HISTÓRIAS

No dia em que completei dezoito anos, minha mãe me expulsou de casa. Anos depois, o destino me guiou de volta àquele lugar.

e o que descobri no fogão congelou meu coração.

Desde pequena, Anya se sentia como uma estranha em sua própria casa. A mãe sempre demonstrou mais carinho por suas filhas mais velhas, Vika e Yulia. Anya, por sua vez, era tratada com frieza, como se fosse um estorvo. Ainda assim, ela tentava se aproximar, desejando, ao menos uma vez, sentir-se amada.

No seu aniversário de dezoito anos, a rejeição veio sem rodeios:

— “Nem pense em ficar aqui. Este apartamento é das suas irmãs. E você sempre me olhou como um filhote de lobo. Vá morar onde quiser!”

Anya tentou argumentar. Era injusto. As irmãs tinham estudo pago, moradia, e nunca eram cobradas. Mas nada adiantou. Sua mãe sempre lhe negou amor — algo que só seu avô lhe dava.

Foram dele os verões mais felizes de sua infância, na casa de campo onde ele lhe ensinou a plantar, cozinhar, cuidar dos animais. Mas aos dez anos, Anya o perdeu também. E com isso, o pouco carinho que restava em sua vida.

O tempo passou. Anya conseguiu emprego como auxiliar de limpeza em um hospital. Com esforço, conseguiu uma bolsa para se formar em cirurgia. Dedicou-se ao trabalho, sem amigos, sem família, mas encontrando um propósito nos pacientes que ajudava a salvar.

Aos 27 anos, Grisha, um colega, percebeu sua dor. Com gentileza, disse:

— “Você é bonita, inteligente. Não abaixe a cabeça.”

Ele a ouviu, a consolou, e pela primeira vez em muito tempo, Anya se sentiu vista.

Ela também entrou em contato com Dmitry Alekseevich, um paciente que havia salvo. Ele a convidou para um chá. Na visita, ela desabafou, contou sua história e disse que buscava um trabalho como cuidadora. Ele respondeu:

— “Venha morar comigo. Você me salvou. E posso arranjar um bom emprego para você.”

Anya aceitou. Em dois anos, tornou-se como uma neta para Dmitry. Com o tempo, também se apaixonou por Grisha, e descobriu que estava grávida.

Dmitry, já doente, fez questão de lhe transferir uma casa de campo, dizendo:

— “É sua. Só me prometa que não contará a Grisha.”

Anya ficou surpresa: era a vila onde seu avô havia vivido. Era como voltar para o lugar onde, um dia, ela foi feliz.

Mas a felicidade durou pouco. Uma semana antes do casamento, uma mulher apareceu no apartamento. Era Lena, ex de Grisha.

— “Grisha vai se casar comigo. Ele só tem medo de te contar,” disse com frieza.

Grisha confirmou. Disse que cuidaria da criança, mas não podia continuar com ela.

Partiu o coração de Anya. Ela arrumou as malas e partiu para a casa que Dmitry lhe deixara.

A casa era simples, mas estava abastecida. Anya decidiu recomeçar ali. Porém, ao mexer no fogão, encontrou uma caixa escondida, com seu nome escrito. Dentro, uma carta revelava que Dmitry era irmão do seu avô — e que ela não era filha da mulher que a criara.

Anya era filha da irmã falecida dela, odiada pela mãe adotiva. A foto que encontrou na caixa mostrava seus verdadeiros pais, sorrindo. E mais: havia uma quantia em dinheiro deixada pelo avô, guardada com cuidado.

Ali, no calor do fogão aceso, Anya chorou de alívio. Pela primeira vez, sentiu-se livre.

Ela não era rejeitada. Apenas havia sido vítima de um segredo cruel. Mas agora, com um filho a caminho, uma profissão, uma casa e a verdade nas mãos — ela sabia que recomeçaria com dignidade e força.

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