HISTÓRIAS

Minha filha e meu genro morreram há 2 anos. Então, um dia, meus netos gritaram: “Vovó, olha, esses são nossos pais!”

Dois anos após o trágico acidente que tirou a vida da minha filha Monica e do meu genro Stephen, eu ainda lutava para manter uma vida estável para os meus netos, Andy e Peter. A dor da perda ainda era profunda, mas nosso dia a dia na praia, nas risadas inocentes e no carinho familiar, ajudava a manter a esperança viva.

Certo dia, uma carta anônima chegou à minha casa com cinco palavras que me gelaram por dentro: “Eles não se foram de verdade.”

Pensei que fosse uma brincadeira cruel. Mas horas depois, recebi uma ligação da empresa do cartão de crédito avisando sobre uma compra recente — feita com um cartão virtual vinculado à antiga conta da Monica, ativa até hoje apenas como lembrança.

A transação: uma pequena despesa de R$ 23,50 em uma cafeteria local.

No fim de semana, decidi investigar. Levei as crianças para a praia, como de costume, e minha amiga Ella foi comigo. Enquanto mostrávamos a carta, Andy gritou:

Vovó, olha! São o papai e a mamãe!

Olhei na direção do café próximo. Vi uma mulher com os gestos idênticos aos da Monica e um homem muito parecido com Stephen. Fiquei paralisada.

Pedi para Ella cuidar dos meninos e segui o casal à distância. Eles caminhavam lado a lado, trocando sorrisos, e entraram numa casa coberta de videiras. Esperei escondida, e, com o coração acelerado, chamei a polícia. Em seguida, toquei a campainha.

A porta se abriu. Monica estava lá. Viva.

Mãe? Como você nos encontrou? — ela sussurrou, pálida.

Stephen apareceu logo atrás dela. As sirenes se aproximavam.

Como vocês puderam? Como abandonaram os próprios filhos? — minha voz tremia de dor e indignação.

Na delegacia improvisada ali mesmo no quintal, eles contaram tudo: haviam encenado a própria morte para fugir de agiotas perigosos. Estavam endividados e desesperados. Acharam que desaparecer era a única forma de proteger os filhos — e a si mesmos.

Não foi fácil deixá-los. Pensamos neles todos os dias. — disse Monica entre lágrimas.

O reencontro com Andy e Peter foi avassalador. As crianças correram, gritando “mamãe” e “papai”, sem entender o que estava acontecendo, apenas sentindo o amor de volta.

Mas a alegria foi breve. A polícia teve que levá-los. Havia consequências.

Mais tarde, sozinha na sala, encarei a carta sobre a mesa: “Eles não se foram de verdade.”

Era verdade. Eles estavam vivos. Mas haviam escolhido ir embora.

Essa escolha me deixou com perguntas sem resposta. Fiz a coisa certa ao chamar a polícia? Ou deveria ter deixado minha filha em paz?

Tudo o que sei é que farei o impossível para proteger meus netos — da dor, da confusão, da verdade… ou da mentira.


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