocês pensou que talvez eu ainda não estivesse pronta pra ser enterrada?”

O constrangimento tomou conta.

— “Agora, com licença… Eu e Gladys temos bingo às quatro e preciso descansar.”

Sarah perguntou baixinho:

— “Você doou tudo mesmo?”

Pisquei pra ela.

— “Quase tudo. Guardei o suficiente para algumas viagens. Quer ir comigo ao Grand Canyon?”

Ela sorriu:
— “Claro que quero!”

E quanto a mim? Parto para o Grand Canyon no próximo mês. A vida é curta demais pra ficar esperando por uma lápide.

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