A Verdade Que o Síndico Revelou

O síndico quis me despejar do apartamento, alegando que eu não pagava o aluguel — embora eu entregasse o dinheiro ao meu neto todos os meses.
Nunca imaginei que, aos setenta e dois anos, acabaria deitando minha cabeça em uma cama estreita de um abrigo.
Passei a vida inteira trabalhando honestamente, sempre pagando as contas em dia e cuidando da minha casa.
Nunca fui rica, mas sempre houve o suficiente para viver com dignidade e paz.
Quando meu marido faleceu, decidi vender a casa da família e alugar um apartamento menor na cidade — mais perto do hospital, pois, nessa idade, cada minuto conta.
Entreguei a antiga casa ao meu neto por um valor simbólico. Ele era tudo o que me restava: minha filha havia falecido dois anos antes, aos quarenta e três, depois de uma longa doença.
Meu neto dizia que cuidaria de mim, porque eu “não entendia dessas coisas modernas”.
— “Vovó, deixa comigo. Me entrega o dinheiro todo mês, que eu pago o aluguel online.”
E eu confiei. Afinal, era sangue do meu sangue.
Todo mês, na primeira semana, eu colocava o dinheiro em um envelope e entregava a ele. Às vezes até deixava um pouco a mais, caso houvesse algum aumento.
Mas na semana passada, o síndico bateu à minha porta.
Estava constrangido, segurando papéis.
— “Dona Helena, o aluguel não foi pago há três meses. Já tenho um novo inquilino. A senhora precisa desocupar o apartamento até o fim de semana.”
Fiquei paralisada, de chinelos, com o velho cardigã sobre os ombros.
— “Mas… eu entreguei tudo ao meu neto. Todo mês.” — murmurei.
Ele apenas suspirou e balançou a cabeça.
Naquela noite, fiz minha pequena mala: algumas roupas, remédios e a foto da minha filha num porta-retrato. Pedi para os carregadores levarem o restante das coisas para um depósito.
Foi assim que acabei num abrigo para mulheres.
A cama rangia, o cobertor era curto, e o frio parecia vir de dentro da alma.
No dia seguinte, liguei para meu neto.
Ele respondeu sem hesitar:
— “Vovó, eu paguei tudo. Deve ter sido erro do síndico.”
— “Posso ficar alguns dias com vocês até resolver isso?” — pedi, com voz fraca.
— “Ah, vovó, a casa é pequena… o quarto de hóspedes já está ocupado.”
Fiquei em silêncio. O coração doía mais que o corpo cansado.
Na manhã seguinte, enquanto tomava o café do abrigo, alguém bateu na porta.
Era a esposa do meu neto, pálida, trêmula, com uma pequena bolsa nas mãos.
— “Preciso lhe contar algo, dona Helena…” — disse, com lágrimas nos olhos.
Sentei-me na beira da cama, o coração acelerado.
Ela respirou fundo e continuou:
— “O dinheiro que a senhora dava… ele nunca pagou o aluguel. Ele usava pra jogar e apostar. Eu tentei impedir, mas ele me ameaçou. Ontem ele perdeu tudo. E quando o síndico veio cobrar, ele mandou eu ficar quieta.”
Por um instante, tudo pareceu parar.
O chão desapareceu sob meus pés.
— “Então… fui enganada pelo meu próprio neto?” — murmurei, com a voz embargada.
Ela apenas assentiu e colocou o envelope em minhas mãos.
— “Este é o que sobrou. Ele foi embora esta manhã. Disse que não voltaria.”
Chorei em silêncio. Não por causa do dinheiro — mas pela certeza de que o amor, às vezes, se perde onde menos se espera.
Dias depois, o síndico foi até o abrigo.
Disse que, ao saber de toda a história, o novo inquilino desistira do contrato.
— “A senhora pode voltar para o apartamento, Dona Helena. Vamos resolver os atrasos juntos.”
Voltei para casa com um aperto no peito, mas também com um sentimento novo: de recomeço.
Decidi que, dessa vez, cuidaria pessoalmente de tudo — sem intermediários.
E, todas as noites, antes de dormir, olho para a foto da minha filha e sussurro:
— “A vida é frágil, minha filha… mas enquanto houver fé, sempre haverá um lar.”



