Um apartamento prometido ao filho com a insólita condição de um novo casamento.

Tenho sessenta anos e moro em Toledo. Jamais poderia imaginar que, depois de tudo o que vivi, após vinte anos de completo silêncio e tranquilidade, o passado voltaria à minha vida com tanta desfaçatez e cinismo. E o mais doloroso: o responsável por esse retorno não é outro senão o meu próprio filho.
Quando eu tinha vinte e cinco anos, estava perdidamente apaixonada. Víctor, alto, encantador, divertido, me parecia o homem dos meus sonhos. Casamo-nos rapidamente e, um ano depois, nasceu nosso filho, Álvaro. Os primeiros anos foram como um conto de fadas. Vivíamos em um pequeno apartamento, sonhávamos juntos, fazíamos planos. Eu trabalhava como professora e ele como engenheiro. Parecia que nada poderia abalar a nossa felicidade.

Com o tempo, Víctor começou a mudar. Chegava cada vez mais tarde, mentia, se afastava. Eu tentava não acreditar nos boatos, fechava os olhos para seus retornos noturnos e o cheiro de perfume estranho. Mas chegou um momento em que tudo ficou evidente: ele era infiel. E não apenas uma vez. Amigos, vizinhos, até parentes — todos sabiam. Eu, no entanto, insistia em manter a família unida. Pelo meu filho. Aguentei tempo demais, esperando que ele mudasse. Mas, numa noite, acordei e percebi que não dava mais; ele não havia voltado para casa.
Arrumei minhas coisas, peguei Álvaro — que tinha cinco anos — pela mão e fomos para a casa da minha mãe. Víctor nem sequer tentou nos impedir. Um mês depois, foi morar no exterior, supostamente a trabalho. Logo encontrou outra mulher e nos apagou da vida dele. Nenhuma carta, nenhuma ligação. Total indiferença. E eu fiquei sozinha. Minha mãe faleceu, depois meu pai. Álvaro e eu percorremos todo esse caminho juntos: escola, atividades, doenças, alegrias, até sua formatura. Trabalhei em três turnos para que nada lhe faltasse. Não cuidei da minha vida pessoal — ele era tudo para mim.
Quando Álvaro entrou na universidade, em Salamanca, ajudei como pude — com pacotes, dinheiro, apoio. Mas não podia comprar um apartamento para ele — não tinha condições. Ele nunca reclamou. Dizia que se viraria. Eu me sentia orgulhosa dele.
Um mês atrás, ele veio me visitar com uma novidade: havia decidido se casar. A alegria durou pouco. Ele estava nervoso, evitava meu olhar. Até que disse:
— Mamãe… preciso da sua ajuda. É… sobre o papai.
Fiquei paralisada. Contou que havia retomado contato com Víctor. Que o pai havia voltado para a Espanha e lhe oferecera as chaves de um apartamento de dois quartos herdado da avó. Mas com uma única condição: eu teria que me casar novamente com ele e deixá-lo morar na minha casa.
Fiquei sem ar. Olhava para meu filho, sem conseguir acreditar que ele falava sério. Ele continuou:
— Você está sozinha… Não tem ninguém. Por que não tentar mais uma vez? Por mim. Pela minha futura família. Papai mudou…
Levantei-me em silêncio e fui até a cozinha. Chaleira, chá, mãos trêmulas. Tudo ficou embaçado diante dos meus olhos. Vinte anos carregando tudo sozinha. Vinte anos sem que ele sequer perguntasse por nós. E agora ele volta… com “uma proposta”.
Voltei à sala e disse, com calma:
— Não. Eu não vou aceitar.
Álvaro se exaltou. Começou a gritar, a me acusar. Disse que eu sempre pensei só em mim. Que por minha culpa ele cresceu sem pai. Que agora, mais uma vez, eu estava arruinando a vida dele. Permaneci calada. Cada palavra dele rasgava meu coração. Ele não sabia das noites que passei sem dormir de tanto cansaço. De como vendi minha aliança de casamento para comprar um casaco de inverno para ele. De como me privei de tudo para que ele pudesse comer carne — e eu não.
Não me sinto sozinha. Minha vida foi dura, mas honesta. Tenho meu trabalho, meus livros, meu jardim, minhas amigas. Não preciso de uma pessoa que me traiu e que agora volta — não por amor, mas por conveniência.
Meu filho saiu sem se despedir. Não ligou desde então. Sei que está magoado. Eu entendo. Ele quer o melhor para si, assim como um dia eu quis para ele. Mas não posso vender minha dignidade por alguns metros quadrados. Esse é um preço alto demais.
Talvez um dia ele entenda. Talvez não agora. Mas eu vou esperar. Porque eu o amo. Com amor verdadeiro — sem condições, sem apartamentos, sem “se”. Eu o tive por amor. E o criei com amor. E não vou permitir que o amor agora vire mercadoria.
E meu ex-marido… que fique no passado. É lá que ele pertence.