HISTÓRIAS

Minha vizinha me disse que estava se divorciando do marido, mas eu descobri com quem ela estava saindo….

Era uma tarde tranquila de terça-feira quando minha vizinha, Claire, bateu à minha porta.

Conhecia Claire e seu marido, Victor, há alguns anos. Eles sempre pareceram o típico casal de meia-idade: estáveis, educados, amigáveis.

Mas naquele dia, Claire estava diferente. Seu rosto pálido e os olhos inchados denunciavam que havia chorado por horas.

— Posso conversar com você um minuto? — perguntou, com a voz tremendo.

Me afastei e a deixei entrar, curioso sobre o que poderia tê-la deixado tão abalada.

Nossas conversas anteriores sempre giraram em torno de coisas corriqueiras de vizinhança, nunca nada que justificasse tanta tensão.

Claire sentou-se no sofá, apertando as mãos nervosamente.

— Eu vou me separar do Victor — disse de forma direta, mas carregada de emoção.

Fiquei surpreso.

— O que quer dizer com isso? Está tudo bem? Vocês sempre pareceram bem… eu nem imaginava que estavam enfrentando problemas.

Ela desviou o olhar, os lábios tremendo, tentando encontrar forças para continuar. Limpou os olhos com o dorso da mão e sussurrou:

— Não sei por onde começar… Temos enfrentado dificuldades há algum tempo. Mas… não é só isso. Eu estou guardando um segredo. De você. De todos.

Meu estômago se revirou.

— Que segredo?

Claire hesitou, olhando para as próprias mãos. Quando finalmente voltou a me encarar, seu olhar estava carregado de dor.

— Estou deixando o Victor… por causa do pai dele.

As palavras bateram como um soco. Fiquei sem reação.

— Você está deixando o Victor… pelo pai dele? — repeti, incrédulo.

Ela assentiu, os olhos marejados.

— Nunca pensei que isso aconteceria. Começou com conversas simples… momentos de conexão, histórias compartilhadas. E então… foi crescendo. Já fazem meses. Eu sinto muito. Nunca quis magoar ninguém, muito menos o Victor.

Fiquei em choque. Eu via Claire e Victor juntos o tempo todo. Pareciam um casal normal. E Gregory, o pai de Victor, sempre me pareceu um homem tranquilo, reservado. Tinha mais de sessenta anos.

— Gregory… o Victor sabe? — perguntei, ainda tentando assimilar.

Claire balançou a cabeça.

— Não. Eu não tive coragem. Não sei nem como contar. Eu me sinto horrível. Traí todos. Mas agora não tem mais volta.

Era surreal. Uma mulher se apaixonar pelo sogro parecia trama de novela, mas era real, e estava acontecendo bem ali na minha frente.

— Há quanto tempo isso acontece? — perguntei.

Ela hesitou.

— Uns seis meses. No início era só conversa, mas os sentimentos cresceram. E ele sente o mesmo.

Tentei manter a calma.

— E o Victor? Como acha que ele vai reagir? Isso pode destruí-lo.

— Eu sei — murmurou, com a voz embargada. — Eu me odeio por isso. Mas não posso mais viver uma mentira. Eu amo o Gregory. Não era o que eu queria… eu queria manter nossa família unida. Mas não dá mais.

A sala ficou em silêncio. Eu tentava processar tudo. Era difícil julgá-la, mas impossível não pensar nas consequências.

— E agora? — perguntei.

Claire respirou fundo.

— Vou contar tudo ao Victor. Ele merece saber. Depois… vou embora. Quero ficar com Gregory.

Fiquei calado. O que eu poderia dizer? Era tudo tão surreal, tão fora da realidade.

— Espero que você encontre o que procura, Claire — disse, num tom suave. — Mas, por favor… tenha cuidado. Há muito em jogo.

Ela assentiu, visivelmente exausta.

— Eu sei. Não espero que ninguém entenda. Mas precisava contar a alguém. Obrigada por me ouvir.

Sorri de forma contida. Quando ela saiu, fiquei parado, olhando para a porta.

Tudo estava prestes a mudar. E nenhuma daquelas pessoas — nem Victor, nem Gregory, nem Claire — estava realmente preparada para as consequências.


Artigos relacionados