O Apiário Herdado: Um Novo Começo Entre Abelhas e Segredos de Família.

Perdi tudo em um único dia: meu emprego, meu lar e, por fim, meu pai. Na leitura do testamento, minha irmã ficou com a casa, e tudo o que me restou foi um velho apiário… junto com um segredo que eu jamais poderia imaginar.
Minha vida era baseada na rotina. Organizava prateleiras, cumprimentava os clientes com um sorriso educado, e sabia exatamente quem comprava qual cereal ou quando o leite acabava. Ao fim de cada expediente, contava meu salário e guardava uma parte. Sem destino certo — mais hábito do que plano.
Então, de repente, tudo desmoronou como uma bolacha seca entre dedos apressados.
— Estamos fazendo cortes, Adele — disse meu gerente. — Sinto muito.
Sem direito a réplica. Tirei o crachá e o deixei sobre o balcão.

Voltei para casa, mas ao chegar ao meu prédio, algo estava estranho. A porta estava destrancada, e o perfume de outra mulher pairava no ar. Meu namorado, Ethan, me esperava com minha mala pronta.
— Adele, você é uma ótima pessoa, mas sinto que estou evoluindo… e você ficou parada.
Entendi o recado. Havia outra. Não implorei. Peguei minha mala e fui embora.
Horas depois, o telefone tocou.
— É sobre o Sr. Howard. Lamentamos informar que ele faleceu.
Para muitos, ele era apenas o Sr. Howard. Para mim, era meu pai — não de sangue, mas de escolha. Depois de anos em lares adotivos, ele e minha mãe me acolheram quando eu já era adolescente. Eles me ensinaram o que era ter um lar. Agora, os dois se foram. Voltei a ser órfã.
O funeral foi silencioso. Synthia, minha irmã adotiva, me lançava olhares de desprezo. Fui direto ao advogado. Não esperava herança, talvez uma ferramenta do pai.
— De acordo com o testamento do Sr. Howard — disse o advogado — a casa vai para sua filha biológica, Synthia. Já o apiário será herdado por sua outra filha, Adele.
— As abelhas? — zombou Synthia. — Você mal consegue manter uma planta viva!
— Foi o que papai quis — respondi, tentando esconder minha insegurança.
— Quer ficar? Fique com suas malditas abelhas. Mas a casa é minha. Vai dormir no celeiro.
Sem escolha, arrastei minha mala até o celeiro. Dormi sobre palha, com lágrimas silenciosas escorrendo pelo rosto. Mas decidi: eu ficaria. Lutaria.
Com o pouco dinheiro que restava, comprei uma barraca. Greg, antigo parceiro de meu pai no apiário, ainda cuidava das colmeias. Fui até ele:
— Preciso de ajuda. Quero aprender.
Ele me olhou de cima a baixo e riu.
— Você? Sabe ao menos se aproximar de uma colmeia sem ser picada?
— Ainda não. Mas vou aprender. Não tenho escolha.
Greg cedeu. Nas semanas seguintes, me ensinou tudo. Venci o medo, suei, me machuquei, mas continuei. Pela primeira vez, sentia que fazia parte de algo.
Até que o incêndio começou.
O cheiro de fumaça tomou o ar. Minhas colmeias estavam ameaçadas. Corri com um balde de água, mas não estava sozinha. Greg e outros vizinhos vieram ajudar. Apagamos o fogo. Salvamos as colmeias.
Na manhã seguinte, enquanto colhia mel, encontrei um envelope escondido entre os favos. Era o verdadeiro testamento do meu pai.
“Minha querida Adele,
Se está lendo isto, é porque ficou. Lutou. Provou, a si mesma, que é mais forte do que todos imaginavam.
Synthia acredita que só o sangue faz uma família. Mas nós sabemos que não.
Este é meu verdadeiro testamento. A casa, o terreno e o apiário são seus. Faça daqui seu lar.
Com amor,
Papai.”
Naquela noite, subi pela primeira vez as escadas da casa. Synthia tomava chá na cozinha.
— Ele deixou isso para mim — disse, colocando o testamento diante dela.
Ela leu em silêncio.
— Pode ficar — falei. — Mas cuidamos deste lugar juntas. Ou vivemos como uma família, ou nenhuma de nós vive aqui.
Ela hesitou, depois riu:
— Tudo bem. Mas não me faça cuidar daquelas malditas abelhas.
— Combinado.
Com o tempo, vendi meus primeiros potes de mel. Synthia cuidava da casa, Greg se tornou um amigo e companheiro de varanda ao entardecer. Juntos, reconstruímos não apenas um apiário, mas uma nova vida.