HISTÓRIAS

Hoje completo cinquenta anos — e, de repente, compreendi uma verdade amarga.

Neste dia em que cruzo o limiar do meio século, uma verdade cruel me atingiu como um raio, apertando meu coração. Minha filha, Inés, vive em um pequeno vilarejo perto de Salamanca e formou uma família numerosa: seis filhos seguidos, com apenas um ou dois anos de diferença entre cada um. Ela se casou muito jovem, ainda estava concluindo os estudos, fazendo provas com um bebê nos braços. E eu, seu pai, estava sempre presente para ajudar, cuidando dos pequenos. Quando ficavam doentes, eu estava lá: cuidava, confortava, perdia noites em claro. Hoje, ao olhar para trás, percebo que todo o peso recaiu sobre mim, enquanto Inés continuava tendo filhos. E, para falar a verdade, antes eu até me alegrava com isso. Sentia orgulho no papel de avô, observando os netos crescerem, feliz por cada conquista deles.

A vida deu uma guinada quando, pouco após o casamento de Inés, minha esposa me deixou. Foi um golpe duro, mas o nascimento do meu primeiro neto foi minha salvação — tirou-me do poço profundo da solidão. Depois vieram o segundo, o terceiro, o quarto… Ao mesmo tempo, me aposentei por invalidez — nasci com uma perna mais curta, e minha saúde começou a se deteriorar. Mergulhei no turbilhão dos cuidados diários, esquecendo que eu também tinha direito à minha própria vida, aos meus próprios sonhos.

Dias atrás, uma avalanche de assuntos pessoais que adiei por meses caiu sobre mim — eu estava absorvido demais com os netos. Exausto, mas decidido, fui até Inés e disse que queria voltar para minha casa, um pequeno apartamento nos arredores da cidade, e que havia chegado a hora dela cuidar dos próprios filhos. Mas a resposta dela foi como um chicote:

— Voltar pra casa? Tenho uma reunião com as minhas amigas e não tenho com quem deixar as crianças. Você não vai a lugar nenhum! Fique aqui e cuide delas, afinal, você não tem nada pra fazer. Olha ele, com seus “problemas importantes”!

Fiquei parado, como se tivesse levado um choque. As palavras dela ecoavam na minha mente, e por dentro tudo fervia de mágoa. Sem dizer uma palavra, virei as costas e fui embora. Que ela se vire sozinha, só por uma vez! Os filhos são dela, não meus — está mais do que na hora de ela entender isso.

Aquela cena ficou gravada na minha alma como um ferro em brasa. E, de certa forma, Inés tem razão: minha vida parece ter se dissolvido na dos filhos dela. Em casa, não faço nada além de lavar e limpar — um ciclo sem fim de preocupações que não são minhas. Deixei os livros que um dia amei, parei de ver meus amigos. Quantas vezes recusei encontros, usando os netos como desculpa, até que, por fim, eles pararam de me convidar? E eu poderia ter reservado ao menos um dia por mês — um único e maldito dia — para me sentir vivo.

E assim passaram, sem que eu percebesse, cinco décadas da minha vida. Cinquenta anos. E o que me resta? Sinto-me como uma sombra, vivendo para os outros, diluído nas necessidades alheias. Mas tomei uma decisão: basta. Ninguém vai viver minha vida por mim. Sim, eu amo meus netos — e se precisarem verdadeiramente de mim, estarei lá. Mas agora é hora de pensar em mim — de respirar fundo, e não me afogar nas sombras dos outros.

Já pensei em tudo: vou ligar para meus velhos amigos, com quem costumava pescar no rio Tormes, voltar a caminhar por suas margens, quem sabe até retomar meu antigo hobby de entalhar figuras em madeira. Tenho paixões, tenho alegrias — pequenas e grandes — que enterrei sob uma montanha de obrigações. Amo essas crianças com todo o meu coração, mas também preciso cuidar de mim. Para que nem mais um dia passe em vão. Para que eu finalmente veja a luz no fim desse túnel. Cinquenta anos não são o fim — são o começo. E eu pretendo provar isso.

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