O Segredo na Lapela

Desde menina, eu sonhava com o dia do meu casamento.
Imaginava o campo dourado ao entardecer, o vestido branco esvoaçando ao vento e Bria, minha égua mansa — o último presente que recebi do meu pai antes dele falecer — ao meu lado.
Ela sempre foi dócil, carinhosa, e parecia entender meus sentimentos melhor do que qualquer pessoa.
Meu noivo, Thomas, achava lindo o vínculo que eu tinha com ela.
Disse que seria “poético” incluí-la nas fotos do casamento.
E eu, emocionada, aceitei.
A tarde estava perfeita. O sol beijava o horizonte, e a brisa fazia o vestido balançar levemente.
O fotógrafo elogiava cada clique, enquanto os convidados sorriam ao fundo.
Mas algo mudou quando Thomas se aproximou.
As orelhas de Bria se abaixaram, o corpo ficou rígido, e ela deu um passo para trás.
— Calma, menina… — murmurei, acariciando seu pescoço.
Mas a tranquilidade de sempre havia sumido.
Quando Thomas tentou se aproximar de novo, Bria empinou a cabeça e soltou um relincho agudo, assustador.
Em seguida, avançou.
Empurrou Thomas com o focinho — e antes que alguém reagisse, mordeu o ombro dele com força.
O fotógrafo gritou, os convidados se afastaram e eu fiquei paralisada.
A doce Bria, minha companheira de infância, nunca tinha feito nada parecido.
— Sua égua é louca! — gritou Thomas, segurando o braço, furioso e pálido.
Enquanto todos tentavam entender o que havia acontecido, o fotógrafo, ainda ofegante, olhava as imagens na câmera.
— Acho que capturei algo aqui… — disse ele, ajeitando o visor.
Aproximei-me, confusa.
Nas fotos em sequência, víamos tudo:
Thomas sorrindo, inclinando-se… e, num gesto rápido, escondendo algo na lapela do terno.
Logo depois, sua mão se movia discretamente até o flanco de Bria, cutucando-a com um objeto fino e pontudo.
— Espera… volta essa foto — pedi, com a voz tremendo.
O fotógrafo ampliou a imagem.
E então, meu coração gelou.
Preso no arranjo da lapela, refletindo a luz do sol, estava um pequeno alfinete dourado — com a ponta manchada de algo escuro.
Era sangue.
Bria não havia enlouquecido.
Ela apenas reagira à dor.
Olhei para Thomas, que agora me observava em silêncio, o rosto rígido, como quem fora pego em flagrante.
— Por quê? — sussurrei.
Ele não respondeu. Apenas desviou o olhar e caminhou em direção ao carro, ignorando os olhares ao redor.
Enquanto o via partir, acariciei o pescoço de Bria, que tremia levemente.
— Você só estava me protegendo, não é, minha menina? — disse, com lágrimas nos olhos.
Naquele instante, compreendi que o amor verdadeiro — o que meu pai me ensinara — nunca mente, nunca fere e nunca precisa ser provado.
O casamento acabou antes de começar.
Mas eu fui embora com o coração livre…
e com a certeza de que minha égua sabia a verdade antes de todos nós.



