MINHA IRMÃ ME EXPULSOU DE CASA APÓS A MORTE DO NOSSO PAI — MAS ELA NÃO SABIA QUE ELE JÁ TINHA PREVISTO TUDO.

Antes da morte do nosso pai, éramos apenas três pessoas morando na casa dele: eu, meu pai e minha irmã mais velha, Charlotte, de 35 anos. Mas, para ser sincera, ela mal aparecia. Nunca se comportou como parte da família. A casa era mais um ponto de passagem para ela do que um lar.
Duas semanas atrás, meu pai faleceu. Nós éramos extremamente próximos — ao contrário de Charlotte, que sempre manteve distância.
Então veio o testamento.
No escritório do advogado, descobrimos que meu pai deixou a casa inteira para Charlotte. E para mim? Um relógio antigo que era dele.
Quase desabei quando o peguei nas mãos. Era como segurar uma parte dele.

Por alguns dias, ainda dividimos o mesmo teto. Até que, do nada, Charlotte me disse:
— É isso. Nossos caminhos se separam aqui. Preciso que você saia.
Eu tinha acabado de chegar do trabalho. E minhas coisas? Já estavam empacotadas e largadas ao lado da porta.
Desesperada, liguei para nosso advogado, Matthew, contei que Charlotte me havia expulsado e pedi orientação.
Mas, em vez de empatia, ele soltou uma risada.
— Eu não acredito! Está acontecendo exatamente como seu pai previu. Venha ao meu escritório amanhã — tenho algo pra te mostrar.
Ele ainda disse:
— Vou reservar um motel ou pousada pra você. Me dá dez minutos, vou mandar um carro com o endereço.
Aguardei a mensagem. Quando o carro chegou, o motorista me levou até uma pousada acolhedora e tranquila.
— Aqui está, senhorita — disse ele, tirando minhas malas do porta-malas.
Mal estava desarrumando meu pijama quando a dona da pousada bateu à porta:
— Dawn? O Matthew pediu que eu trouxesse seu jantar. Tenho macarrão com queijo e salada.
Fiquei impressionada com o cuidado do advogado. Eu mal o conhecia, mas ele estava me ajudando como ninguém.
Quase não dormi naquela noite.
Na manhã seguinte, fui até o escritório de Matthew, exausta e emocionalmente esgotada. Ele me recebeu com um sorriso caloroso.
— Sente-se, menina — disse ele. — Vai querer estar sentada pra isso.
— O que está acontecendo?
Ele deslizou uma pasta pela mesa.
— Seu pai era um homem muito inteligente, Dawn. Ele sabia que Charlotte provavelmente te expulsaria assim que tivesse controle da casa.
— Ele sabia? — perguntei, engolindo seco.
— Foi por isso que ele me fez preparar este documento.
Matthew abriu a pasta.
— Sete anos atrás, seu pai herdou uma grande quantia de dinheiro. Quase dois milhões de dólares, de um parente distante sem filhos, a quem seu pai ajudou nos momentos difíceis.
— O quê?! — fiquei boquiaberta.
— Sim, e ele nunca contou isso a vocês. Mas com certeza teve seus motivos. Agora, aqui está o ponto importante, Dawn: ele dividiu o dinheiro entre você e Charlotte.
— Ela também tem uma parte? — perguntei, já sentindo o coração afundar.
— Sim. Mas há uma condição. Charlotte só pode ficar com a parte dela se aceitar dividir a casa igualmente com você.
Endireitei a postura. Finalmente, uma luz no fim do túnel.
— Se sua irmã se recusar, ela perde tudo — continuou ele. — E tem mais: seu pai deixou isso aqui.
Ele me entregou uma carta. Era a caligrafia dele.
Dawn, minha querida,
Eu conheço a Charlotte, meu bem. Sei exatamente o que ela vai fazer.
Mas você é mais esperta que ela. Sempre foi.
O dinheiro está em um cofre. Use com sabedoria, minha menina.
Te amo mais do que tudo.
— Papai
Olhei os detalhes da conta bancária.
— Eu não sei a senha do cofre — sussurrei.
Matthew sorriu.
— O relógio — disse simplesmente.
Tirei o relógio do pulso e o virei. No verso, havia pequenos riscos. Quatro números, quase invisíveis, mas ali estavam.
Um código.
Matthew sorriu.
— Seu pai era um gênio, Dawn.
Pela primeira vez desde a morte dele, eu ri de verdade.
Charlotte podia ter a casa, mas também herdou todas as dívidas. E tinha acabado de expulsar a única pessoa que poderia salvá-la de perder tudo.
Alguns dias depois, ainda estava hospedada na pousada quando Charlotte me ligou. Deixei o celular tocar enquanto pegava um copo d’água. Depois atendi.
— Alô? — falei com doçura.
— Você sabia, não é? — ela rosnou.
— Saber o quê?
— Da casa — respondeu, irritada. — O advogado me ligou. Há dívidas. Muitas. Se não forem pagas, a casa será tomada, Dawn. E você… — ela respirou fundo. — Você tem o dinheiro, não tem?
Olhei para o relógio do meu pai, girando-o no pulso.
— Talvez eu tenha o dinheiro… Mas, convenhamos, nossa história não é das melhores. Você me expulsou, lembra?
Ela ficou em silêncio.
— Você tem que me ajudar! — implorou.
Sorri.
— Eu teria ajudado, Charlotte. Se você tivesse sido mais gentil comigo enquanto crescíamos. Talvez, só talvez… eu me importasse.
E desliguei.
Matthew me ajudava a procurar um apartamento mobiliado.
— Algo pequeno será perfeito — disse ele. — Você tem alguns meses antes de ir pra faculdade. Não precisa de uma casa grande agora. Um apartamento é ideal. E logo você fará dezoito anos. Vai poder tomar suas próprias decisões. Por enquanto, foque nos estudos.
— Obrigada por tudo — disse. — Eu estaria perdida sem você.
— Seu pai me contou tudo sobre você, Dawn. E como sua irmã tornou sua vida difícil, especialmente depois que sua mãe deixou a família. Prometi a ele que cuidaria de você.
Algumas semanas depois, eu já estava no meu estúdio em uma área artística da cidade. E eu adorava o lugar.
Não sei o que aconteceu com Charlotte. Mas, um dia, ao passar em frente à antiga casa, vi uma placa de VENDIDO no portão.
Talvez eu devesse me sentir mal. Mas não me senti. Aquela casa nunca mais foi um lar sem o meu pai.
E, de alguma forma, ele ainda estava cuidando de mim — mesmo através de Matthew.