HISTÓRIAS

Um café de aniversário e uma provação inesperada: Como um homem em situação de rua mudou meu destino.


Jimmy ficou em choque quando o homem em situação de rua a quem comprou um café horas antes subiu no avião e sentou ao seu lado na primeira classe. Quem era aquele homem, afinal? E por que estava pedindo dinheiro?

Nunca pensei muito sobre destino até conhecer Kathy.

Três meses atrás, ela entrou na minha vida e, em poucas semanas, tornou-se meu mundo. Muita gente achou loucura eu ter pedido ela em casamento depois de apenas um mês, mas eu simplesmente não conseguia ignorar como tudo parecia se encaixar perfeitamente com ela.

Tínhamos a mesma visão de vida, o mesmo amor por esqui e uma paixão compartilhada por romances de ficção científica. Senti que o universo estava me empurrando para ela, como se sussurrasse que ela era a pessoa certa.

E agora, ali estava eu, voando para conhecer os pais dela pela primeira vez.

Kathy me avisou sobre o pai, David. Disse que ele era um homem severo, difícil de impressionar. Mas também deixou claro que ele tinha um bom coração e que a amava mais que tudo.

Sinceramente, eu estava nervoso. Sabia que só teria uma chance de provar que era digno da filha dele — e não podia errar.

Cheguei ao aeroporto bem mais cedo do que o necessário. Os nervos me fizeram sair de casa horas antes. Para matar o tempo, entrei numa cafeteria charmosa do outro lado da rua.

O aroma de café fresco e o som das conversas me ajudaram a me distrair da ansiedade.

Foi então que o vi.

Um homem entrou com passos arrastados, usando roupas sujas e gastas. Seu rosto era vincado pelas marcas do tempo, os ombros levemente curvados. Mas seus olhos, mesmo cansados, observavam tudo com atenção.

Ele se aproximava das mesas, falando baixo com as pessoas. A maioria o ignorava ou balançava a cabeça desconfortavelmente.

Então ele parou diante de mim.

— Com licença — disse, educadamente. — Você teria um trocado? Só o suficiente para um café.

Hesitei. Meu primeiro impulso foi recusar — não por falta de empatia, mas por não saber se podia confiar. Você sabe, nem todo mundo que pede precisa de verdade.

Mas havia algo diferente nele. Não era insistente. Parecia até envergonhado.

— Que tipo de café você quer? — perguntei.

— Jamaican Blue Mountain — respondeu, quase sem graça. — Dizem que é muito bom.

Quase ri. Era o café mais caro do cardápio. Por um momento, achei que ele estivesse brincando. Mas o olhar dele era sério.

— Por que esse?

— É meu aniversário — sorriu. — Sempre quis experimentar. Pensei… por que não hoje?

Uma parte de mim quis revirar os olhos. Claro que era seu aniversário. Mas outra parte escolheu acreditar.

— Tudo bem — disse, me levantando. — Vamos buscar esse café.

O rosto dele se iluminou com um sorriso sincero. — Obrigado.

Não comprei só o café. Pedi também uma fatia de bolo — afinal, o que é um aniversário sem bolo?

Quando entreguei a bandeja, apontei para a cadeira vazia à minha frente.

— Sente-se — falei. — Me conta sua história.

Ele hesitou por um instante, como se não acreditasse que eu falava sério.

Mas então se sentou, segurando a xícara como se fosse um tesouro, e começou a contar.

Seu nome era David. Havia perdido tudo anos atrás — família, emprego, casa. A vida lhe dera golpes duros, mas ele não fazia drama, nem culpava ninguém.

Falava com uma sinceridade crua, quase dolorosa.

Enquanto o ouvia, percebi que não era apenas um homem pedindo esmola. Era alguém que havia sido quebrado pela vida, mas não havia desistido.

Quando terminou, engoli em seco. Antes de sair, deixei $100 com ele. Ele tentou recusar.

— Considere um presente meu — disse. — E feliz aniversário!

Saí dali achando que tinha feito uma boa ação. Nunca imaginei que veria aquele homem de novo… muito menos algumas horas depois.

No saguão da primeira classe, enquanto tomava mais um café, meus pensamentos ainda giravam em torno do pai da Kathy. E se ele não gostasse de mim? E se achasse que eu não era suficiente?

Peguei o celular e mandei uma mensagem:
Tô muito nervoso. Como estão as coisas aí?

Ela respondeu:
Tá tudo ótimo. Tenho certeza de que meu pai vai adorar você.

Logo depois, embarquei. Me sentei na janela, tentando relaxar. Kathy insistiu para eu viajar de primeira classe — disse que eu merecia me mimar.

Enquanto me ajeitava no assento, pensei novamente no homem da cafeteria. Esperava que os $100 tivessem feito seu dia um pouco melhor.

Foi então que ele apareceu no corredor.

Meu coração quase parou.

Era ele.

Mas diferente. Traje elegante, cabelo penteado, um relógio brilhando no pulso. Sem sinal do homem em trapos de horas atrás.

— Se importa se eu me sentar aqui? — perguntou, sorrindo, enquanto se acomodava ao meu lado.

Fiquei em choque. — O que… o que está acontecendo?

— Vamos chamar de… teste — respondeu ele, tirando um caderno da bolsa. — Prazer, sou David. O pai da Kathy.

— Espera… o pai da Kathy?!

— O próprio — confirmou. — Sempre acreditei em abordagens diretas. Quis saber quem era o homem com quem minha filha vai se casar, sem apresentações ensaiadas.

Eu não acreditava. Kathy sabia disso?

— Então… tudo foi encenado?

— Era necessário — disse. — É fácil ser gentil quando todos estão vendo. Quis ver como você trataria alguém que, aparentemente, não tem nada a te oferecer. E, bem, você passou na primeira parte.

— Primeira parte?

Ele me entregou o caderno e uma caneta. — Só mais uma. Escreva uma carta para a Kathy. Diga por que a ama, por que quer casar com ela e como vai cuidar dela. Não pense demais. Seja sincero.

Olhei para a folha em branco, com o suor brotando da testa.

Mas escrevi.

No começo, devagar. Depois, as palavras fluíram. Escrevi sobre como ela me completa, como o riso dela ilumina meus dias, como quero construir uma vida juntos.

Quando terminei, minha mão doía. Mas meu coração estava leve.

Entreguei o caderno. David leu em silêncio.

Depois sorriu. — Você passou. Bem-vindo à família.

Apertei sua mão com força, aliviado.

— Agora vamos ver como você se sai na casa dela — disse, já com outro sorriso.

Quando desembarcamos, eu estava exausto. Caminhamos até a saída. No carro, ele ficou calado. Eu, tenso.

Chegando lá, a mãe da Kathy nos recebeu com carinho. Os irmãos também estavam lá.

Mas David manteve o olhar sério à mesa. Não sabia se ainda me avaliava.

O jantar foi educado, porém tenso. Até que, ao final, ele limpou a garganta.

— Mandou bem, Jimmy. Você me mostrou quem é de verdade. E isso vale muito.

Kathy apertou minha mão sob a mesa.

— Sempre soube que era você — sussurrou.

— Você tem minha bênção — disse David.

Senti uma onda de alívio. Mas algo em seu olhar dizia que a história ainda não tinha acabado.

Mais tarde, ajudando a limpar a cozinha, encontrei um recibo sobre o balcão.

Era da cafeteria.

Mas não era do café que comprei. Havia uma anotação:

“Doação extra — $100.”

— O que é isso? — perguntei a Kathy.

Ela sorriu.

— É como meu pai amarra as pontas soltas.

— Ele devolveu o dinheiro?

— Sim. Deu aos funcionários como doação — disse. — E sim, eu sabia do plano. Fui eu que contei pra ele sobre seu voo. Você achou mesmo que era só sobre o café?

Naquele instante, percebi que estava me casando com uma família diferente. Uma família que acreditava na generosidade. E que me ensinou, através de um simples café, o verdadeiro valor de um gesto sincero.

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