Perdi meu emprego depois de me tornar mãe — disseram que “precisavam de alguém sem distrações”.

Fui demitida meses depois de voltar da licença-maternidade. Disseram que eu estava “distraída demais”. Mas o que fiz a seguir iniciou uma conversa que milhões de pessoas ao redor do mundo não conseguiram ignorar.
Minha rotina começava às 5h30 da manhã. Meu filho chorava como um alarme de incêndio humano — o rostinho vermelho, se contorcendo no berço. Eu o pegava no colo, o embalava e, com a outra mão, abria meu laptop: e-mails, mensagens do Slack, alertas de reuniões logo às 7h.
O café na minha xícara? Sempre frio quando eu finalmente lembrava dele.
Era essa a minha vida: planilhas ao amanhecer, canções de ninar à meia-noite. Eu não estava prosperando, mas estava sobrevivendo. E, naquele momento, isso bastava.
Éramos só eu, meu bebê e uma casa onde nunca havia silêncio. Digitava relatórios com ele enrolado no cobertor. Troquei fraldas durante reuniões do Zoom e usei o modo silencioso para niná-lo de volta ao sono.
Um dia, um colega perguntou:
— É um bebê chorando?
Sorri sem hesitar:
— Provavelmente é só meu toque de celular.
Alguns riram, mas a partir dali, mantive o microfone desligado quase o tempo todo.
Antes de ser mãe, eu era o pilar da equipe. Comecei no administrativo, cheguei a líder de projetos. Fiz cursos noturnos, tirei certificação em marketing digital, treinei contratados novos. Quando o site quase colapsou com a reformulação da marca em 2020, fiquei duas noites seguidas acordada — e nem reclamei.
Meu gerente, Rob, costumava dizer:
— Se eu tivesse cinco de você, a empresa funcionaria sozinha.
Outra vez, me chamou de “colaboradora dos sonhos”.
Eu gostava do trabalho. Gostava da equipe. Gostava da previsibilidade. Sabia meu lugar.
Até que me tornei mãe. E tudo mudou.
Voltei da licença cansada, mas pronta. No check-in, avisei Rob:
— Estou de volta. Logins cedo, saídas tarde. Pode contar comigo.
— Adorei a atitude. Só mantenha esse ritmo — ele respondeu.
Eu tentei. Mesmo dormindo apenas duas horas por noite. Mesmo com meu bebê tendo cólicas e eu mal conseguindo completar uma frase.
Mas comecei a notar o olhar dos outros.
— Você parece… cansada — comentou Sarah, da contabilidade.
— Coisas de bebê — respondi.
— Espero que isso não afete seus prazos.
Logo depois, em uma reunião, Rob anunciou:
— Pode ser que tenhamos algumas noites de trabalho mais longas. Talvez fins de semana também.
Digitei no chat:
— Posso ser flexível, só preciso de aviso prévio. Tenho que organizar os cuidados com meu filho.
Silêncio.
Na sexta-feira, marcaram uma reunião para 18h30. Mandei mensagem:
— Podemos adiantar? Preciso buscar meu filho na creche.
Rob respondeu:
— Depois conversamos.
Mas nunca conversou.
Dias depois, meu salário atrasou. Três dias. Mandei e-mails. Sem resposta.
Falei com Rob:
— Queria verificar o pagamento deste mês.
Ele disse:
— Ué, você não é mais o ganha-pão da casa, né?
— Sou sim. Me divorciei.
Ele riu:
— Ah. Achei que ainda estava com aquele cara.
— Só quero entender o que aconteceu.
— Vai dar tudo certo — respondeu, com desprezo.
Na reunião seguinte, estavam Rob e uma mulher do RH. Ele começou:
— Agradecemos o seu tempo aqui, mas precisamos de alguém sem… distrações.
— Distrações?
— Alguém disponível. Que aceite horários fora do padrão. Que não peça explicações antes de uma reunião.
— Está dizendo que meu filho é uma distração?
Silêncio.
— Então ser mãe me torna um problema.
Ninguém respondeu.
Me levantei:
— Obrigada pela sinceridade.
Saí. Sem chorar. Sem gritar. Mas por dentro, ardia.
Não fui demitida por ser incompetente. Fui demitida por estabelecer limites.
Naquela noite, depois de colocar meu filho para dormir, abri a câmera do notebook.
— Oi. Hoje fui demitida. Não porque sou ruim no que faço. Mas porque sou mãe. Porque pedi horários justos. Porque perguntei por um salário atrasado. Me chamaram de distração.
Cliquei em “postar”.
No começo, poucas curtidas. Mas à meia-noite, explodiu. Pela manhã: 2 milhões de visualizações.
Centenas de mensagens:
“Isso aconteceu comigo.”
“Chorei assistindo.”
“Se você criar algo, estou dentro.”
E eu criei. Assim nasceu a The Naptime Agency.
Mães programadoras, designers, redatoras. Trabalhando durante a soneca dos filhos, à noite, com bebês no colo.
Não pedimos desculpas por nossa realidade. Construímos em cima dela.
Três meses depois, um ex-cliente da minha antiga empresa me escreveu:
— Vimos seu vídeo. Queremos trabalhar com quem entende a vida real.
Hoje somos 30.
Criamos sites. Campanhas. Fazemos pequenas empresas triplicarem seu alcance digital.
Cada vitória é uma pequena rebelião.
Disseram que eu era uma distração.
Mas isso virou nossa força.
Perder aquele emprego não me destruiu. Me libertou.