HISTÓRIAS

Vergonha da Mãe.

A verdade é que tive meu filho bem tarde, aos quarenta anos. No hospital, colocaram em meu prontuário a expressão “primípara idosa”. Na época, aquilo me feriu, soava como uma crítica. Mas hoje compreendo que é nessa idade que se entende, de verdade, o que é ser mãe. Já não se é uma jovem sem rumo, e sim uma mulher madura, com vivência, valores sólidos e plena consciência de quem se é e do que se deseja. Esteban se tornou o centro da minha vida. Me entreguei por completo à maternidade, e, sinceramente, nunca me arrependi nem por um segundo.

Ele cresceu como um menino calmo e introspectivo. Diferente dos filhos das minhas amigas, não fazia birras, não pedia o impossível. Todos diziam: “Você tem sorte, ele é um encanto de criança”. E, à primeira vista, tudo indicava que nada poderia dar errado…

Mas então chegou a adolescência. Aos quatorze anos, Esteban mudou radicalmente. Era como se eu não o reconhecesse mais. Vieram as reclamações constantes, as provocações, uma agressividade sem explicação. Minhas amigas tentavam me consolar: “É só a adolescência, vai passar”. Eu resistia. Esperava. Mas só piorava.

Aos dezesseis, meu menino afetuoso se tornara um estranho. Passava noites fora, faltava às aulas, suas notas despencaram. Eu chorava sozinha, sem saber como recuperá-lo, como fazer minha voz alcançar seu coração. E se aproximava a formatura — aquele evento que eu tanto esperava. Comprei um vestido discreto, mas elegante. Ao me olhar no espelho, pensei: mesmo sem ser jovem, ainda sou bonita. Queria estar ao lado do meu filho naquele dia tão especial.

Mas quando Esteban chegou do ensaio do baile e me viu com o vestido, franziu a testa e fez uma careta.

— E você vai pra onde assim? Trabalhar, talvez?

Fiquei paralisada.
— Como assim? Vou na sua formatura, claro.

— Mãe, você está parecendo uma senhora velha com essa roupa. Não paga esse mico. Melhor nem ir.

No começo, não entendi. Depois, desabei no sofá. O mundo à minha volta ficou cinza. Um zumbido me tomou a mente e, no peito, um nó de dor, mágoa e revolta. Mal consegui sussurrar:
— Você tem vergonha de mim?..

— Não é isso, é que… você parece tão… adulta. Todas as mães vão estar jovens, e você…

— Eu fiz tudo isso por você! Tive você quando já nem sabia se conseguiria! — escapou de mim, num impulso.

Ele deu de ombros, virou-se e foi para o quarto. E eu fiquei ali, sentada. As lágrimas escorriam pelo meu rosto. Tudo o que fiz por ele durante todos aqueles anos parecia não valer nada. As noites sem dormir, as doenças enfrentadas, os medos, os cuidados… nada disso tinha importância se, aos olhos dele, eu era “uma vergonha”.

A formatura aconteceu sem mim. Fiquei em casa, ouvindo os grilos pela janela, acariciando em silêncio o vestido que ele chamara de “roupa de velha”. Senti um gosto amargo no coração. Mas mesmo agora, apesar de tudo, se meu filho bater à minha porta com um problema, com o coração em pedaços, com a alma ferida… eu o acolherei de novo nos meus braços. Porque sou sua mãe. Mesmo que, hoje, ele se envergonhe disso.

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