HISTÓRIAS

Toda Semana, Eu Encontrava Luvas Infantis no Túmulo do Meu Pai – Até Que Um Dia, Conheci um Adolescente Lá

Eu estava parada diante do túmulo do meu pai, com os braços cruzados sobre o peito tentando me proteger do frio.

Já fazia um mês desde sua morte. Um mês de noites sem dormir.

Me agachei e comecei a afastar as folhas secas da base da lápide. Foi então que notei um pequeno par de luvas vermelhas de lã, bem dobradas, repousando sobre a pedra.

Eram pequenas, pareciam de criança. A lã era macia, feita à mão.
Pensei que talvez alguém as tivesse deixado por engano. Ou quem sabe pertencessem a alguém que visitava outro túmulo por perto.

— Oi, pai… — minha voz falhou, mas continuei. — Eu sei… Eu sei que a gente não terminou bem.
Soltei um suspiro trêmulo. — Mas espero que você soubesse que eu ainda te amava.

Meu pai me criou sozinho. Nunca conheci minha mãe — ela morreu quando eu ainda era um bebê.

Ele sempre trabalhou duro, passava os dias consertando carros na oficina, com graxa nas mãos e suor na testa. Nunca reclamava. Nunca deixou uma conta atrasar. E sempre fez de tudo para que eu tivesse o que precisava.

Por muito tempo, achei que ele era o homem mais sábio do mundo.

Então eu conheci o Mark.

Mark me fazia rir, me fazia sentir segura. Ele me amava de um jeito que me fazia querer passar a vida inteira com ele.

Mas meu pai não aprovava.

Essa foi nossa primeira briga.

A segunda foi ainda pior.

Eu tinha acabado de conseguir meu primeiro emprego sério como enfermeira em uma casa de repouso. Estava empolgada, orgulhosa. Mas quando contei para meu pai, ele me olhou como se eu tivesse jogado meu futuro fora.

Sua mandíbula travou. — Você está jogando sua vida fora — ele disse.

Naquela noite, arrumei minhas malas e fui embora.

Achei que ele fosse me ligar. Esperei que, depois de algumas semanas, ele percebesse que estava errado. Que fosse me procurar.

Mas ele nunca procurou.

E eu também não.

Agora, era tarde demais.

Uma semana depois da minha primeira visita, voltei ao túmulo. Foi quando notei outro par de luvas. Agora, eram azuis, também feitas à mão.

Coloquei as luvas junto às vermelhas, sobre a grama. Talvez fosse algum parente que eu não conhecia. Talvez uma tradição da qual eu nunca soube.

Na semana seguinte, havia outro par — cor-de-rosa. Depois, um verde. Em seguida, amarelas.

Aquilo virou uma obsessão. Na semana seguinte, cheguei mais cedo, antes mesmo do pôr do sol.

Foi quando vi um garoto.

Ele estava em frente ao túmulo do meu pai. Parecia ter uns 13 anos, magro, com roupas um pouco gastas. Em suas mãos, segurava outro par de luvas de criança.

Dessa vez, eram roxas.

Congelei. Dei um passo à frente, minhas botas rangendo sobre a brita. O menino levantou a cabeça assustado. Virou-se para ir embora.

— Ei! Espera! — chamei, apressando o passo.

Parei a poucos passos dele, sem querer assustá-lo.

— Qual é o seu nome? — perguntei.

Por um instante, ele não respondeu. Até que, com voz baixa e hesitante, murmurou:

— Lucas.

Peguei as luvas com as mãos trêmulas. Assim que meus dedos tocaram o tecido, uma enxurrada de memórias veio à tona. Eu tinha usado aquelas luvas quando era criança, muitos anos atrás.

— Seu pai me deu essas luvas dois anos atrás — disse o menino. — Estava muito frio naquele inverno, e eu não tinha luvas. Minhas mãos estavam congelando.

Comecei a chorar, enxugando o rosto.

— Você deixaria eu comprá-las de você? — perguntei.

— Por quê? — ele perguntou, curioso.

— Porque… — minha voz se quebrou — essas luvas foram minhas um dia. E depois foram dele. Eu só… preciso tê-las de volta.

Lucas me olhou com ternura e respondeu:

— Ele te amava. Ele te perdoou faz tempo. Só… só esperava que você o tivesse perdoado também.

Meu pai nunca deixou de me amar.
E, talvez, ele soubesse que eu também nunca deixei de amá-lo.

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