Para se vingar da esposa

Marcelo acreditava estar no controle de tudo. Após anos de casamento, decidiu que já tinha tirado o que queria daquela relação. O filho do casal estava adulto, e ele não sentia mais qualquer obrigação emocional.
Certo dia, chegou em casa com um sorriso cruel no rosto. Abriu a porta e, diante da esposa, apresentou um homem magro, malvestido, usando um casaco velho e sujo.
— Apresente-se, querida — disse Marcelo com desprezo. — Este é o nosso novo morador. Um sem-teto da região. A partir de hoje, ele vai morar aqui.
A mulher empalideceu.
— O que é isso, Marcelo? Do que você está falando? — perguntou, em choque.
— Cansei de você — respondeu ele friamente. — Estou indo embora com outra mulher. Mais jovem, mais bonita. Você que se vire. Pode alimentá-lo, dar banho nele, comprar roupas novas… se quiser, até se case com ele.
Ela mal conseguia falar.
— Você enlouqueceu?
— Não. Estou finalmente livre. Dessa união eu só queria nosso filho, e ele já cresceu. Minha vida começa agora. Adeus.
No dia anterior, Marcelo havia ido às pressas a um cartório com um amigo tabelião e assinara um contrato vendendo sua metade da casa ao “primeiro interessado”. Esse interessado era Viktor, um morador de rua que ele encontrara em frente a um supermercado. Em troca de uma pequena quantia, algumas moedas e uma garrafa de bebida, Viktor assinou os papéis sem entender muito bem o que estava acontecendo.
Marcelo achou sua vingança perfeita. Pela lei, agora sua esposa teria de dividir a casa com um mendigo. Depois de entregar a Viktor uma pasta velha com os documentos, saiu batendo a porta.
Poucas horas depois, já estava em um avião ao lado da amante, uma mulher exageradamente maquiada, sonhando com praias, festas e uma nova vida longe de tudo.
Durante semanas, Marcelo ignorou qualquer tentativa de contato. Achava que tinha vencido.
Mas o tempo passou, o dinheiro começou a acabar e a amante foi embora assim que percebeu que ele não era tão rico quanto dizia. Sem opções, Marcelo decidiu voltar para casa, certo de que encontraria a esposa destruída.
Quando chegou, mal acreditou no que viu.
A casa estava reformada, limpa e cheia de vida. No jardim, havia flores novas. Pela janela, ele viu Viktor — agora bem vestido, barbeado — sentado à mesa, trabalhando em um notebook.
Antes que pudesse entrar, foi surpreendido pela esposa, agora confiante e serena.
— Você não mora mais aqui — disse ela calmamente.
Marcelo ficou furioso.
— Esta casa ainda é minha!
Ela sorriu.
— Não. Depois que você vendeu sua parte ilegalmente, descobri que o contrato tinha várias irregularidades. Procurei um advogado. O juiz anulou a venda e reconheceu que você agiu de má-fé.
Ela respirou fundo e continuou:
— E Viktor? Ele não era um morador de rua por acaso. Era um antigo engenheiro que perdeu tudo após um golpe financeiro. Com ajuda jurídica, ele recuperou parte dos direitos e hoje trabalha comigo. Tornou-se meu sócio.
Marcelo tentou discutir, mas foi interrompido.
— Além disso — concluiu ela —, pedi o divórcio, entrei com ação por danos morais e você perdeu qualquer direito sobre este imóvel.
A porta foi fechada diante dele.
Naquele instante, Marcelo entendeu tarde demais: ao tentar humilhar e destruir, acabou sendo o único a perder tudo.
E aprendeu, da pior forma possível, que vingança sem justiça sempre volta — mais forte e inesperada.



