HISTÓRIAS

Eles Acham que Sou Só uma “Cowgirl Barbie” — Mas Sou Eu Quem Toca Esse Rancho Inteiro.

Não costumo me abalar com estranhos, mas hoje? Eu quase surtei.

Tudo começou na loja de rações. Eu estava comprando blocos de minerais e arame para cerca, vestida como sempre — botas cheias de lama, jeans desbotado, e minha longa trança loira presa sob um boné velho. O rapaz do balcão me olhou como se eu tivesse me perdido. Perguntou se eu precisava de ajuda para encontrar a loja de presentes.

Respondi: “Não, só vim comprar as mesmas coisas que compro toda semana há dez anos.”

Ele riu. Riu mesmo.

Depois perguntou se meu “marido” ia carregar o caminhão.

Disse a ele que meu marido me deixou há cinco anos e que as vacas não ligaram. Eu cuido de 240 acres sozinha. Conserto encanamento, faço parto de bezerros às duas da manhã, carrego feno como se fosse leve. Mas as pessoas ainda olham para o cabelo loiro e o fato de eu ser mulher e simplesmente… presumem.

Até meus vizinhos agem como se eu estivesse brincando de fazendeira. Roy, do outro lado do riacho, vive “verificando” minhas cercas, como se eu não tivesse sido a melhor aluna da minha turma de ciências agrícolas. Ele solta frases como: “Não se esforça muito, querida.” Enquanto isso, fui eu quem consertou a tubulação quebrada dele no meio de uma nevasca.

Tento não levar para o lado pessoal, mas isso vai se acumulando. Cansa ter que provar duas vezes mais só para ser vista como metade capaz.

E então, depois de tudo isso, cheguei em casa e encontrei uma carta pregada na porta do meu celeiro. Sem selo, sem remetente. Só um bilhete dobrado com uma frase:

“Eu sei o que você fez no pasto oeste.”

Li aquilo umas cinco vezes. Bateu como vento forte no alto do morro. O pasto oeste é meu orgulho — trinta acres que venho recuperando com esforço há quase um ano. Quando meu ex foi embora, a cerca estava destruída, o solo erodido, e havia buracos enormes do nosso sistema de irrigação mal planejado. Replantei, fertilizei, consertei tudo. Agora está verde e viçoso, digno de revista de agropecuária.

Não fazia ideia do que aquela mensagem queria dizer. Talvez uma brincadeira de adolescentes. Ou alguma provocação do Roy. Mas escrever bilhetes anônimos não parecia com ele.

Guardei o bilhete no bolso e tentei seguir com o dia. Tinha tarefas, animais para alimentar, ligações para fazer. Mas a nota não saía da minha cabeça. No fim da tarde, decidi procurar respostas. Peguei o caminhão e fui até a casa do Roy.

Ele estava no galpão quando cheguei. Acenou, mas ao ver minha cara séria, baixou o braço.

— Tudo bem? — perguntou.

Mostrei o bilhete. — Isso te lembra alguma coisa?

Ele leu e balançou a cabeça. — Não. Alguém deixou isso na sua porta?

— Prego na madeira.

— Estranho… Já falou com o velho Garrison?

Garrison era outro vizinho, famoso por ser ranzinza. Se ele tivesse algo contra mim, já teria gritado na minha cara.

— Ainda não. Quis começar por você.

— Bom, não fui eu. Mas ouvi uns boatos de que você vai vender suas novilhas para um novo comprador.

— É, estou pensando nisso. Mas isso não é da conta de ninguém.

— Você sabe como o povo gosta de fofoca. Mas, sério, não fui eu. Posso ajudar com alguma coisa?

Agradeci, mas recusei. Queria resolver aquilo sozinha.

Na manhã seguinte, segui a rotina: alimentei as galinhas, chequei o gado, caminhei com minha cadela Pepper. No meio do pasto oeste, vi pegadas frescas. Não eram minhas, nem do Roy. Eram menores, como de alguém do meu tamanho. E eu não ia lá fazia dois dias.

Pepper rosnou. Voltei correndo para o celeiro. Não havia outro bilhete, mas a porta estava arranhada, como se alguém tentasse arrancar os pregos. Nada grave, mas claramente novo.

O coração disparou. Não era brincadeira de adolescente. Alguém estava tentando me assustar — ou pior. Mas trabalhei duro demais para deixar que me expulsassem.

Naquela noite, fui ao restaurante da cidade e aproveitei para comprar cadeados novos. Encontrei minha amiga Lucia, dona de uma fazenda leiteira. Contei tudo: a carta, as pegadas, os arranhões.

Ela franziu a testa. — Você tem certeza de que não é alguém da família do seu ex?

— Não sei. Mas não tenho tempo para joguinhos.

Ela apertou meu ombro. — Se precisar de reforço, acampo lá no seu pasto e assusto qualquer invasor.

Agradeci. Foi bom saber que não estava sozinha.

Na volta pra casa, vi uma figura agachada ao lado do celeiro. Gritei, Pepper latiu furiosa, e a pessoa fugiu. Pulou a cerca e desapareceu. Tudo que vi foi um vulto magro e talvez cabelos escuros. A fechadura estava meio aberta, com marcas novas.

Tranquei tudo e fiquei ali, respirando fundo. Quem era aquela pessoa? Dinheiro? Terra? Vingança? A única pista era o bilhete.

No dia seguinte, resolvi agir. Avisei Roy, Lucia, até o velho Garrison. Liguei para o xerife. Prometeram mandar um policial.

Na tarde seguinte, enquanto consertava uma sela, o deputado chegou. Conversamos, mostrei as pegadas, e ele recomendou instalar câmeras.

No outro dia, Roy me ligou, empolgado. — Vi alguém rondando seu terreno. Tinha moletom escuro, tirando fotos da cerca. Anotei a placa do carro.

— Me manda! — pedi, animada.

Ele mandou e perguntou: — Vai ficar bem?

— Vou, assim que isso acabar.

Liguei para o xerife com a informação.

Dias depois, recebi uma ligação do delegado Longstreet. A caminhonete era de uma tal Lillian Black, consultora contratada por uma empresa que estava sondando terrenos para desenvolvimento. Eles tentavam pressionar os donos com ameaças e visitas suspeitas.

Tudo fez sentido. Estavam tentando me desestabilizar para eu vender.

Avisei a associação de produtores e meus vizinhos. Descobrimos que a empresa fazia o mesmo em outros condados. Com as provas, levamos o caso ao comissário do condado. Com pressão pública, eles desistiram.

Depois disso, senti alívio — e orgulho. Porque não fugi. Pedi ajuda, e descobri que tinha mais apoio do que imaginava. Percebi que aceitar ajuda não me faz menos capaz.

Dias depois, voltei à loja de rações. O atendente me cumprimentou com respeito. Talvez soubesse da história, talvez só tivesse aprendido a me enxergar de verdade. Não importava. Carreguei meu caminhão sozinha — blocos minerais, arame e tudo mais.

Enquanto dirigia, com o sol batendo no para-brisa, pensei em tudo o que enfrentei. Já deixei o preconceito me afetar. Agora? Sei que o que importa é o que faço — não o que pensam de mim.

Essa é a história do meu pasto oeste. Viram uma “Cowgirl Barbie”, mas descobriram que sou mais força do que brilho. Eu comando esse rancho — e faço isso muito bem.

Se essa história falou com você — se você já se sentiu subestimada — compartilhe. Lembre-se: todos temos o poder de comandar nosso próprio rancho, seja ele qual for.

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