O mistério das meias desaparecidas.

Tudo começou de forma muito sutil. Uma meia sumia aqui, outra ali. No começo, achei que a culpa fosse da máquina de lavar — afinal, quem nunca perdeu uma meia na secadora?
Mas logo percebi algo estranho: era sempre a meia esquerda que desaparecia. Sempre uma de cada par. E isso já não parecia mais coincidência.
Sou pai solteiro do meu filho Dylan, de 7 anos, desde que minha esposa faleceu. Moramos sozinhos e raramente recebemos visitas. Ainda assim, procurei pela casa inteira: olhei embaixo dos móveis, dentro das gavetas, e até perguntei a Dylan se ele sabia de alguma coisa. Ele, com seu rostinho inocente, disse que não tinha ideia.

Frustrado e determinado a descobrir o que estava acontecendo, instalei uma velha câmera de babá eletrônica na lavanderia, só para garantir.
Na manhã seguinte, enquanto tomava meu café e revisava a gravação, quase derrubei o copo no teclado.
Vi Dylan entrando sorrateiramente na lavanderia com uma mochila nas mãos. Olhou em volta, pegou cuidadosamente uma meia esquerda — sempre a mais nova —, colocou-a na mochila, vestiu o casaco… e saiu pela porta.
Eu não entendia. O que ele estava fazendo com uma única meia?
No dia seguinte, decidi segui-lo sem que ele percebesse.
Vi Dylan caminhando por uma rua que eu mesmo nunca tinha percorrido, num bairro modesto, cheio de casas antigas, algumas aparentemente abandonadas. Ele parou diante de uma delas e bateu à porta com a naturalidade de quem já fazia isso há muito tempo.
Escondido, observei. Ouvi Dylan dizer a um homem mais velho, que estava em uma cadeira de rodas:
— Trouxe mais uma meia nova para você. Esta é bem quentinha.
Sem querer, fiz um barulho, e os dois se viraram ao mesmo tempo. Dylan me olhou, assustado.
— Pai, eu posso explicar…
Mas eu não estava bravo. Só queria entender.
O homem se aproximou, sorrindo gentilmente:
— Você deve ser o Dennis. Seu filho tem vindo aqui garantir que minha perna não fique fria.
Foi então que percebi: o homem só tinha uma perna.
Ele me contou que havia servido na Marinha e que, desde que seus filhos se mudaram para o exterior, ele morava sozinho. Um dia, encontrou Dylan indo para a escola, e, desde então, Dylan começou a visitá-lo de tempos em tempos… levando meias para que sua única perna não sentisse frio.
— Você está bravo, pai? — Dylan me perguntou, com medo.
— Bravo? — respondi, emocionado. — Estou orgulhoso.
A partir daquele dia, começamos a visitar o velho marinheiro juntos. Levávamos suprimentos, ajudávamos no que podíamos… mas, acima de tudo, fazíamos companhia.
Foi assim que o mistério das meias desaparecidas acabou se tornando o começo de uma linda e inesperada amizade.