No Dia dos Namorados, Acordei e Encontrei Meu Carro Coberto de Corações de Papel — Parecia Fofo, Até Eu Ler o Que Estava Escrito.

Acordei naquela manhã como em qualquer outro dia.
Depois de 28 anos de casamento, minha vida com Brandon havia se acomodado em uma rotina confortável: acordar cedo, fazer café, preparar o café da manhã para nosso filho de 17 anos — o único que ainda morava conosco, já que os dois mais velhos tinham saído de casa — e aproveitar alguns minutos de silêncio antes que o caos do dia começasse.
O Dia dos Namorados nunca teve muita importância em nossa casa. Na verdade, nunca foi algo marcante. A paixão há muito havia sido substituída pelo tédio, e grandes gestos românticos nunca foram o forte do Brandon.
Por isso, quando olhei pela janela e vi meu carro coberto de corações de papel, fiquei sem fôlego.
Por um instante — ingênuo e esperançoso — meu coração se aqueceu.

Será que ele tinha feito isso? Depois de todos esses anos?
Saí de casa, sentindo o frio da manhã contra minha pele, e fui em direção ao carro. A cena parecia até cômica: centenas de corações cor-de-rosa colados em todas as partes — portas, vidros, espelhos. Eles balançavam com o vento, mas se mantinham firmes.
Sorri. Talvez eu tivesse julgado Brandon errado. Talvez, depois de quase três décadas juntos, ele tivesse decidido me surpreender.
Peguei um dos corações.
“Seu marido é um mentiroso.”
Fiquei gelada. Arranquei outro.
“Brandon só ama a mim.”
Mais um.
“Ele nunca vai te contar a verdade.”
Meu coração quase parou. Comecei a arrancar os corações às pressas, um por um. Cada um trazia mensagens parecidas:
“Você merece saber.”
“Ele estava comigo ontem à noite.”
“Pergunte a ele sobre a mulher com quem está saindo.”
Quanto mais eu puxava, mais marcas de cola ficavam no carro. Meus vizinhos já espiavam pelas janelas. E quando olhei para minha casa… lá estava Brandon, me observando pela janela.
Arranquei o último coração.
“Ele nunca vai escolher você.”
As palavras ficaram borradas pelas lágrimas que agora inundavam meus olhos.
Feliz Dia dos Namorados pra mim.
Entrei em casa decidida, indo direto à cozinha, onde encontrei Brandon sentado no balcão, mexendo no celular como se nada tivesse acontecido.
Joguei um dos corações na frente dele.
— Que diabos é isso, Brandon? — perguntei, com a voz trêmula.
— Do que você está falando? Eu não sei quem fez isso.
— Sério mesmo? Você me viu pela janela, viu o carro coberto de corações… falando sobre você e uma outra mulher! E você quer me fazer acreditar que não sabe de nada?
Ele deu um gole no café e respondeu:
— Deve ter sido uma pegadinha. Algum adolescente idiota brincando.
Mentiroso.
Fui direto ao monitor de segurança da sala. Meus dedos voaram no controle até encontrar as imagens da madrugada anterior.
E lá estava ela.
Linda.
Nossa vizinha.
Às 3h da manhã, colando todos aqueles malditos corações no meu carro.
Brandon e Linda? Não podia ser verdade…
Me veio à cabeça todas as vezes que vi Linda do lado de fora, observando Brandon sair para o trabalho. Ela sempre esteve ali. Mas eu nunca desconfiei.
Se Brandon não ia me dizer a verdade, eu mesma buscaria. Fui até a casa dela e bati com força na porta.
Ela abriu… com os olhos inchados. Já sabia por que eu estava ali.
— Há quanto tempo? — perguntei, com firmeza.
Seus lábios tremiam.
— Vinte anos.
— Você está mentindo.
Ela soltou uma risada amarga.
— Queria que fosse.
Fiquei parada, esperando que ela dissesse que era uma brincadeira cruel. Mas, em vez disso, ela continuou:
— Ele sempre disse que ia te deixar. Vinte anos ouvindo isso. Que só precisava do momento certo. Ele dizia que você não estava bem, que não aguentaria um divórcio. Que só ficava com você por pena. Eu posso provar.
Voltei pra casa sem dizer uma palavra. Era hora de encarar Brandon.
— A Linda me contou tudo — falei, cruzando os braços, olhando direto em seus olhos.
— Ela está mentindo — disse ele. — É obcecada por mim. Vem atrás de mim há anos, mas eu nunca…
— Prova. — interrompi.
— O quê?
— Prova. Porque ela tem vinte anos de histórias. Disse que você só precisava do momento certo pra me deixar. Aposto que ela tem muito mais pra me mostrar.
— Amor, eu não sei do que ela tá falando. Eu não tenho provas porque não tem nada pra provar!
Revirei os olhos.
— Conveniente.
— Kate, eu juro… eu nunca estive com ela.
Sem perder mais tempo, voltei à casa de Linda.
— Mostra a prova. Se tiver, ele é todo seu.
Ela não hesitou. Pegou o celular, rolou rapidamente e colocou nas minhas mãos.
Estava tudo ali.
Fotos. Vídeos. Mensagens.
Minhas pernas enfraqueceram. Mas permaneci firme.
Não chorei. Ainda não.
Entreguei o celular de volta.
— Obrigada.
Na manhã seguinte, decidi pedir o divórcio.
Brandon ainda insistia que era tudo mentira. Dizia que os vídeos e mensagens eram forjados. Que Linda o perseguia há anos.
— Confia em mim — ele dizia. — Vou provar que ela mentiu. Meus advogados vão resolver isso.
E resolveram.
Os advogados descobriram alterações nos horários dos vídeos e manipulações nas imagens. Linda havia contratado um especialista em tecnologia para forjar mensagens, mesclar áudios antigos e até usar inteligência artificial para criar conversas falsas.
O vídeo no hotel era um arquivo de banco de imagens alterado digitalmente. Tudo o que ela mostrou… era uma farsa.
E foi assim que Brandon salvou nosso casamento.
Não sei por que Linda fez o que fez. Mas parece que passou 20 anos apaixonada por um homem que nunca foi dela.
Acho que ela esperava por algo que nunca existiu.
Naquela noite, sentados na sala, à luz baixa, eu finalmente falei:
— Me desculpa, Brandon. Eu devia ter acreditado em você.
Ele soltou um longo suspiro e pôs o copo de uísque sobre a mesa.
— Kate, depois de todos esses anos… você acha mesmo que eu faria isso com você?
Engoli em seco.
— Não… mas eu já não sei mais o que pensar.
Ele segurou minha mão.
— Eu te amo. Sempre amei.
Assenti.
— Eu sei.
Depois de tudo, entrei com um processo contra Linda pelos danos ao meu carro. Ela foi obrigada a pagar pelos reparos e pela limpeza completa. E conseguimos uma ordem de restrição contra ela.