HISTÓRIAS

A escola me chamou para falar sobre o comportamento do meu filho, mas o zelador me puxou de lado e sussurrou: “Estão mentindo para você” – História do dia.

Cheguei à nova escola do meu filho ansiosa, mas esperançosa. No entanto, bastou o primeiro encontro com a professora para minhas preocupações começarem: “Jacob teve alguns problemas”. Algo no silêncio triste do meu filho, porém, revelava que havia mais por trás daquelas portas do que eu imaginava.

O sol brilhava forte, mas eu sentia frio. Minhas mãos tremiam levemente ao sair do carro e caminhar pela calçada da escola. O ar cheirava a grama recém-cortada e recomeços, mas meus pensamentos estavam longe de qualquer leveza.

Vi Jacob parado próximo à entrada, ombros caídos, mochila arrastando nas costas. Ao lado dele estava a professora, a Srta. Emily — jovem, talvez nos trinta, de blusa azul e um prancheta debaixo do braço. Ela sorria com aquele sorriso educado e forçado que muitos professores treinam ao longo dos anos.

Jacob me viu, mas caminhou lentamente, cabeça baixa. Acenei para ele, tentando animá-lo. Ele não retribuiu.

Ele parecia tão pequeno diante do prédio da escola. Ao chegar ao carro, a Srta. Emily se abaixou e, com um tom adocicado demais, perguntou:

— Jacob, como foi seu primeiro dia na nova escola?

— Foi… foi ok — respondeu, quase sussurrando. Abriu a porta, entrou no carro e fechou sem me olhar.

A Srta. Emily então se dirigiu a mim:

— Senhora Bennett, podemos conversar um instante?

Assenti e saí do carro, com um aperto no estômago. Ela me guiou alguns passos para longe do estacionamento, o som dos seus saltos ecoando no chão. Parou, olhou nos meus olhos e disse:

— Jacob teve… algumas dificuldades hoje.

Endireitei a postura.

— É o primeiro dia dele. Ele só precisa de tempo. Acabamos de nos mudar. Tudo é novo: a casa, os colegas, os professores… e somos só nós dois. É muita coisa para uma criança lidar.

Ela assentiu, mas seus olhos não transmitiam empatia.

— Compreendo. Mas ele teve dificuldades com o conteúdo e houve conflitos com outras crianças.

— Conflitos?

— Discussões. Um aluno disse que Jacob se recusou a compartilhar. Outro disse que ele empurrou durante o recreio.

— Isso não combina com ele. Ele é tímido, não agressivo. Nunca teve esse tipo de problema.

— Tenho certeza de que é um bom menino — disse ela com um tom neutro. — Mas talvez ele não se adapte a essa escola.

Senti um nó na garganta.

— Por favor… ele só precisa de tempo. Sempre se ajusta. Só precisa de paciência.

Ela hesitou por um instante, depois balançou a cabeça levemente.

— Veremos — disse, antes de se virar e ir embora.

Fiquei parada, encarando as janelas da escola, imóveis e escuras. O que havia realmente acontecido ali dentro?

Entrei no carro. Jacob olhava pela janela, em silêncio. O peito apertava. Algo não estava certo, eu sentia isso.

— Como foi seu dia? — perguntei suavemente.

Ele suspirou profundamente, um som pesado demais para um menino de oito anos.

— Eu tive medo — disse baixinho. — Ninguém falou comigo, mamãe.

— Aconteceu alguma coisa? Disse algo que possa ter incomodado alguém?

Ele balançou a cabeça, ainda olhando pela janela.

— Não. Eu não fiz nada. Só… só sinto falta dos meus amigos. A gente não pode voltar?

Sua voz falhou. Meu coração partiu naquele momento.

— Eu também queria, filho… mas este trabalho é importante. É o que nos ajuda a ter uma vida melhor.

Ele não respondeu, apenas continuou olhando a estrada.

— Você pode prometer que vai tentar de novo amanhã?

Ele assentiu, de má vontade.

Na manhã seguinte, o deixei na escola com um sorriso e um incentivo para ser corajoso. Ele não disse uma palavra, apenas segurou firme a lancheira.

Mais tarde, enquanto mostrava uma casa para um casal, meu telefone tocou. Era a Srta. Emily.

— Sra. Bennett, houve um incidente grave com Jacob. Por favor, venha imediatamente.

— O que aconteceu?

— Explico quando a senhora chegar.

Saí correndo da casa, pedi desculpas ao casal e dirigi direto para a escola com o coração na garganta.

Ao chegar, estacionei e já saía do carro quando ouvi:

— Susan?

Virei e vi Mark — meu ex-marido, pai de Jacob — parado ao lado da cerca da escola.

— Mark? O que você está fazendo aqui?

— Eu que deveria perguntar. Você se mudou pra cá?

Assenti.

— Não quis causar confusão. Na época não achei importante contar.

— Você deveria ter me avisado. Eu tenho o direito de saber onde meu filho está.

— Eu sei. Só… não queria te ver aparecendo de surpresa na escola. Ele já está passando por muita coisa.

— Não é justo. Mas… eu entendo.

Ele então acrescentou:

— Estou saindo com alguém que trabalha aqui. Incrível como o mundo é pequeno, né?

Senti um arrepio. Meu corpo se enrijeceu.

— Muito pequeno mesmo — murmurei.

— Acho melhor eu te deixar ir.

— Sim, falamos outro dia.

Entrei no prédio com a cabeça girando.

Os corredores estavam silenciosos, o ar parado, o cheiro de desinfetante no ar. Conforme me aproximava da diretoria, minha mente não parava: o que Jacob poderia ter feito?

Antes de abrir a porta, uma voz atrás de mim disse:

— Sra. Bennett?

Virei assustada. Era o zelador, um homem de meia-idade com olhos gentis.

— Eu… talvez não devesse dizer isso, mas… estão mentindo pra senhora. Seu filho não fez nada. A professora, a Srta. Emily, armou pra ele.

Meu sangue gelou.

— O quê?

Antes que pudesse perguntar mais, a porta se abriu.

— Sra. Bennett — disse o diretor —, entre, por favor.

Dentro da sala, Jacob estava sentado, nervoso. A Srta. Emily ao lado, com expressão séria.

— Seu filho falsificou as respostas de uma prova — disse o diretor. — Isso, somado aos comportamentos anteriores, nos leva a considerar a suspensão… ou até expulsão.

— O quê?! Jacob nunca faria isso!

— A letra é dele — disse Emily friamente.

Antes que eu pudesse responder, Jacob explodiu:

— Mãe, ela mandou eu fazer isso! Ela me deu o lápis e disse pra corrigir!

— Silêncio, Jacob! — gritou Emily.

— Não fale assim com meu filho — retruquei, furiosa.

Nesse momento, a porta se abriu. Era Mark.

— Desculpem… Emily?

Ela se enrijeceu.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou ele, confuso.

Naquele instante, tudo fez sentido.

Emily. A professora. A mulher com quem Mark estava saindo.

Meu coração se apertou. Aquilo era pessoal.

Olhei para o diretor e disse:

— A Srta. Emily está namorando meu ex-marido. E está tentando prejudicar meu filho por causa disso.

O silêncio tomou a sala.

Mark olhou para Emily, perplexo.

— Emily… é verdade?

Ela hesitou. Seu rosto corou.

— Sim. Eu sabia quem ele era. Susan, você não pode simplesmente aparecer e tirar o Mark de mim.

Mark recuou.

— Emily, você nunca teve esse direito. E envolver meu filho nisso? Isso é cruel.

O diretor se levantou, sério.

— Srta. Emily, seu comportamento é inaceitável. Está demitida. Imediatamente.

Suspirei de alívio.

— Sra. Bennett — disse o diretor —, peço desculpas sinceramente. Jacob continuará aqui e receberá todo o apoio necessário.

Ajoelhei ao lado de Jacob e o abracei forte.

— Me desculpa, meu amor. A partir de hoje, vou sempre acreditar primeiro em você.

— Tudo bem, mamãe. Agora você sabe a verdade.

Mark se aproximou e disse baixinho:

— Me desculpa. Eu não fazia ideia.

— Talvez, um dia, a gente consiga resolver tudo. Por Jacob.

Lá fora, o sol brilhava. Jacob apertou minha mão, e eu a dele.

Caminhamos juntos até o carro. Em silêncio. Mas certos de que, no fim, íamos ficar bem.

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