HISTÓRIAS

Um jovem herdeiro descobre o verdadeiro significado da riqueza.

Ao aprender a trabalhar a terra ao lado de seu enigmático avô, que vive afastado do luxo e da comodidade que ele sempre conheceu.


Eu achava que tinha a vida resolvida: dinheiro, conforto, nada de trabalho duro. Mas então meu pai explodiu. Em um momento eu estava na minha cama quente e, no seguinte, abandonado nas montanhas como um pacote esquecido. Sem sinal de celular. Sem saída. Apenas uma velha casa de madeira… e uma lição que eu jamais imaginaria.

Estava dormindo profundamente, enrolado em meus cobertores, perdido em um sonho que não lembraria, quando de repente—whoosh!—as cortinas se abriram com violência. O rangido agudo do metal contra a barra, e então—BAM! A luz do sol invadiu o quarto como um holofote, me cegando. Queimava através das pálpebras, me arrancando bruscamente do sono.

“O que diabos…?” murmurei, buscando o travesseiro para cobrir o rosto.

“Levanta,” bradou a voz do meu pai, carregada de decepção.

Abri um olho, tentando enxergar sua silhueta contra a luz intensa. Braços cruzados. Postura firme.

“O que foi, pai?” resmunguei, esfregando os olhos.

“Você dorme como um rei,” disse ele, ríspido. “Enquanto isso, quando eu tinha sua idade, trabalhava duro dia e noite. Acha que a vida é brincadeira?”

Pisquei várias vezes, tentando me sentar. As lições do meu pai vinham sempre em alto volume, mesmo de manhã cedo.

“Você recusa os empregos que arrumo,” continuou, aumentando o tom. “Anda por aí como se o mundo te devesse algo. Estou cansado disso.”

O mesmo discurso de sempre. Eu já sabia de cor: como ele começou do nada, como construiu tudo com esforço, como eu não tinha ideia do que era trabalho de verdade.

Bocejei e me espreguicei. “Pai, chega. Vida pobre não é pra mim. Nasci pra ser rico.”

Seus olhos se arregalaram. Mordi o lábio, me divertindo com a reação. “Se tivesse tido dinheiro na sua época, seria igual a mim.”

A mandíbula dele se apertou tanto que temi que quebrasse os dentes.

“Você realmente acredita nisso?” Sua voz estava mais baixa agora, carregada daquela calma perigosa.

Dei de ombros. “Tenho certeza.”

O clima mudou. Ele recuou um passo, negando com a cabeça.

“Muito bem,” disse, com voz fria. “Quer ver como vivem os homens de verdade? Vai ter sua chance.”

Ri com desdém. “Vai me dar uma lição de vida?”

Ele não riu. “Não eu,” disse. “Ele.”

Na hora, algo no meu estômago se revirou.

Eu deveria ter percebido naquele momento — quando meu pai ficou calmo — que estava encrencado.

O ronco do motor desapareceu entre as árvores. O carro do meu pai virou uma mancha na poeira.

“Pai!” corri atrás, as pedras rangendo sob meus tênis. “Você não pode me deixar aqui!”

Uma mão surgiu da janela, acenando preguiçosamente. “Siga o caminho. Vai encontrar a casa.”

E assim ele foi embora.

Fiquei parado, atônito, cercado por silêncio absoluto. Nada de carros, vozes ou sons urbanos. Apenas o vento entre os pinheiros e o canto distante de um pássaro.

Girei lentamente. Árvore para todo lado.

O caminho seguia adiante, entre pedras e raízes. Peguei o celular. Sem sinal. Ótimo.

Resmungando, comecei a caminhar. O chão era irregular, o sol implacável. Em minutos, o suor escorria pelo meu pescoço. Mosquitos zumbiam aos meus ouvidos. Meus tênis novos estavam imundos.

Caminhei por horas. A fome e a sede me corroíam. Até que vi a casa.

Escondida entre árvores, a cabana era velha, com janelas empoeiradas e varanda afundada. Mas naquele momento, parecia um palácio.

Abri a porta com força. Minha mochila caiu no chão. O cheiro de comida me atingiu — sopa quente, pão, carne assada. Meu estômago se revirou.

Me joguei na cadeira e comecei a comer sem pensar, como um animal faminto.

Foi quando ouvi a voz:

“Nem lavou as mãos.”

Me engasguei, virei bruscamente. Um homem estava na porta. Alto, barbudo, com o rosto marcado pelo tempo. Suas roupas eram rústicas, as botas sujas.

Ele cruzou os braços e me olhou com um misto de diversão e julgamento.

“Eu… estava com fome,” balbuciei.

Ele entrou e balançou a cabeça. “E mal-educado ainda por cima.”

“Quem é você?” perguntei, limpando a boca.

Ele soltou uma risada áspera. “Essa é uma pergunta melhor.”

Sentou-se à minha frente. “Quem é você?”

Franzi a testa. “Meu pai me mandou aqui. Disse que você ia me ensinar algo.”

Ele me estudou por alguns segundos e sorriu. “Já vi que isso vai ser divertido.”

Na manhã seguinte, acordei como se tivesse sido atropelado. A cama de madeira era dura e o cobertor fino mal me protegeu do frio.

Lá fora, ouvia-se o som do machado. O velho, Jack, cortava lenha com precisão, como se tivesse feito aquilo a vida inteira.

“Olha,” disse eu, tentando soar razoável. “Entendi, trabalho duro é importante, dinheiro não é tudo, bla bla. Só diga ao meu pai que aprendi, e eu vou embora.”

Jack riu. “Boa tentativa, garoto.”

“Tudo bem. E se eu te pagar?” Peguei um maço de dinheiro. “Quanto quer?”

O rosto dele escureceu. Sem dizer nada, ele pegou o dinheiro, foi até o rio e jogou tudo na água.

“Você está louco?!”

Jack se virou. “Acha que dinheiro resolve tudo?”

Fechei os punhos. “Sim. Eu acho.”

Ele sorriu e empurrou um machado em minha direção.

“Então veja quanto o dinheiro te ajuda a rachar lenha.”

Naquela noite, depois de cortar, levantar e suar o dia inteiro, me arrastei para dentro da cabana.

Cada músculo doía. Minhas mãos estavam cheias de bolhas.

Na frente, um prato de comida. Eu comi devagar, saboreando. Pela primeira vez, parecia que eu havia conquistado aquilo.

Jack me observava. “Não é tão ruim, né?”

“Preferia um restaurante cinco estrelas,” murmurei.

Ele riu. “Eu imaginei.”

Olhei para uma foto empoeirada na estante. Quase deixei cair o pão.

Jack, jovem, estava nela. E ao lado… meu pai. Muito mais novo.

Levantei-me de súbito. “Você é… meu avô?”

Jack tomou um gole da caneca. “Demorou pra perceber.”

Minha mente girava. Meu pai sempre disse que seu pai era rico, que fundou a empresa da família.

“Mas… você é o fundador? Por que vive assim?”

Jack respondeu com firmeza: “Quem disse que sou pobre?”

“Então por quê?”

Ele se inclinou. “Porque a verdadeira riqueza não está nos números. Está no que você constrói com suas mãos.”

Não consegui dizer nada.

No dia seguinte, acordei antes do sol. Não por obrigação. Porque eu queria.

Lá fora, o machado me esperava. Levantei, posicionei como Jack ensinou, e golpeei.

Outro tronco. Outro golpe. Outro aprendizado.

Foi quando ouvi o carro. Era meu pai. De terno, parado, olhando para mim e para o machado.

“Isso é uma surpresa,” disse ele.

Jack apareceu. “Eu disse que ele ficaria bem.”

“Está pronto para ir pra casa?” perguntou meu pai.

Olhei para Jack, depois para meu pai.

“Estava pensando,” falei. “Talvez eu fique para o jantar. Você devia ficar também.”

Meu pai piscou, surpreso. “Você quer ficar?”

Assenti. “Sim. Acho que finalmente entendi o que estava faltando.”

Jack sorriu.

E, pela primeira vez na vida, eu entendi o que é a verdadeira riqueza.

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